Gavin se aproximou, a preocupação estampada em seu rosto.
“Alfa Kane, ela ainda está viva?” perguntou, colocando o ouvido sobre o peito dela para verificar os batimentos cardíacos. No começo, não ouviu nada, mas depois pressionou com mais força e escutou um leve som. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios.
“Alfa, ela precisa de tratamento adequado. O que fazemos?” Gavin perguntou com urgência.
“Vamos levá-la de volta para a matilha”, respondeu ele, farejando o ar.
“Pelo cheiro, posso dizer que ela é da matilha Lua de Sangue”, disse o Alfa Kane.
“Beta Gavin, coloque-a nas minhas costas”, ordenou ele.
Os olhos de Gavin se arregalaram. O Alfa nunca permitia contato físico com ninguém, muito menos com uma estranha. Ele se perguntou o porquê, mas obedeceu rapidamente.
“Felizmente, estamos indo nessa direção”, comentou Gavin.
O Alfa apenas assentiu, tomando a dianteira enquanto os outros o seguiam.
Ao chegarem ao território da matilha, os guardas da fronteira se afastaram imediatamente. A reputação do Alfa Kane o precedia.
Ele não era apenas um alfa, ele era o Alfa Supremo, o líder de todas as sete matilhas. Sua presença impunha respeito instantâneo.
“Bem-vindo, Alfa”, eles disseram em uníssono, com as cabeças abaixadas.
“Leve-me até o curandeiro da matilha”, ordenou Kane.
Um dos guardas deu um passo à frente para guiá-lo, mas seus olhos quase saltaram das órbitas ao ver a garota inconsciente nas costas de Kane. O Alfa percebeu sua reação imediatamente.
“Guie o caminho”, disse ele, sem deixar espaço para hesitação.
O guarda se virou rapidamente e começou a andar. Gavin chamou os outros.
“Esperem por nós aqui.”
“Quem é ela? Percebi pela sua reação que você a conhece.”
“S-sim, Alfa”, gaguejou o guarda. “Ela é Maya, a segunda filha do Beta da matilha. Mais cedo hoje, durante a cerimônia de coroação, ela foi rejeitada pelo nosso Alfa porque… tem um lobo fraco.”
O coração de Gavin se apertou.
“Isso explica por que ela estava fora do território da matilha e quase foi devorada por renegados”, murmurou Gavin, fazendo o guarda arregalar os olhos.
Gavin apressou o passo para acompanhar o Alfa Kane, mantendo os olhos fixos na forma inerte de Maya, que balançava levemente a cada passo dele.
O guarda empurrou a porta da cabana do curandeiro, e o cheiro forte de ervas encheu o ar. Uma mulher idosa surgiu, mas congelou ao ver o temido Alfa em sua pequena cabana.
“Sejam bem-vindos, meu Alfa e Beta”, ela cumprimentou com uma reverência, as mãos trêmulas.
“Cuide dela. Está gravemente ferida e perdeu muito sangue”, ordenou Kane.
A mulher engasgou ao reconhecer Maya e imediatamente começou a trabalhar, as mãos tremendo enquanto examinava o ferimento.
“Isso está além das minhas habilidades”, sussurrou, lançando olhares nervosos para o Alfa Kane.
Maya, que oscilava entre a consciência e o desmaio, ouviu aquilo.
Deusa da Lua, por favor, salve-me. Eu não quero morrer, orou em silêncio.
“O que você disse?” Os olhos de Alpha Kane se estreitaram. Sua voz baixa e ameaçadora fez a curandeira estremecer.
“Escute bem, mulher. Faça o que for preciso para trazê-la de volta à consciência. Amanhã virei buscá-la. Se ela não estiver acordada, você sabe o que isso significa”, disse ele, deixando suas palavras penetrarem profundamente.
“Vamos”, ordenou, e o guarda rapidamente tomou a dianteira.
Enquanto isso, na casa da matilha, o aroma de carne assada pairava no ar, misturado ao som de risadas infantis.
