EULÁLIA— Sim. Eu quis vir com ele. Fiquei surpresa por vê-lo só agora. — Compartilhei minha esperança de conseguir amizade com o ômega.— Não se aproxime demais dos outros lobos. — Disse Wulfric, me estendendo a mão.“Um conselho? Suponho.”Olhei na direção de Reymond, ele tinha as bochechas meio coradas pela minha atenção naquele momento meio constrangedor. Imediatamente, voltei o olhar para meu companheiro, que apertava os olhos de modo que o aro avermelhado ficava mais visível que o cinza.— Espero que não seja um flerte. — Disse muito sério quando segurou minha mão.Devia ser um alerta, para ambos. Apenas ri, mas Reymond respondeu por mim rapidamente:— Eu jamais me atreveria, sua majestade!Com a mão envolta dos dedos de Wulfric e o ômega atrás, chegamos ao escritório.— Pode falar. — Disse Wulfric, sério, sentando-se comigo no sofá enquanto indicava a poltrona à nossa frente.Reymond não desviou o olhar dele ao responder:— A alcateia de Kall está instável, mas sobrevivendo.N
EULÁLIA Agora fazia sentido seu sumiço por todo aquele tempo. — William está preso? — me vi perguntando de repente. — Não foi de imediato. — Wulfric pareceu desinteressado, mas os nossos olhares sobre ele o fizeram respirar fundo e se levantar, indo até o outro lado da mesa do escritório, de costas para a estante recheada de livros. — William foi imprudente ao “improvisar” os cortes. Ele não deveria ferir tão profundamente. Isso criou cicatrizes permanentes porque ele é o Beta, que está acima de Reymond. — Indicou com a mão o próprio ômega, me explicando com o olhar cada palavra que dizia. — O Supremo o puniu? — meus lábios soltaram minha curiosidade. — Foi preciso. Não queria nem imaginar como deveria ser uma punição vinda das mãos de Wulfric. Principalmente por recordar o quão rápido ele matava. Reymond ficou em silêncio. — Entendi. — murmurei. — E Garren? — Wulfric tomou a palavra. — Ainda igual. — De repente Reymond pareceu recordar-se de algo. — A invasão p
EULÁLIALá estava eu, vestindo-me a caráter, porque o meu companheiro aconselhou. Não era para um baile, ao qual eu nunca tinha ido. Não era uma festa. Não era apenas para ficar bonita para o rei.Era porque, no mesmo dia em que Reymond havia voltado, descobri o resultado de toda a investigação que me envolvia. Wulfric deixou transparecer, depois, que sabia sobre os pensamentos dos seus súditos, do conselho e de todo o resto.Enquanto me encarava, decidindo se deixava ou não meus cabelos longos soltos, como estavam agora — caindo vermelhos sobre o vestido longo azul-cobalto com detalhes dourados, que fora presente do meu companheiro, recordei quando ele me deu passe livre para participar do que aconteceria hoje. Isso aconteceu naquele dia, enquanto estávamos na escada.— E é por isso que quero que esteja na próxima reunião. Não como ouvinte. Vai sentar à mesa.— Com os alfas? — perguntei o que pensava; não faria mesmo diferença abrir ou não a boca.— É isso que quer de mim?Wulfric as
EULÁLIAWulfric inclinou levemente a cabeça, apertou os olhos, encarando-o.— É assim que todos pensam? — sua voz soou tão comportada, tão plena e baixa, que arrepiou minha pele, como se soasse uma ameaça disfarçada.Tantos olhares foram trocados, os murmúrios começaram, Wulfric assistiu a tudo com paciência. Porém, ninguém falou. Então encarou mais firme o lobo mais velho que havia falado.— O que é ser parte da hierarquia para o alfa, Sanchers?O lobo me lançou um olhar desconfiado e então voltou-se para o Supremo.— São as posições que ocupamos. Elas são a hierarquia.— Foi o que perguntei, suponho. — Wulfric foi grosso. Irônico.— Não.Nesse exato momento, as portas da sala se abriram e fecharam novamente. William havia passado por elas e agora caminhava, meio cansado, na direção de seu alfa.— Peço perdão por atrapalhar! — disse ele, em alto tom.Mais murmúrios soaram. A grande maioria era de insatisfação por o Beta ter chegado atrasado, quando Wulfric era o único que poderia.Wu
