Capítulo 5. Família

Zoren intuiu que Demétrio tinha algo a ver com o sumiço da irmã ou sabia de algo que não contou e o remorso o corroía por dentro.

— Foi aí que você sentiu falta dela e iniciou a procura? — perguntou o Alfa para Shirley, novamente.

— Não imediatamente, como disse, estava cozinhando, então, primeiro olhei a comida e depois fui chamá-la para comer e então não a encontrei, saí de casa nervosa, falei com Demétrio, perguntei onde ele a deixou   e ele disse que eles estavam escorregando na neve e vieram embora. Mas ela não estava em lugar algum, a minha menininha… — Begai a abraçou, tentando confortá-la, mas as lágrimas corriam pelo seu rosto.

— A culpa foi minha,  Alfa. Eu fui culpado pelo sumiço da minha irmã. — falou Demétrio desesperado.

— Calma, meu filho, não se culpe, você só tinha dez anos, também era uma criança — consolou Begay, ao seu filho.

— Não! Vocês não entendem? Eu abandonei minha irmã sozinha na neve — abaixou a cabeça, chorando desesperado.

Nesse instante, Shirley levantou o rosto molhado do peito do marido, para olhar para aquele homenzarrão chorando desesperado.

— O que foi que disse, meu filho, você abandonou a sua irmã sozinha na neve? Como? Você disse que ela voltou com você. Conta isso direito, por favor, filho. — pediu sua mãe.

Demétrio limpou o rosto na manga da camisa e começou a contar o que realmente aconteceu:

— Naquele dia, fomos todos brincar, como mamãe contou, mas quando o tempo virou, todos vieram embora, então chamei Avenise e ela pediu para descer só mais uma vez e eu disse não, virei-me e saí andando, achei que ela estava vindo atrás de mim. Quando cheguei perto de casa, me distraí com os meninos jogando bola e não vi que ela não havia vindo também. — baixou a cabeça desesperado, parecia desabafar tudo que guardou por todos aqueles anos.

Shirley se agarrou no companheiro e chorou mais ainda, chorou pelos dois filhos e por sua família quebrada.

— Sei que isso tudo foi terrível, mas preciso que se acalmem e me escutem com atenção, por favor. — Aos poucos eles foram se acalmando, Shirley e Demétrio se retiraram para lavar o rosto e voltaram para a sala.

— Estão todos bem? Podemos continuar? — Todos consentiram com a cabeça.

— Todos vocês acompanharam o problema com os caçadores, Demétrio participou da perseguição a eles e os encontraram mortos. Trouxeram o despojo que encontraram no acampamento e … — Demétrio interrompeu.

— É isso, o cheiro da fêmea, era o cheiro da minha irmã — falou num salto — eu reconheci o cheiro, mas não lembrei de quem era e agora, com todas essas lembranças, eu reconheci o cheiro, era ela, ela esteve lá.

Zoren não precisava que contassem a história, agora que ele estava contando e não deu atenção a Demétrio.

— Continuando: ontem eu peguei parte do despojo e fui levar para o Uchôa, pois a Blanca estava para dar a luz. Se aquiete Demétrio e escute. — o jovem não parava no lugar — Cheguei lá na hora certa para ajudar Blanca a dar a luz e quando a ultima filhote nasceu, uma fêmea entrou pela porta e reconheci minha companheira. 

— Sua companheira, mas o que tem isso a ver com a minha irmã? — Demétrio, nervoso, continuou a andar de um lado para o outro, parecendo que ia esganar alguém.

— Aí é que está, ela praticamente me rejeitou e quando viu o que eu tinha levado, pensou que era eu no acampamento, então descobri que foi ela que matou os caçadores. Entendeu agora, Demétrio? Vocês compreendem que minha companheira pode ser a filha de vocês?

Todos ficaram estáticos, tampando a boca aberta com as mãos. Demétrio caiu sentado de volta ao sofá, e o casal se abraçou, sem saber o que dizer.

