Ponto de vista de Mia
Kyle saiu do banheiro. Rapidamente me afastei do telefone dele, meu coração batendo forte. Ele pegou o aparelho e saiu do quarto sem me dizer uma palavra. A porta clicou ao se fechar atrás dele.
Puxei meus joelhos contra o peito, envolvendo meus braços ao redor deles. Mesmo através da porta fechada, conseguia ouvir o murmúrio baixo de sua voz. Ele sempre falava com ela naquele tom gentil. Um tom que eu nunca o ouvi usar comigo.
Pressionei meu rosto contra meus joelhos, tentando segurar minhas lágrimas. Minha mão se moveu inconscientemente para minha barriga. O que Taylor diria se soubesse que estou esperando os bebês de Kyle? Minha meia-irmã já tinha tirado tanto de mim. Meu pai, minha casa, minha herança — e agora ela queria Kyle de volta.
As memórias vieram em torrente, me fazendo sentir enjoada. Eu tinha quinze anos quando minha mãe entrou em coma. Achei que meu pai estaria lá por ela. Estava errada.
Uma semana depois disso, ele trouxe para casa sua nova esposa e a filha dela, Taylor. Foi quando meu mundo inteiro desmoronou. Foi quando aprendi a verdade feia. Papai estava se vendo com elas pelas costas da mamãe por anos. Ele só se casou com minha mãe pelo dinheiro dela. A mãe de Taylor tinha sido seu verdadeiro amor o tempo todo.
Levantei-me da cama, precisando me mexer. O quarto de repente parecia pequeno e sufocante. Caminhei até a janela, pressionando minha testa contra o vidro frio. Lá fora, as luzes da cidade cintilavam como se nada estivesse errado.
O som da voz de Kyle ficou mais alto quando ele passou pela porta do quarto.
— Quinta-feira funciona perfeitamente. Farei reservas no seu restaurante favorito.
Meus dedos se curvaram contra o vidro. Quinta-feira. Ele estava planejando um encontro com ela enquanto eu estava aqui esperando seus filhos. Filhos que ele não queria. Filhos que violavam nosso contrato.
Lembrei-me do dia em que Taylor veio pela primeira vez para nossa casa. Ela tinha treze anos, dois anos mais nova que eu, mas agia como se fosse dona do lugar. Talvez fosse. Em dias, meu pai havia mudado todas as coisas da mamãe para o sótão. Em semanas, ele havia redecorado a casa inteira ao gosto da mãe de Taylor. Era como se a mamãe nunca tivesse existido.
— Você é igualzinha à sua mãe — Taylor me dizia na escola, sua voz pingando desprezo. — Sempre no caminho. Sempre tentando se agarrar a coisas que não pertencem a você.
A porta do banheiro se abriu, e Kyle voltou. Rapidamente enxuguei meus olhos, mas não consegui esconder o quão pálida eu estava. Meu reflexo na janela mostrava o fantasma de uma mulher.
— Você parece doente — disse Kyle, sua voz fria e distante. Tão diferente de como ele havia falado com Taylor momentos atrás. — Vá ver um médico amanhã.
Virei-me para encará-lo, envolvendo meus braços em volta de mim mesma.
— Você falaria com Taylor assim?
As palavras escaparam antes que eu pudesse detê-las.
A expressão de Kyle endureceu.
— Você não deveria mencionar esse nome. E não se compare a ela.
Suas palavras me atingiram como um golpe físico. Claro. Como eu poderia esquecer? Eu era apenas o plano reserva. A esposa conveniente que ficava nas sombras enquanto ele perseguia seu verdadeiro amor.
— Você está certo — disse, minha voz tremendo. — Eu não sou digna. Sou apenas a garota com quem você se casou porque seu conselho de diretores insistiu que você precisava de uma imagem estável. Sou apenas sua secretária que finge ser sua esposa.
O maxilar de Kyle se contraiu.
— Tínhamos um acordo, Mia. Você sabia o que era isso desde o início. Não tente transformar isso em algo que não é.
Ri, mas soou mais como um soluço.
— Um contrato. É tudo que nosso casamento é para você, não é? Apenas mais um acordo de negócios.
