Capítulo 06

— Fiquei muito feliz quando o vi aqui. — Disse Christopher para Kurt, seu antigo sensei. Estavam sentados sozinhos, parte dos convidados já estava indo embora. O karaokê já tinha sido desligado e o restante do pessoal estava terminando os trabalhos.

— Claro que eu não perderia algo assim, Christopher -sama. - Disse o outro. Kurt tinha trabalhado para a família real, era professor de karatê de Christopher . Durante toda a infância e adolescência do príncipe, tinha treinado o jovem, algo que só acabou quando o mais velho casou. Christopher treinava com outro mestre, David Samone.

— Você sabe que não precisa me chamar assim. - Lembrou Christopher . Já estava um pouco alterado, mas ainda bem consciente.

Kurt sorriu.

— É um hábito que demora a morrer. Kareni não veio por causa que teve que ficar com Ayla que está resfriada, mas mandou parabéns. - Falou referindo-se a sua esposa e filha.

— Ayla está bem? - Perguntou Christopher , olhando a feição de seu antigo mestre com atenção. A filha de Kurt tinha uma saúde frágil desde o seu nascimento.

— Está.. só com o cansaço de sempre por causa da asma. Mas e você? Seus pais? Sei que estou devendo uma visita. - Disse o moreno.

— Bem, eu estava precisando de uma noite assim. Meus pais estão no meu pé.. 23, você sabe.

Os olhos de Kurt se arregalaram.

— Eu achei que você já tinha resolvido isso Christopher .

— Se com resolver, você quer dizer pedir alguém em casamento, não. Minha casa quase veio abaixo semana passada. - Christopher passou as mãos nos olhos, o cansaço estava do dia longo que teve estava batendo. Eram quase 3 da manhã.

— A Imperatriz está no seu pé?

Christopher sorriu fraco.

— Ela está em todo o lugar, isso sim. Mandou uma mensagem pras amigas perguntando sobre como estavam as filhas. Eu recebi um portfólio no café da manhã. - Christopher não citou o bilhete sutil da mãe que dizia: “escolha”. Havia ido dormir na casa de Madelaine naquela noite, depois de brigar com os pais, algo incomum.

Kurt riu. - A Imperatriz é dureza mesmo.

— Sei que é uma merda de tradição e já bisbilhotei aqueles documentos de trás pra frente e nada. Não parecia muito ruim a algum tempo, - Disse ele, referindo-se a ideia de casar. - Mas agora, parece péssimo.

— Você sempre lidou bem com os seus deveres. - Disse Kurt. Não conseguia lembrar de algum onde Christopher fez birra por ter um fardo tão grande em suas costas. Ele estava sempre feliz com as responsabilidades? Não, mas também não era do tipo que ficava chorando.

Christopher ponderou um pouco sobre aquilo, rodeando a borda do copo com a ponta dos dedos.

— Eu sempre soube quem era e o que deveria fazer. - Disse Christopher e sua voz soou um pouco mais baixa. — Nunca foi pesado demais, assim como sempre tive pessoas boas comigo, mas casar... não estava nos meus planos. Gostaria de fugir, mas não tem como. Ou talvez fugir seja o como — Brincou Christopher, rindo e fazendo Kurt sorrir, mostrando algumas pequenas rugas em ao lado de seus olhos vividos.

— Fugir? — O antigo segurança de Christopher olhou para a entrada do restaurante, onde Henry e outros da equipe de segurança estavam. — Acho que não. Sua babá nova chegou. — Os olhos de Christopher seguiram para lá e viu que seus seguranças já haviam chegado. Ele havia mandando uma mensagem pedido um favor. — Talvez você tenha adiado porque não queria ter que lembrar desse lado da responsabilidade. Mas é exatamente o que te faz responsável. Ficar e lutar, não é? Eu vi você falando com várias garotas .. gay sei que não é. — Riu um pouco, lembrando que já tinha visto uma revista Playboy no quarto de Christopher quando ele estava na puberdade — Mas você não olha nenhuma de outra forma? - Perguntou ele com curiosidade — Nem sequer atração?

A questão não era essa. Não queria alguém por causa de seu status, dinheiro ou qualquer coisa do tipo. Não sentia que existia espaço em sua vida para assumir um compromisso desses se não fosse para valer. A verdade era só que não estava apaixonado e não achava que poderia ser feliz com alguém se não amasse. Tinha seu lado romântico, afinal.

