03

Quando olhei para o lado, percebi o motivo dela sorrir assim tão alegremente. Ele se esgueirava entre um bando de alunos e se aproximava de nós. Senti um sorriso nervoso se prostrar em meus lábios. Só não podia falar algo estúpido – o que acontecia na maioria das vezes em que ele estava perto.

- Pequena Marcela! – sorriu quando chegou perto, abrindo os braços para me receber em um abraço. Aquilo era sério? Belisquem-me! Eu juro que me arriscaria a caber entre aqueles braços saudosos sem o empurrão de Gaya.

Era, sem dúvida, o melhor abraço de todos. O seu perfume entrava em meu sistema, abalando os meus pensamentos e o meu coração que começava a seguir um caminho de arritmia que eu não sabia se teria volta – ou se queria voltar para qualquer lugar que não fosse ali.

Fazia quanto tempo que eu não o via? Uns 3 anos? Sim, sim, desde que ele se mudara para a cidade vizinha.

Normalmente, ele e Rick se viam esporadicamente, mas normalmente eu, a irmã pirralha de Frederick, não era muito inclusa nos... Encontros. Certo, eu não queria saber o que ele estava fazendo ali, mas tinha a necessidade de saber se ele permaneceria dessa vez.

- Ou não tão pequena assim. – ele falou soltando-me, mas não se afastando. Aquela falta de distância era maravilhosa. – Os três anos te fizeram muito bem, Mads. – eu me senti morrer naquelas palavras enquanto ele sorria com graça.

Duas meninas passaram por nós bem mais animadas do que Gaya – o que me parecia algo impossível até então.

Elas pareciam eufóricas com os seus horários em mãos e eu me perguntava o que tinha demais em algumas aulas de cálculo e química – não que desgostasse das matérias, mas elas não passavam disso, afinal.

Pude ouvir de relance, mesmo que passassem rapidamente, algo como “ele é perfeito” e ainda “ele vai ser meu até o final do semestre”, o que foi acompanhado por uma bateria de risadas ao estilo hiena com dor de estômago. Não sabia o motivo de não ter muitos amigos, mas tinha quase certeza que era por minha ligeira intolerância.

- O professor Morris. – rolou os olhos. – Ele tem várias fãs. – ele deu de ombros enquanto eu sorria do jeito que ele falava. Droga, por que tinha de ser tão bonito?

- Rick já sabe que está aqui? – eu dei mais uma passo na fila enquanto ele espremia os olhos, como se pensasse em uma resposta. Eu não sabia porque o tinha perguntado. Como melhores amigos, é claro que sabia. Por que não tinha me contado? Certo, podemos mudar a pergunta. Por que não casa comigo, Liam?

- Isso é complicado, pequena Mads. – ele riu sem humor. – Não é o primeiro ano que estou aqui, Marcela. – ele deu de ombros. Como assim? Acho que pela minha cara de ponto de interrogação, ele resolveu explicar. – Eu voltei há um ano, mais ou menos. Mas eu e seu irmão... É complicado, sabe? – ele fez careta. Eu continuei a encará-lo. – Nós brigamos por algo muito besta, mas ele pareceu não desculpar.

- Hm. – eu estava chateada. Talvez eu devesse esmurrar Rick por brigar com ele e me impedir de vê-lo. Ele merecia alguns tapas. – Vocês eram tão amigos...

- Bem, não se chateie com isso. – ele deu de ombros. – Faculdade, é? – sim, Liam, eu não estava mais na quarta série, sabia?

- Química. – eu falei feliz e ele sorriu, animado.

- Vai ser bom te ter por aqui, pequena Mads. Eu senti saudades. – sério? Certo, Marcela, lembre-se de como respirar.

Uma menina veio perguntar alguma coisa para ele que teve que se despedir de mim com um singelo “Nos vemos por aí” para auxiliá-la. Sei, dúvidas, não? Não precisava alisar tanto o braço dele para ter sua dúvida resolvida, sério.

Oferecida!

Demoramos mais alguns minutos – diga-se de passagem, que foram muitos – na fila antes de pegar os nossos horários. Eu estava espumando por causa da menina que se jogava sobre o meu príncipe encantado fujão e não melhorou quando soube que não eram todas as aulas que eu e Gy tínhamos juntas, o que me deixava um tanto insatisfeita – a quebra de hábitos para mim era uma droga.

Como ainda faltavam alguns minutos para as aulas, tivemos tempo para achar a nossa sala sem problema algum.

Era grande. Uma sala no estilo auditório estava a nossa frente. Gaya entrou sem muito pensar, levando-me com ela.