EULÁLIA“Licaon foi o primeiro lobisomem da história, segundo as lendas gregas. Ele ousou cozinhar a carne de um escravo para oferecê-la a Zeus e, como punição, o deus o amaldiçoou. Desde então, ser um lobisomem sempre foi visto como uma maldição.”“Agora somos sinônimos de poder.”Aquela seria a noite em que minha vida mudaria, não que eu soubesse se seria uma mudança boa ou ruim.— Estão invadindo… — foi tudo muito rápido.O novo Beta da matilha Sangue Azul me puxou pela mão para longe de toda a confusão. A princípio, acreditei que seria pela posição de Luna que meu namorado havia prometido.— Por aqui. — Ele me levou rumo à floresta.— Mas eu posso ajudar as mães e crianças desamparadas se estiver lutando junto com todos.— Sua segurança é mais importante. E são ordens diretas.— De Ciro? — perguntei, seguindo-o. Ele ainda me puxava com pressa.— Sim.Meu sorriso ampliou. Por dentro, estava muito feliz por ele não estar mais estranho como antes.“Ele está me protegendo.”Acompanhei
EULÁLIALutei como podia, até perceber que ele queria me matar de verdade. Por isso, tive que empurrá-lo com tudo que tinha e pular de pé, mesmo machucada. Capturei a adaga que tinha no bolso da calça e encarei Ciro em sua forma de lobo, agora maior que antes, e sua suposta verdadeira namorada.— Por que está me atacando? — quase gritei. Ele, por sua vez, apenas me rondou.“Eles sempre planejaram me eliminar depois da ascensão de Ciro ao cargo de Alfa. Mesmo tendo sido eu a ajudá-lo a ganhar uma boa imagem.”— Porque você é a traidora, aquela que chamou os inimigos e fez o pai dele morrer antes da hora. — Era Rosalina falando por ele novamente.— Você não sabe mais falar, não? Só essa v***a aí? — explodi.Tudo estava se encaixando, e isso me deixava muito brava. Eu era o alvo de todos, principalmente daqueles dois. Então, recordei que o Beta foi o mesmo que entrou correndo, dizendo que estávamos sendo atacados, e foi ele quem me levou até ali, para esperar por meu suposto namorado.—
EULÁLIA — Você é uma loba bonita e fértil, mas só serve para isso, procriar. E eu nunca seria louco de me deitar com você para ter lobos ruivos. Lobos estranhos. Quando tenho minha companheira de verdade. Engoli o gosto da decepção. Eu era uma loba que não podia deitar-se com qualquer um; diziam que deveria ser apenas de um alfa, para procriar e elevar o nível da matilha, mas essa era a parte em que eu nunca contei a Ciro. Ele só sabia que eu era uma loba para ter filhos e não alguém dita como especial. — Eu sou especial. — Digo com os olhos cinzas já injetados de raiva. — Claro que é. Nunca achou seu par e não vai achar. Não era por isso que estava comigo? — Riu da minha fraqueza, magoando-me profundamente. Uma vez, aquele mesmo oráculo que me disse sobre meu modo especial também me disse que alguém como eu não tinha um par, que não tinha um companheiro de nascença. Só restava ter um de sangue, algo como uma segunda chance. Mas era quase impossível. — Eu ainda tenho uma chance
“Quem se disfarça tão bem quanto um humano?” Meu coração batia forte no peito, eu tentei me afastar, mas meus pés quase tropeçaram. Naquele nível, eu só cairia e atrairia toda a atenção indesejada para mim.— Quem é você? — perguntei, assustada.Desta vez, olhei ao redor e todos não passavam de meros humanos, incluindo a pessoa que os servia bebidas, menos aquele homem. Minha espinha arrepiou.— A pergunta é minha. Você que é nova aqui. — Senti que sua última frase soou uma ameaça disfarçada.“Ele não é um lobo comum.” Gravei rapidamente suas características enquanto dava passos vacilantes para trás.Eu nunca ouvi falar dele. Mas era notório que não deveria estar com ele.— Eu peço desculpas… Estou indo… — me virei para partir, mas a voz dele me parou, não soou audível para ninguém, só para mim.“Acha que pode escapar de mim?” Fiquei paralisada, sua voz estava na minha cabeça, aquilo era impossível.Eu já estava convencida de que minha forma e a forma de todos os lobos era uma maldiçã