Ponto de vista de Mia
Linda entrou.
— A Sra. Branson ligou. Ela quer vocês dois em casa para o jantar esta noite.
Minha sogra era a única pessoa que tratava nosso casamento como real, que me via como mais do que o acordo conveniente de Kyle.
O maxilar de Kyle se contraiu.
— Diga a ela que estamos ocupados.
— Já tentei, senhor — Linda respondeu. — Ela insistiu. Disse, e cito: "Diga ao meu filho teimoso que se ele não trouxer minha adorável nora para casa para o jantar esta noite, eu mesma irei ao escritório dele."
— Tudo bem. Iremos — Kyle disse.
A viagem até a mansão Branson foi silenciosa. Observei os bairros familiares passarem, cada um ficando progressivamente mais exclusivo até chegarmos à rua arborizada onde Kyle cresceu. A mansão se erguia orgulhosa e elegante, suas janelas calorosamente iluminadas contra o céu escurecendo.
Catherine estava esperando na porta, seu cabelo prateado perfeitamente penteado, seu vestido esmeralda combinando com seus olhos.
— Finalmente! — ela exclamou. — Meus queridos!
Ela me abraçou primeiro, me segurando forte. Seu perfume familiar Chanel No. 5 me envolveu como um cobertor de conforto.
— Mia, querida — ela recuou, estudando meu rosto com preocupação maternal. — Você está pálida. Meu filho viciado em trabalho tem te mantido acordada até tarde no escritório?
— Mãe — a voz de Kyle tinha um tom de advertência.
— Ah, cale-se — Catherine o dispensou, me puxando para dentro da casa. — Entre, entre. A Sra. Reynolds se superou com o jantar esta noite.
O interior da mansão não havia mudado desde a última vez que visitamos. Lustres de cristal lançavam um brilho quente sobre os móveis antigos e retratos de família. Tudo falava de dinheiro antigo, exibido com bom gosto, mas confortável. Catherine sempre conseguiu esse equilíbrio delicado.
Catherine sorriu enquanto o primeiro prato era servido. Uma sopa delicada de cogumelos que encheu a sala com um aroma terroso.
— Embora eu sinta falta dos dias em que esta mesa estava mais cheia. Lembra dos jantares de domingo que costumávamos ter, Kyle? Todos os seus primos vinham...
— Isso foi há muito tempo, mãe — Kyle respondeu.
Catherine suspirou, mexendo sua sopa.
— Tudo muda, não é? Eva da casa ao lado se tornou avó no mês passado. A filha dela teve gêmeos — ela levantou o olhar para nós, seus olhos brilhando. — Falando nisso, quando posso esperar netos?
O garfo de Kyle bateu contra seu prato.
— Mãe...
— Não venha com "mãe" — Catherine o cortou. — Vocês estão casados há três anos. Três anos! Você sabe quantas das minhas amigas já são avós duas vezes?
— O trabalho nos mantém ocupados — Kyle disse.
— Trabalho! — a voz de Catherine pingava de irritação. — Sempre trabalho com você, Kyle. Uma mulher precisa de mais do que um marido ocupado para ser feliz. Ela precisa ser amada.
A palavra "amada" ficou suspensa no ar como uma presença física.
— A empresa está passando por uma fase importante — Kyle disse rigidamente. — Podemos discutir filhos mais tarde.
Os olhos de Catherine se estreitaram.
— Isso é uma desculpa e você sabe. Quando eu estava grávida de você...
— Mãe, já discutimos isso — Kyle interrompeu, sua voz áspera. — Minha prioridade agora é expandir a empresa para mercados internacionais. Crianças seriam... inconvenientes.
Inconvenientes. A palavra me atingiu como um golpe físico. Meu estômago se revirou violentamente enquanto o cheiro da comida de repente se tornou avassalador. Pontos pretos dançavam nas bordas da minha visão enquanto ondas de náusea me lavavam.
— Posso me retirar? — interrompi. — Preciso de ar.
A expressão de Catherine amoleceu imediatamente.
— Claro, querida. Use o jardim. O jasmim que floresce à noite está lindo nesta época do ano.
Vaguei pelo jardim impecável de Catherine, passando por arbustos perfeitamente aparados e flores florescendo, até alcançar o banco de pedra perto da fonte.
