EULÁLIA — Se eu quisesse matá-la, já teria feito. Sem mais delongas. — E por que não fez? — Escolhi algo para comer. — Porque ainda não sei se prefiro vê-la viva ou morta. Ou apenas fora dos limites deste castelo — respondeu com naturalidade. Aquilo não me ofendeu. Na verdade, fez minha curiosidade aflorar. — E eu nem poderia querer — murmurou. “Então eu tenho mesmo um pouco de influência sobre ele.” Ele virou-se de costas, como se a conversa estivesse encerrada. E, por um instante, pensei que fosse sair. Então se voltou para mim, assistindo à maçã chegar perto dos meus lábios. “Seria uma coisa muito estúpida lembrar da Branca de Neve agora, William.” Eu mesma recordei, mas ainda assim dei uma mordida na maçã. — Haverá um julgamento secundário. — Tem a ver comigo, suponho. — Um dos guardas foi acusado de passar informações aos rebeldes — disse casualmente. — E? — Ele jurou ter ouvido de uma loba do seu clã que havia um plano para que você fugisse daqui antes do j
EULÁLIANaquele dia, eu estava pisando novamente no salão que nunca foi acolhedor para mim. O salão de julgamento não era o mesmo salão de festas, de banquete ou do trono.Havia outro trono ali, mas era o lugar de um rei juiz, não apenas um rei. O brasão do reino em alto-relevo atrás do assento de Wulfric, tudo permanecia igual.Tudo, exceto a forma como me olhavam. Hoje, eu não era mais acusada. Mas tampouco estava livre.Além do meu companheiro, vestido de negro e dourado - entre sapatos, calça negra, camisa social e uma longa capa negra com detalhes dourados bordados nas suas extremidades.Ele estava perfeito, apesar das cores que carregava. Seus olhos de duas cores me atraíam como nunca, tanto que eu quase sussurrei um “olá” de forma íntima. Me contive.Nossos olhos se prenderam por um instante, até que eu fiz uma reverência leve, aceita por todos, já que eu era a companheira do Supremo, e todo o conselho tinha conhecimento disso.“Por que só o estou vendo agora?”, choraminguei em
EULÁLIATodo o ar mudou, era a voz de Wulfric, interrompendo o momento para reforçar sua presença inesquecível.Naquele momento, eu não disfarcei como relaxei imediatamente, troquei olhar com o supremo por meros dois segundos, mas foi o suficiente para os dois ao lado perceberem.Rosalina, como sempre, não se conteve em murmurar para o companheiro suas descobertas de forma venenosa.— Ela é louca, como pode olhar assim para ele diretamente? Certamente está desejando a morte.Ciro sussurrou algo e ela respondeu:— O supremo não aceitaria uma criminosa ou comum como ela, só por ser uma loba sem destinado… — Se eu, mesmo perto deles, conseguia ouvir, ela não pensou que o supremo poderia ouvir também?“Ela não vê que estamos em um julgamento?” A encarei, evitando colocar a imagem do seu companheiro na frente dos meus olhos, borrei seu rosto na minha mente e esperava que aquilo funcionasse na vida real.O vestido azul acinzentado abraçava sua silhueta, manteve o queixo erguido, denunciando
EULÁLIA— Mas nem podemos nos defender. — Rosalina disse com pressa e receio.Mas tentou disfarçar, fingindo nervosismo por considerar não ter voz no julgamento.— Vocês que a acusaram, por que querem se defender?— Podemos dizer o contrário? — foi a vez de Ciro, ele não olhou para ninguém além do meu suposto advogado.— Estão aqui para falar. — recordou o homem. — O que os dois têm a dizer sobre isso?— Ela também conspira com alguém para tirar o trono do supremo. — Rosalina devia ter fritado o cérebro de Ciro, ele insistiu no que já havia sido falado.“Ele sempre foi tão imbecil assim?”Foi a pior mentira que eu ouvi. Todos murmuraram entre si, o homem olhou para seu rei e William repetiu a ação apenas por um segundo, depois todos se voltaram para mim, que permanecia embasbacada com os dois acusadores.O assunto foi mudado para as perguntas que ainda não tinham vindo, mas que William me avisou — não por bondade, certamente.— Tudo está ligando até agora a senhorita Rivera à sua alca
