A sala onde fiz a primeira parte da entrevista era ampla demais para uma simples conversa de emprego. As paredes tinham uma cor clara, elegante, e a iluminação era suave, como se cada lâmpada tivesse sido ajustada para não deixar ninguém desconfortável. Mas eu me sentia desconfortável. Muito.

Lígia Moretti sentou-se à minha frente com um tablet nas mãos, folheando meu currículo como se fosse a coisa mais natural do mundo alguém como eu estar ali, sentada naquela cadeira estofada, em um prédio onde tudo custava mais do que a minha casa inteira.

Eu tentava não tremer, tentava manter a respiração firme, tentava acreditar que merecia estar ali. Mas havia algo errado. Eu sentia. Era uma intuição quase física, como se a pele dos meus braços reagisse ao ar da sala. E quando uma sensação tão forte aparece sem explicação, alguma coisa por trás dela existe.

Lígia fazia perguntas gentis, simples, diretas. Sobre minha experiência com crianças, sobre minha formação, sobre o motivo de ter saído do