— Tem mais, — eles se voltaram para o Alfa — ela mora em uma cabana miserável lá no alto da montanha, na Floresta dos Pinheiros, seu nome é Ava e não aceita família, companheiro, nem Alcateia. Parece que seus únicos amigos são Uchôa e Blanca e desconfio que Arlon a conhece bem. Por isso, quero que subam lá comigo para vê-la.  

Terminou de falar e esperou que eles concordassem, para irem a buscar, porque ele não permitiria que ela ficasse, nem mais um dia, lá em cima sozinha.

*

Sem aginar o que estava acontecendo na aldeia, Ava levantou cedo e foi até certo ponto da floresta, para verificar as armadilhas que colocou, afinal, ela precisava comer outra coisa além de sopa. 

Infelizmente ou não, ficou sem o despojo dos caçadores, mas gostou de ver que o Alfa tinha consciência e compartilhou uma parte com a família de Uchôa.

Entrando na floresta, logo encontrou suas armadilhas. Em uma delas, tinha um alce preso que parecia fraco e magro pelo inverno, mas sua carne daria para alguns dias, foi uma bela caça. Só aquele estava ótimo, mas em outra havia um fradinho e Ava estranhou que aquele pássaro, também chamado de papagaio do mar e que vive nas rochas próximo ao mar, estivesse perdido por ali.

Algo estava muito estranho pelo território que sempre foi tranquilo e de repente, foi invadido e saqueado, deixando a natureza em conflito. Mas agora não podia fazer nada pelo pobre pássaro, só uma canja. Desarmou as armadilhas, colocou o pássaro na mochila e ajeitou o alce nos ombros com as pernas para frente.

Iniciou o retorno para casa e ainda no caminho, ouviu o barulho de um carro, não entendia muito de modelos, mas parecia o carro do Alfa. Apressou o passo, embora fosse difícil, carregando o peso do alce e com a neve fofa, mas conseguiu chegar rápido a sua cabana. Levou o alce para os fundos e tirou a ave da mochila.

Entrou e avivou o fogo da lareira, colocando água no caldeirão e pendurando para esquentar. Na verdade, a água era neve derretida e a lareira lhe servia de fogão, pois não tinha um. Mas se virava bem com o que tinha. Teria bastante trabalho, então iniciou logo.

Levou mais de uma hora, limpando e cortando as partes do alce, principalmente por estar quase completamente congelado. Acondicionou em uma caixa com neve e pegou duas pernas que separou e embrulhou em saco plástico, para levar para Uchôa. A esse tempo, o alfa ou seja lá quem for, já deve ter ido embora. Mas primeiro limparia a ave.

***

Zoren subiu a montanha de neve, com a família de Ava. Primeiro foi conversar com Uchôa para ver o que ele sabia sobre a história de Ava. Shirley também queria visitar Blanca e ajudar em alguma coisa. É claro que todos estavam ansiosos e apreensivos com o reencontro com a pequena, mas disfarçaram muito bem.

Chegaram lá e Zoren bateu na porta suavemente, para não assustar os bebês. Uchôa logo atendeu.

— Bom dia, Alfa, quanta visita — falou com um sorriso — entre, dona Shirley, Blanca tá banhando os filhotes e não é fácil.

— Pode deixar que vim para ajudar e trouxe um bolo e biscoitos caseiros, tome, leve pra cozinha — falou Shirley, entregando duas sacolas. 

Ela entrou na cabana e foi até o quarto e fechou a porta atrás de si. Os, homens sentaram à volta da mesa na sala e Zoren iniciou a conversa que o interessava:

— Você deve ter percebido, ontem, que Ava é minha companheira, mas ela foi bem arredia e acredito que seja a filha de Shirley e Begay, que desapareceu a 14 anos — iniciou a explicar, Zoren.

— Não sabia dessa história, quantos anos tinha a menina? — perguntou o shifter de urso.

— Seis anos — falou Begay.

— Nossa, pode ser ela mesmo — confirmou Uchôa.

— O que você pode nos contar? — Pediu o Alfa.

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