EULÁLIA — ...Então me diga se alguém da mesma alcateia o calou, nos impedindo de ouvir sua preciosa informação por completa!— Estão debochando de nós? — Rosalina quase gritou.O homem que tinha os papéis na mão ficou em silêncio por sua ousadia.— Por acaso tem algo a acrescentar? — A voz de Wulfric nunca soou tão rígida para mim. Aquela repreensão foi, de fato, muito aterrorizadora.Rosalina se encolheu.— Uma loba adulta, com suas faculdades mentais em perfeitas condições, saberia onde está.Aquilo foi um insulto? Ciro murchou, Rosalina quase chorou. Mas os olhos do supremo não saíram deles.— Isso foi o que, para você, “luna da Sangue Azul”? Um deboche?“Eu vou gamar nesse lobo.” Não foi premeditado.Imediatamente, ele respondeu, sem olhar para mim, ainda esperando a resposta dos dois patetas.— Corrija suas palavras — disse ele.“Está falando comigo?” Seus olhos saíram deles para mim por apenas um segundo.“Eu não sou um lobo. Sou o seu companheiro supremo e o rei de todos os lo
EULÁLIA — Perto do coração — disse aquele que eu ainda não sabia o nome. Então os dedos de William limparam o lugar instruído com um deslizar de dígitos. Algo como maquiagem saiu e revelou a marca roxa com uma cicatriz fechada. Rosalina perdeu a cor novamente. — Mais uma mentira — disse o homem por fim. William encarou Ciro e se afastou. Eu ainda mantive os olhos no lugar onde o feri antes; parecia que estava inflamado por dentro. “Ele não se curou?” O emparelhamento não deveria curar até mesmo aquele ferimento? Levantei os olhos sentindo alguém olhar para mim. Era Ciro. Seu semblante disse mais do que eu gostaria — algo como tristeza e arrependimento. Ele vestiu a camisa. — Como vimos, o relatório era composto por mentiras, por isso não houve nenhum acusador além daqueles que foram chamados. Não vamos estender mais, perdendo tempo com isso. Agora é hora do veredito. Wulfric deu a última palavra. Eu quase desmanchei em alívio, o que pensei não ser possível. — Declaro
EULÁLIA — Quando chegou aqui? Meu coração batia rapidamente no peito. — Estou aqui desde o seu dilema de importar... e pena me irritar ao máximo. — Se aproximou. Suas mãos foram espalmadas pelos lados da minha cabeça, com seu corpo prendendo o meu ao vidro, em um dos pontos mais altos do castelo. — Eu não me importo. — Tentei acreditar nas minhas palavras. Wulfric quase rosnou, mas evitou, bem a tempo de recordar onde estávamos. O vidro com certeza teria danos. Eu soube pela baixa vibração em seu peito. Ele segurou bem, se controlou. — Você apenas pensou demais e sequer sentiu minha presença ou cheiro quando entrei. Ele tinha razão. Como eu podia dizer que era indiferente, quando deixei de prestar atenção no mais importante — no meu companheiro? — Perdoe-me, eu estava distraída! Wulfric me encarou. Seus olhos fitaram os meus com tanta intensidade que parecia enxergar minha alma. Então, desceram para os meus lábios. — Seja cuidadosa com seus próprios sentimentos. Eu não s
EULÁLIAMinhas pernas fraquejaram quando sua mão deslizou entre minhas coxas, encontrando o ponto exato que me fazia perder o fôlego. Sua respiração pesada contra minha nuca misturava-se aos suspiros que eu tentava conter. Estávamos em um lugar aberto demais, mas nem isso parecia importar.“A noite está escura.” Foi o que pensei para explicar a mim mesma o motivo de não estar envergonhada.No entanto, a luz do quarto ainda estava acesa, então, se alguém estivesse em uma montanha ao longe com um binóculo ou algo do tipo, nos veria.Me virei de novo, agarrando sua camisa e o puxando para perto, sentindo a rigidez de seu corpo contra o meu.— Então não se controle… — sussurrei, encarando seus olhos vermelhos. Era hipnotizante.Seu peito vibrou; mais uma vez, seu alto controle evitou um rosnado. Mas como eu o queria ver rosnando em um momento como esse.Inclinando-se para me pegar no colo com facilidade, ele me levou até a cama.— Deseja que eu espere até a sua cerimônia?— Cerimônia? — m