Minha mão deslizou para minha barriga. Inconvenientes, Kyle tinha chamado a ideia de crianças. O que ele diria quando descobrisse sobre esses bebês?
Fechei os olhos, lembrando todas as vezes que sentei neste mesmo lugar, sonhando com um futuro onde Kyle olharia para mim do jeito que olhava para Taylor. Onde nosso casamento seria mais do que apenas um contrato. Agora aqui estava eu, esperando seus filhos, enquanto ele ainda me via como nada mais do que um acordo de negócios. A ironia era quase demais para suportar.
— Achei que te encontraria aqui.
Virei-me para ver Catherine se aproximando, um xale de cashmere nas mãos. Ela o envolveu ao redor dos meus ombros antes de sentar ao meu lado.
— Você sempre amou este lugar — ela disse suavemente. — Lembro da primeira vez que Kyle te trouxe para casa. Você passou horas aqui, desenhando as flores.
— Sinto muito, querida — Catherine continuou, pegando minha mão na dela. — Conheço meu filho. Falhei com ele de algumas formas. Depois que seu pai morreu... — ela pausou, sua voz falhando. — Kyle se jogou em ser perfeito. Notas perfeitas, empresário perfeito. Ele esqueceu como sentir.
— Catherine, eu...
— Deixe-me terminar — seu aperto na minha mão apertou. — Você é boa para ele, Mia. Melhor do que ele merece. Vejo como você olha para ele, o quanto você o ama.
— Mãe — a voz de Kyle cortou a escuridão. — Pare de se intrometer.
Catherine se levantou, virando-se para encarar seu filho.
— Cuide da sua esposa, filho. Antes que seja tarde demais.
As luzes da cidade se borravam enquanto passávamos, com Kyle dirigindo, seus nós dos dedos brancos no volante. Reuni minha coragem, tentando encontrar as palavras certas.
— Kyle — disse suavemente —, o que você disse no jantar, sobre crianças serem inconvenientes...
— O que tem? — sua voz estava fria. — Família não é minha praia. Você sabia disso quando assinou o contrato.
Meu coração afundou. Claro. Eu não deveria colocar essa ideia na minha cabeça. Me ajeitei no assento, tentando encontrar uma posição mais confortável, quando algo rolou contra meu pé.
Alcançando para baixo, meus dedos tocaram metal liso. Peguei. Um batom — Dior Rouge, exatamente o tom que eu tinha visto nos lábios de Taylor incontáveis vezes no escritório. O estojo dourado brilhava zombeteiramente na minha palma, e pude sentir o cheiro do perfume característico dela persistindo nele.
Claro. Ela tinha estado no carro dele. Recentemente. Isso não foi algum acidente. Taylor nunca deixava nada ao acaso. Ela o colocou aqui deliberadamente, mais um lembrete cruel de que ela era aquela que Kyle realmente queria.
— Encoste — sussurrei, lutando contra a bile.
— O quê?
— Encoste! — as palavras saíram mais fortes do que eu pretendia. — Preciso de ar.
O maxilar de Kyle se contraiu enquanto ele encostava no meio-fio. Sem uma palavra, saí, envolvendo meus braços ao redor de mim mesma no ar fresco da noite. O motor do carro acelerou uma vez antes de ele ir embora, me deixando sozinha na calçada.
As luzes da cidade se borraram enquanto lágrimas encheram meus olhos. Como minha vida se tornou isso? Minha cabeça girava, se era por causa da gravidez ou emoção, não conseguia dizer.
— Mia?
Através das minhas lágrimas, vi um rosto familiar. Jeo estava lá, preocupação gravada em seus traços. Sem hesitação, ele tirou sua jaqueta de couro, envolvendo-a ao redor dos meus ombros.
— Você está congelando — ele disse, sua mão quente no meu braço. — O que você está fazendo aqui sozinha?
— Estou bem — tentei dizer, mas as palavras saíram arrastadas. O chão parecia estar se movendo sob meus pés.
— Você não está bem — a voz de Jeo ficou urgente enquanto eu balançava. — Você precisa de um hospital.
— Não, eu só preciso... — meus joelhos cederam.
— Hospital — Jeo decidiu, me pegando antes que eu batesse no chão. — Agora.