— Todas essas garotas, por exemplo — Continuou Kurt, tendo a atenção de Christopher novamente em si — Eu que sou muito bem casado, não consegui deixar de reparar nelas. Todas parecem meninas bonitas e interessantes. Nenhuma te chama a atenção? Sabe que, se pedir, nenhuma pode recusar.

Christopher conhecia bem a parte a que ele se referia. O Príncipe teria que casar até os vinte e três anos ou está comprometido até seu aniversário, não cumprindo isso, perderia seu direito de sucessão ao trono. Sem falar nos arranjos que o casamento tinha que ter. Caso a notícia do pedido viesse a público, seria uma afronta à família imperial a recusa. Na opinião de Christopher , essas coisas eram arcaicas demais, mas ele estava preso pelo seu sangue à elas. O que o deixava com as mãos atadas, apenas ficando livres novamente quando colocasse uma aliança no dedo de alguma mulher.

As leis e ordenanças que eram referentes ao dever da Família Real tinham lhes sido ensinados desde pequeno. Estavam na sua família há muitas gerações, algo quase milenar. Não poderia simplesmente jogar fora. Existiam muitas outras coisas para serem cumpridas, mas atualmente aquela era sua pior inimiga.

Os olhos do loiro rodearam o ambiente, mesmo com poucas garotas presente, sabia que Kurt tinha razão. Muitas eram bem instruídas, de boa família, não eram impressionáveis com dinheiro e ele percebeu Madelaine saindo com Taylor, e ele segurava o braço dela. Antes de passarem pela porta, o olhar de Christopher cruzou com o da moça, que sorriu um pouco. O que estavam indo fazer?

Estava acontecendo algo ali.

— Elas são ótimas…mas por obrigação..

— E você é um rebelde agora? - Interrompeu o homem, com o cenho franzido. - Não pode simplesmente fazer?

Não poderia simplesmente fazer?

— O que você estava olhando? — Kurt perguntou, percebendo que não tinha a atenção do rapaz.

— Nada — desconversou, sabendo que não iria enganar seu ex-segurança e nem a si mesmo.

Madelaine estava cansada. A festa estava acabando e ela via os convidados indo embora. Via Tina sentada com a cabeça encostada em Brandon e percebeu que ela estava quase dormindo.

— Madelaine , aqui a câmera — comentou Brandon, entregando sua câmera para ela. — Você tinha pedido para ver as fotos! — Ele apertou alguns botões — passa pra esquerda.

— Bebê, vem aqui! — Chamou Tina, quase do outro lado da sala, falando com ele. A loira era mesmo escandalosa quando o álcool entrava em suas veias.. O rapaz apertou os olhos, envergonhado. Ele virou-se, deixando Madelaine com sua câmera, e ao caminhar para onde Tina estava, percebeu umas risadas de algumas pessoas.

Madelaine foi olhando as fotos, sentindo muito orgulho do talento de seu irmão, que era espantoso.. Ele conseguiu captar vários momentos deles sem perceberem e em outros, quando tinha pedido para sorrirem ou algo assim, ainda ficavam naturais. Madelaine tinha tirado algumas fotos em seu celular, mas percebeu que não tinha tirado nenhuma foto sozinha com Christopher. Algumas eram divertidas, outras mais sérias.

— Acho melhor nós irmos — Disse Brandon, olhando Tina começando a cochilar no ombro dele.

— Vocês já vão? - Perguntou Kurt, tirando a atenção de Madelaine do visor da câmera. O antigo segurança de Christopher conhecia os irmãos Carter,pois os mesmos também frequentavam o palácio da Família Imperial. O mesmo tinha conversado bastante com Brandon, enquanto esperavam Christopher chegar para ser surpreendido. - Querem uma carona? Eu não bebi.

Brandon balançou a cabeça.

— Obrigado, mas estou de carro. Sou o motorista da noite. - Agradeceu.

— Vim com o Christopher -kun.. onde ele está? - Perguntou Madelaine . Ela tinha visto o amigo beber e não era bom que ele voltasse pilotando.

— Ali atrás. Henry - san veio buscá-lo. - Kurt apontou com o polegar sobre o ombro para onde Christopher estava. Madelaine olhou e viu ele fazendo algo inusitado: estava de costas para onde ela estava, tirando a blusa. Ela viu os músculos das costas largas do loiro do enquanto ele puxava a camisa preta sobre a cabeça. Percebeu um dos seguranças entregando para ele uma blusa, agora uma cinza, que Christopher vestiu rápido.