Zara sorria de orelha a orelha, carregando-se com um ar de orgulho.
Tornar-se Luna sempre fora seu desejo, e ela havia feito de tudo para que isso acontecesse. Por um instante, seus pensamentos voltaram-se para Maya, e seu sorriso vacilou, mas logo se recompôs, com os olhos brilhando de triunfo e desprezo.
Ela devia estar sofrendo muito após ser rejeitada pelo companheiro, mas Zara não se importava.
“Maya é uma perdedora, afinal”, murmurou com uma risadinha.
Ainda sorrindo, ela viu sua mãe se aproximar.
“Zara, você viu Maya?”, perguntou a Sra. Rhea, a preocupação estampada no rosto.
“Não, mãe. Talvez tenha se escondido, incapaz de suportar a vergonha da humilhação pública”, respondeu Zara, distraída.
“Oh, pobre Maya”, suspirou a mãe, afastando-se.
Zara revirou os olhos.
Não importa o que aconteça, Maya sempre estará abaixo de mim. Já fui longe demais para voltar atrás, e tenho certeza de que a Deusa da Lua está do meu lado.
Levantando-se, foi se juntar aos outros na comemoração. Risadas, taças tilintando e música alta a cercaram como uma coroa. Ela mergulhou na bebedeira até o mundo ao seu redor desaparecer e ficar completamente embriagada.
Enquanto isso, na cabana do curandeiro, a mulher recolhia os ingredientes necessários enquanto a poção fervia no fogão.
Quando terminou, apagou o fogo e despejou a poção em uma tigela. Segurando-a em uma mão e ervas frescas na outra, espremeu as folhas sobre o ferimento de Maya, mas a garota não se mexeu.
Ela pressionou com firmeza.
“Por favor, Maya, acorde… não quero ter problemas com o Alfa”, implorou a curandeira, quase chorando.
Pegou uma pequena quantidade da poção e forçou-a pela garganta de Maya.
Esperou dois minutos, mas nada aconteceu. Estava prestes a desistir quando Maya espirrou.
A curandeira deu um pulo.
“Maya, você consegue me ouvir?”, perguntou com esperança na voz.
“Atchim!”, Maya espirrou novamente, tentando se sentar, mas a dor em sua perna a fez deitar de novo.
“Onde estou?”, perguntou fracamente, olhando ao redor.
“Calma, Maya, você está segura aqui. Agora que está acordada, vamos continuar o tratamento”, disse a curandeira, e Maya assentiu.
Ela ajudou Maya a sentar-se, tomando cuidado para não tocar no ferimento.
“Aqui, beba isto”, disse, entregando-lhe um copo.
Maya pegou-o com as mãos trêmulas.
Ela levou o copo aos lábios, mas parou no meio do caminho, o cheiro forte misturado ao vapor a fez querer vomitar.
“Beba, Maya. Não quero provocar a ira do Alfa Supremo”, disse a curandeira, meio suplicando, meio ordenando.
Maya tomou um gole e fez uma careta. Quase cuspiu, mas o olhar da curandeira a fez mudar de ideia.
“Vou ter que te banhar com o restante da poção, isso vai ajudar o ferimento a cicatrizar mais rápido… sabe, já que o seu lobo não é tão forte quanto o dos outros”, a curandeira murmurou, um pouco constrangida.
“Todos fazem questão de me lembrar que tenho um lobo fraco”, disse Maya, com um toque de amargura na voz.
“Não foi isso que quis dizer, Maya”, tentou explicar, mas Maya não quis ouvir.
“Não gosto de tomar banho do lado de fora. Não posso ir pra casa?”
“Somos só eu e você, Maya. E eu sou uma mulher como você, não se preocupe, não vai demorar”, tranquilizou a curandeira.
“Está bem”, murmurou Maya.
A curandeira ajudou-a a tirar o vestido, mas quando seus olhos pousaram no corpo nu de Maya, ela ficou em choque.
“Pelo amor da Lua… quem fez isso com você, Maya?!” exclamou horrorizada.