Ponto de vista de Mia
O enjoo matinal me atingiu assim que acordei. Mal consegui chegar ao banheiro a tempo. Olheiras escuras sob meus olhos. Pele pálida. Eu tinha que parecer melhor do que isso. Não podia deixar ninguém no trabalho suspeitar de nada.
Linda estava me esperando quando cheguei ao escritório.
— Você está se sentindo melhor?
— Sim, muito melhor.
Forcei um sorriso. Linda me observou cuidadosamente, mas não insistiu.
A expressão de Linda estava neutra como sempre, estendendo duas xícaras de café.
— Ele pediu essas — ela murmurou, seu tom profissional, mas pude sentir um toque de pena em seus olhos.
Meu estômago se revirou ao pensar em café, mas assenti.
— Claro.
Equilibrei as duas xícaras cuidadosamente. Duas xícaras. Meu coração afundou. Eu já sabia para quem era a segunda.
Quando empurrei a porta do escritório de Kyle, Taylor estava empoleirada na beira de sua mesa. Ela usava um vestido vermelho justo que provavelmente custava mais do que meu salário mensal. Sua mão perfeitamente feita descansava no ombro de Kyle.
— Ah, olha só quem é — a voz de Taylor pingava mel. — Que bom te ver, Mia.
Coloquei as xícaras cuidadosamente, tentando não deixar minhas mãos tremerem.
— Seu café, Sr. Branson.
— Não é assim que gosto do meu café — Taylor fez beicinho. Ela pegou a xícara e deu um gole. — Açúcar demais. Seja querida e me traga outro.
Cerrei os punhos.
— Eu não fiz o café, Srta. Matthews. Talvez você deva especificar suas preferências diretamente à cafeteria.
Os olhos de Taylor se estreitaram por um momento antes de ela rir.
— Ah, Kyle, ela não é adorável? Tão defensiva por causa de uma xícara de café — ela se virou para mim, seu sorriso nunca alcançando seus olhos. — Sabe, Mia, uma atitude assim é provavelmente o motivo de você ainda ser apenas uma secretária.
Kyle nem sequer levantou os olhos do computador.
— Isso é tudo, Mia.
Virei-me para sair, mas Taylor não tinha terminado.
— Na verdade, Mia, espere — ela se levantou, alisando seu vestido. — Você poderia me mostrar o caminho para o banheiro feminino? Este prédio é tão grande, sempre me perco.
Eu sabia que era uma armadilha. Mas com Kyle sentado bem ali, não podia recusar.
— Claro.
No momento em que entramos no banheiro, a fachada doce de Taylor caiu. Ela verificou cada cabine antes de se virar para mim, seus olhos frios.
— Eu sei o que você está fazendo — ela sibilou. — Bancando a funcionária perfeita, sempre tão prestativa, tão ansiosa para agradar. Todos sabem que você sempre foi desesperada por qualquer migalha de atenção. Você é igualzinha à sua mãe, sempre procurando por algo que não é seu.
Minhas mãos tremeram.
— Não fale sobre minha mãe.
— Por que não? Todo mundo sabia o que ela era, uma caçadora de fortunas que prendeu meu pai com o dinheiro dela. E agora olhe para você, seguindo os passos dela.
— Isso não é verdade — minha voz tremeu. — Minha mãe amava o papai. Ela não sabia...
— Ela não sabia que ele já estava apaixonado pela minha mãe? — Taylor riu. — Por favor. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Assim como você sabe exatamente o que está fazendo com Kyle.
— Não sei do que você está falando.
Taylor se aproximou.
— Não banque a inocente. Eu vi como você olha para ele. Como sempre olhou para ele. É patético, na verdade. Você acha que ele vai te ver como algo mais do que você é? Uma funcionária conveniente que ele pode usar?
— Pare com isso.
Meu estômago se revirou. Se era por causa do enjoo matinal ou estresse, não tinha certeza.
