Ponto de vista de Kyle
Não conseguia me concentrar no trabalho. A imagem de Mia com aquele homem continuava passando na minha mente. Jeo Parker. Até o nome dele me irritava.
— Linda — chamei pelo interfone. — Me traga tudo que puder encontrar sobre Jeo Parker.
— O designer? — a voz de Linda estava cuidadosamente neutra. — Imediatamente, senhor.
Afrouxei minha gravata. O escritório parecia quente demais. O que Mia estaria fazendo na empresa de design dele? Ela ficaria sozinha com ele? Trabalhariam até tarde juntos? Artistas fazem esse tipo de coisa, não fazem?
O pensamento deles no estúdio dele fez meu maxilar se contrair. Ele ensinaria a ela como segurar um pincel? As mãos dele tocariam as dela? Trabalhariam em retratos? Ela posaria para ele?
Arranquei minha gravata completamente. As imagens não paravam. Mia sorrindo para ele do jeito que costumava sorrir para mim. Mia ficando até tarde no estúdio dele. Mia deixando ele se aproximar demais.
— Pare com isso — murmurei, me servindo de uma bebida. Isso era puramente preocupação profissional. Nada mais. Mia era minha esposa. No papel, pelo menos. Eu tinha o direito de saber sobre o ambiente de trabalho dela.
Linda bateu e entrou com uma pasta grossa.
— O histórico de Jeo Parker, senhor.
Folheei, minha carranca se aprofundando a cada página. Designer independente premiado. Professor convidado em prestigiadas escolas de arte. Seu trabalho tinha sido apresentado em grandes galerias por toda a Europa. Forbes 30 Abaixo de 30. Encomendas particulares de celebridades e da realeza.
Algo desconfortável se instalou no meu estômago.
— Descubra mais sobre a vida pessoal dele.
Linda hesitou.
— Senhor?
— Ele é casado? Está namorando alguém?
— Vou verificar — ela pausou. — Há algo mais que você deveria saber.
Levantei o olhar.
— A Srta. Williams era estudante de artes na faculdade. Ela tinha uma oferta de bolsa integral para Paris.
Encarei-a.
— O quê?
— Ela recusou quando o senhor a contratou como sua secretária — a voz de Linda estava cuidadosa. — Seus professores disseram que ela era excepcionalmente talentosa.
O sentimento desconfortável no meu estômago cresceu. Por que eu não sabia disso? Alguma vez perguntei a Mia sobre seus interesses? Seus sonhos?
— Devo investigar a aquisição da empresa dele? — perguntei abruptamente.
Linda me deu um longo olhar.
— É realmente disso que se trata, senhor?
— Peça aos nossos advogados para...
— Sr. Branson — Linda interrompeu, algo que ela raramente fazia. — Talvez você devesse conversar com sua esposa em vez de tentar comprar a empresa do colega dela.
Dispensei-a com um aceno. Meu telefone vibrou. Taylor. Ignorei.
Taylor. Ela costumava significar tudo para mim. Agora... agora suas ligações pareciam interrupções. Quando isso mudou?
Dirigi para casa cedo, algo que nunca fazia. A casa estava quieta quando entrei. Mia estava na sala de estar, esboçando algo em um caderno. Ela levantou o olhar, surpresa em me ver.
— Você chegou cedo.
Caminhei até ela, estudando seu rosto. Ela parecia cansada. Pálida. Estava trabalhando demais? Estava doente? Ou estava apenas empolgada com seu novo emprego com ele?
Sem pensar, levantei-a do sofá. Ela parecia pequena nos meus braços, familiar. Certa. Abaixei minha cabeça para beijá-la.
Ela se virou de repente, sua mão voando para sua boca. Antes que eu pudesse reagir, ela correu para o banheiro. Ouvi-a vomitando.
— Mia? — segui-a, preocupação superando meu aborrecimento. — Você está doente?
Ela emergiu pálida, limpando sua boca.
— Estou bem.
— Você não parece bem — estendi a mão para ela, mas ela recuou.
— Não serei mais seu plano reserva, Kyle — sua voz estava cansada. — Não vou compartilhá-lo com Taylor.
— Isso não é sobre Taylor.
O pensamento de Taylor parecia distante, sem importância.
— Então sobre o que é? — seus olhos verdes me desafiaram. — Por que você está realmente aqui?
Porque não suporto a ideia de você trabalhando com ele. Porque a ideia de outro homem fazendo você sorrir me faz querer destruir algo. Porque...
— Porque você é minha esposa.
— Sua esposa contratual — ela corrigiu amargamente.
Notei ela alcançando algo no armário do banheiro. Um frasco de pílulas.
— O que são essas?
— Nada.
Ela tentou escondê-las, mas peguei um vislumbre do rótulo.
— Você tem tomado muitas pílulas ultimamente.
— São apenas vitaminas — ela agarrou o frasco firmemente.
— Para seu novo emprego? — não consegui manter o sarcasmo da minha voz.
— Sim, na verdade. Preciso estar saudável — ela tentou passar por mim.
Bloqueei seu caminho.
— Me conte sobre esse emprego.
— Por quê? Para que você possa tentar me impedir de aceitá-lo?
— Quero saber o que você vai fazer.
Ela riu, mas não foi um som feliz.
— Agora você está interessado no que eu faço? Depois de três anos me tratando como seu acordo conveniente de quarto?
Suas palavras doeram mais do que deveriam.
— Isso não é justo.
— Não? Quando é meu aniversário, Kyle? Qual é minha cor favorita? O que estudei na faculdade? — sua voz falhou. — Você não sabe nada sobre mim porque nunca se importou em perguntar.
— Sei o suficiente.
— Você sabe o que está no nosso contrato. Só isso — ela passou por mim. — Preciso me preparar para dormir.
— Ainda não terminamos de falar sobre esse emprego.
Ela girou.
— Sim, terminamos. Você fez sua escolha há muito tempo, Kyle. Escolheu Taylor. Agora estou fazendo minha escolha.
— Isso não é sobre Taylor — repeti, minha voz dura.
— Então por que você passou os últimos três dias com ela?
Porque estava com raiva. Porque precisava provar que não me importava com o que você fazia. Porque estar com ela parecia errado agora, e não entendo por quê.
— Isso não é da sua conta.
— Exatamente — ela sorriu tristemente. — Assim como meu novo emprego não é da sua.
Observei-a se afastar, me sentindo estranhamente impotente. Quando tudo ficou tão complicado? Isso deveria ser um acordo simples. Um casamento de conveniência. Nada mais.
Então por que o pensamento dela trabalhando com Jeo Parker me fazia querer destruir tudo que ele construiu?
Meu telefone vibrou novamente. Taylor.
Pela primeira vez, não quis atender. Em vez disso, me peguei caminhando para meu escritório, abrindo meu laptop. Digitei o nome das pílulas que vi Mia tomando.
Algo não estava certo. Ela estava escondendo algo. E eu ia descobrir o quê.
Mas primeiro, tinha outra ligação a fazer.
— Linda? Descubra tudo que puder sobre estúdios de arte. Horários de trabalho. Práticas comuns — pausei. — E me traga a agenda completa de Jeo Parker.
Tinha a sensação de que não dormiria muito esta noite. O pensamento de Mia no estúdio dele, passando horas sozinha com ele... Não. Não deixaria isso acontecer.
Ela era minha esposa. Contrato ou não, ela pertencia a mim.