— Sim — ele disse friamente. — É exatamente isso que é. Certifique-se de se ater a isso.
Minha mão instintivamente se moveu para minha barriga antes que eu me contivesse. Mas Kyle já havia se virado, indo em direção à porta.
— Tenho uma reunião cedo amanhã. Não me espere acordado.
A porta se fechou atrás dele com um clique final. Afundei na cama, minhas pernas não mais capazes de me segurar. As lágrimas que eu estava segurando finalmente transbordaram.
Como eu tinha chegado aqui? Quando me tornei essa mulher patética que aceitava migalhas de atenção de um homem que amava outra pessoa? Alguém que por acaso era a mesma pessoa que havia transformado meus anos de adolescência em um inferno vivo?
Lembrei-me da primeira vez que vi Kyle. Foi em uma festa do colégio, uma na qual eu não deveria estar. Taylor tinha se certificado de que eu soubesse que não era bem-vinda, mas fui mesmo assim. Kyle estava lá com seus amigos, alto e bonito em seu uniforme de futebol americano. Ele só tinha olhos para Taylor.
Todos sabiam que eles eram o casal perfeito. Kyle Branson, o zagueiro estrela da família rica. Taylor Matthews, a bela líder de torcida com a vida perfeita. E eu? Eu era apenas a meia-irmã desajeitada que não pertencia a lugar nenhum.
Mas me apaixonei por ele mesmo assim. Silenciosamente, sem esperança, me apaixonei por Kyle. Mesmo depois do colegial, quando consegui o emprego como sua secretária na K.T. Enterprises, meus sentimentos não mudaram. Se algo mudou, ficaram mais fortes.
Então veio o escândalo. A reputação de Kyle estava em risco, e o conselho insistiu que ele precisava limpar sua imagem. Ele precisava de uma esposa — alguém quieta, alguém que não causasse problemas. Alguém que assinaria um contrato e ficaria nas sombras.
Eu era a candidata perfeita. A secretária quieta que já sabia como ser invisível. A garota que o amava o suficiente para aceitar quaisquer termos, apenas para estar perto dele.
Agora aqui estava eu, três anos depois, esperando seus gêmeos enquanto ele planejava encontros com minha meia-irmã.
Levantei-me e caminhei até minha bolsa, tirando a foto do ultrassom. Na escuridão do quarto, mal conseguia distinguir os dois pontinhos minúsculos que mudariam tudo. Meus bebês. Nossos bebês. Mesmo que Kyle nunca me amasse, mesmo que essa gravidez violasse nosso contrato, eu não poderia desistir deles.
Meu telefone vibrou com uma mensagem de texto. Era de Linda, a assistente de Kyle — e a única pessoa que sabia sobre nosso casamento.
"Você está bem? Você pareceu estranha hoje."
Encarei a mensagem, minha visão embaçando com lágrimas frescas. Não, eu não estava bem. Eu não estava bem de jeito nenhum.
Mas eu tinha que ser forte. Pelos meus bebês, eu tinha que encontrar uma forma de ser forte.
Respondi com um simples "Estou bem" e desliguei meu telefone. Amanhã, teria que voltar ao trabalho. Teria que sentar na minha mesa e fingir que tudo estava normal. Teria que assistir Kyle e Taylor juntos, sabendo que carregava seus filhos sob meu coração.
Enquanto me deitava na cama, uma mão descansando protetoramente sobre minha barriga, tomei uma decisão. Não contaria a Kyle sobre a gravidez. Ainda não. Não até descobrir o que fazer. Esses bebês eram meus. Eles eram a única coisa real nesse casamento falso. E eu os protegeria, não importa o que me custasse.
O som do carro de Kyle ligando na entrada me fez estremecer. Ele estava indo embora, provavelmente indo para seu apartamento cobertura no centro. Aquele onde ele ficava quando não queria brincar de casinha com sua esposa contratual.
Encolhi-me ainda mais sob os cobertores, tentando encontrar calor na cama vazia. Amanhã seria mais um dia de ser a esposa invisível. Mas esta noite, na escuridão do nosso quarto, permiti-me chorar por tudo que eu poderia perder quando a verdade finalmente viesse à tona.