— Sabe o que é engraçado? — Taylor continuou. — Kyle me conta tudo. Sobre seu pequeno acordo. Sobre como o conselho o forçou a encontrar uma esposa rapidamente depois daquele escândalo. E adivinha quem estava lá, tão ansiosa para assinar qualquer contrato que ele colocasse na frente dela?
Senti o sangue drenar do meu rosto. Kyle tinha contado a ela sobre nosso casamento?
— Ah, não se preocupe — Taylor sorriu com malícia. — Seu segredo está seguro comigo. É divertido demais para estragar. A esposa falsa de Kyle, suspirando enquanto ele passa suas noites comigo.
— Você está mentindo.
Mas minha voz soou fraca até para meus próprios ouvidos.
— Estou? Onde você acha que ele vai quando não está no seu pequeno ninho de amor? Com quem você acha que ele está?
Ela puxou seu telefone, rolando pelas fotos.
— Olhe. Ontem à noite, depois que ele te deixou. E na noite anterior.
As fotos mostravam Kyle e Taylor em vários restaurantes, clubes, parecendo íntimos. Felizes. Reais.
— Pare.
Minha voz falhou.
— Você nunca será nada para ele, Mia. Eu te disse, você é igualzinha à sua mãe, tentando se agarrar a coisas que não pertencem a você. Mas você deveria lembrar o que sua mãe conseguiu.
Algo em mim estourou. Não aguentava mais.
O tapa ecoou no banheiro azulejado. A raiva explodiu dentro de mim, e antes que eu pudesse pensar, minha mão voou para cima, acertando um tapa forte no rosto dela. O som agudo ecoou no corredor vazio.
A cabeça de Taylor virou para o lado. Por um momento, houve silêncio absoluto. Então ela começou a sorrir.
— Ah, Mia — ela disse suavemente. — Você não deveria ter feito isso.
Ela agarrou seu próprio braço e apertou forte, deixando marcas vermelhas. Então bagunçou levemente seu cabelo e deixou lágrimas encherem seus olhos.
A porta do banheiro se abriu bruscamente. Kyle estava lá, seu rosto escuro de raiva.
— Kyle! — Taylor soluçou, correndo para ele. — Não sei o que aconteceu! Eu estava apenas tentando ser amigável, e ela me atacou!
— Ela está mentindo! — eu disse. — Kyle, ela...
— Eu vi o suficiente — Kyle me cortou. Sua voz estava gelada. — Taylor, você está bem?
Ela enterrou o rosto no peito dele, seus ombros tremendo com soluços perfeitamente cronometrados.
— Eu só queria conversar com ela. Tentar ser amigas. Sei que nosso passado é complicado, mas...
Kyle envolveu seus braços ao redor dela protetoramente. A cena me fez sentir enjoada.
— Por favor — sussurrei. — Kyle, deixe-me explicar.
Taylor tocou seu rosto, sua expressão mudando instantaneamente para uma de inocência ferida.
— Kyle, eu... eu não quis chateá-la — ela disse, sua voz suave, implorante. — Por favor, não fique bravo com ela.
O olhar de Kyle estava frio quando me olhou.
— Peça desculpas, Mia — ele ordenou, seu tom duro.
Encontrei seu olhar, recusando-me a recuar, meu coração se partindo novamente.
— Não — sussurrei, minha voz mal audível. — Não vou me desculpar.
O maxilar de Kyle se contraiu, e por um momento, achei que vi algo em seus olhos — decepção, talvez, ou frustração. Mas desapareceu tão rápido quanto apareceu.
— Tudo bem — ele disse friamente. — Você está suspensa. Deixarei Linda cuidar do seu trabalho até segunda ordem.
As palavras foram uma faca no meu coração, mas ergui meu queixo, recusando-me a deixá-lo ver o quanto machucaram.
— Entendido.
Saí sem mais uma palavra, meu coração doendo, sentindo como se tivesse deixado um pedaço de mim mesma para trás.