Ela andou até a segunda fileira e se sentou em uma das primeiras cadeiras perto da saída para o corredor. Ela começou a tagarelar cruzando os nossos horários com interesse. Eu tentava seguir a sua linha de raciocínio – juro que tentava –, mas era difícil acompanhar a sua animação. Eu apenas abri os meus cadernos e me mantive a olhar para a frente, esperando que eu não dormisse. Eu estava me sentindo um pouco letárgica e estava xingando mentalmente o meu irmão – não só por me acordar com a sua música alta, mas por ter brigado por um motivo idiota com Liam Harrison.

Logo a sala estava cheia e eu nem mesmo tinha percebido. Não demorou para que o professor entrasse na sala.

Ele encheu a lousa rapidamente e depois apenas começou a falar, sem deixar muito tempo nem para que pensássemos. A aula era de Cálculo e o assunto, interessante, mesmo que o professor Rogers não fosse um tipo exatamente didático. A sua aula não demorou para passar e fiquei feliz por ter conseguido acompanhar a sua linha de raciocínio enquanto alguns outros tinham um grande ponto de interrogação estampado nos rostos.

Bem, números nunca tinham sido os meus problemas – o que não posso dizer de História, exatamente. E eu realmente tinha certeza de que seria um semestre bem tranquilo naquela parte, ao menos, o que me deixava, de certa forma, aliviada.

Nós não demoramos muito para deixar a sala e nos lançamos ao tumulto que era a porta. Já era hora do intervalo e todos pareciam terrivelmente ouriçados. Saindo para o corredor, a situação não melhorou muito – na verdade, piorou dez vezes, mas não podia dizer algo assim senão seria considerada ranzinza, mesmo sendo verdade.

Com muito esforço conseguimos chegar ao refeitório que, adivinhem, também estava cheio. As mesas lotadas, vários corpos de lá para cá, muitos falando ao mesmo tempo. Eu não era o tipo ideal para participar de multidões. No fundo do refeitório, em uma mesa vazia, estava Liam que acenava para nós.

Eu senti meu coração disparar enquanto Gaya sorria e me guinchava até lá. Ele tinha a sua frente três pratos de pizza e mostrava para nós duas, as cadeiras, indicando que era para que sentássemos, enquanto ele mordia uma pizza de mozarela. Gaya foi logo se sentando e eu fiz o mesmo, puxando a cadeira perto dele.

- A pizza de mozarela é a única coisa que presta daqui. – falou depois de engolir o pedaço que mastigava e nos entregando os pratos com os pedaços.

- Não precisava... – sorriu e rolou os olhos, como se dissesse que não era nada. Eu dei uma mordida na pizza e até que não era ruim.

- E então, o que acharam da primeira aula? – ele perguntou animado. – Ah, sou Liam Harrison. – ele estendeu a mão para Gaya. É claro que ela já sabia tudo sobre ele, afinal, eu tinha contado há muito tempo.

- Gaya Flynn. – ela apertou a sua mão com um meio sorriso. Eu bem sabia que ela podia traçar um perfil completo dele se bem quisesse. – Nós achamos bem legal, certo Mads? – ela falou e eu concordei com a cabeça. Eu estava babando?

Ela perguntou para ele como tinha sido na outra faculdade e ele começou uma conversa animada. Eu passei praticamente todo o meu intervalo o observando e vendo que eu senti falta dele, mesmo que eu nunca o tivesse realmente tido. Ele parecia se esforçar para me incluir na conversa e eu me esforçava para não me alterar muito.

Eu sei que meu coração parecia não querer voltar ao normal.

O sinal bateu, tirando-nos de um assunto agradável. Tirando-o de mim. Todos começaram a se movimentar para ir para suas aulas, transformando o que tinha quase se aquietado há alguns minutos em um formigueiro novamente. Eu já me sentia com dor de cabeça por ter que entrar na muvuca mais uma vez.

- O que vocês têm agora? – ele perguntou curioso. Gaya remexeu nos bolsos e tirou o seu horário já amassado.

- Química laboratorial. – ela falou animada, enquanto se levantava.

- Professor Morris? – ele perguntou e ela acenou com a cabeça. Ele fez careta. – eu continuei a olhá-lo, a tentar entender. – Vocês mesmo vão ver.

Ele se levantou também e saiu conosco do refeitório – com ele abrindo o caminho ficou bem mais fácil. Ele nos levou até a parte leste do prédio em que estávamos. Tivemos que descer dois lances de escadas e andar por mais um corredor. A sala ficava no final do mesmo e já estava de porta fechada – de fato, estávamos atrasadas.

Ele bateu na porta e demorou alguns minutos para que ela fosse aberta. De dentro da sala, saía um Deus Grego.

Eu senti o meu coração vibrar e minha boca se entreabrir em um choque mudo. Patético, mas motivado. Nunca tinha visto alguém tão bonito em toda a minha vida – a não ser em revistas, filmes e passarelas.

- Professor... – Liam falou rancoroso. Certo, aquilo seria... Muito esquisito.

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