— Porque ele estava fazendo aquilo? - Referiu-se Madelaine a aquela situação em público. Ele estava trocando de roupa na frente de vários pessoas. As garotas presentes estavam com os olhos voltados para ele. - Poderia ter ido ao banheiro.

— Parece que alguém derramou alguma bebida nele. Os homens e a praticidade. - Kurt deu de ombros. Christopher era o Príncipe Imperial, conseguir uma camisa limpa era fácil como respirar - Eu já vou indo.. Foi um prazer ver vocês! - Disse ele, cumprimentando os Carter. Tina estava dormindo. - Até mais.

— Vamos também, Mady — convidou Brandon, levantando e trazendo uma Tina sonolenta junto de si. — Vou colocar essa moça no carro. Você pode se despedir de Christopher por nós?

Madelaine assentiu.

— Brandon.. — Murmurou Tina, quando ele a levantava.

— Estamos indo, gata. — Respondeu ele, ajudando Tina a caminhar, pois seus olhos estavam mais fechados do que abertos.

Madelaine também levantou, deixando a câmera do irmão sobre a mesa e colocando sua bolsa no ombro para depois pegar seu capacete e o de Christopher. Caminhou até onde ele estava e um dos seguranças pegou os capacetes da mão da jovem, gesto que ela agradeceu com um sorriso.

— Eu já vou indo! — Avisou ela para o loiro, notando uma leve coloração no rosto dele, um rubor provocado pela bebida.

— Posso ir deixar você — Respondeu ele, tirando as chaves da moto de bolso. Henry olhou para Madelaine, que entendeu o recado. A moça negou com a cabeça.

— Você bebeu muito, Christopher — lemrou-lhe e pegou delicadamente as chaves da mão do loiro. — E eu não dirijo. Nem piloto. É melhor você ir com Henry..

Christopher pegou as chaves da mão dela, fazendo a mesma suspirar.

— Esperem lá fora — ordenou ele, com os olhos em Madelaine. Os seguranças saíram imediatamente.

— Eu estou bem, Mady, vamos comigo. Te deixo em casa.

— Não está. Você bebeu. Sabe disso. Além que, Brandon está de carro. Vou com ele.

Madelaine percebeu que Christopher estava com os olhos injetados.

— Você deve estar cansado. Não seja inconsequente — pediu — Você não é assim.

Madelaine viu algo no rosto de Christopher mudar, parecia que ele tinha levado um soco.

— O que foi?

— Nada. Você ganhou. Vou de carro — Disse ele, desviando o olhar para onde sua comitiva o esperava.

Ela tinha dito algo?

— Ah! Antes que eu esqueça. — Falou ela, tirando o celular da bolsa. — Não tiramos nenhuma foto juntos. Vamos tirar uma agora, antes de sairmos.

Madelaine ativou a câmera frontal de seu celular, sentindo que Christopher tinha chegado mais perto. Ela batia um pouco depois do ombro dele. A moça posicionou o telefone e tiraram duas fotos. Estavam em uma com a feição séria e na outra sorrindo. - Ficaram ótimas. - Comentou Mady. - Aliás, por que trocou de camisa?

— Você é linda. Ajuda. — Comentou Christopher , referindo-se às selfies. Madelaine achava seus olhos meio estranhos, e eles sempre ficavam enormes nas fotos. Já o loiro, parecia um modelo, tinha um rosto forte e os olhos eram muito bonitos. — Sarah derramou cerveja em mim. Gosto de bebê-la, não de ficar todo melado com ela !

— Ah… — ela deu uma risadinha. Tinha momentos que era o príncipe mimadinho dos filmes de Natal da n*****x.

— Quem vai limpar tudo isso? — Perguntou Thomas, aparecendo de mãos dadas com Sarah, que olhava os outros dois de perto.

— Está no nosso pacote a limpeza também. Não precisamos nos preocupar. - Disse Madelaine e bocejou. Estava ficando cansada, o dia tinha sido longo, com a apresentação do amigo, a arrumação da decoração para a festa e o próprio momento de diversão. Ela era uma alma idosa em alguns momentos e não negava isso.

— Ótimo! — O amigo não queria limpar nada, de qualquer forma. — Todo mundo já foi. Acho que querem fechar o restaurante.

— Vamos! — Disse o loiro passando o braço sobre os ombros de Madelaine , guiando-a para fora. Eles acenaram para os funcionários que estavam no balcão, onde eram produzidas as comidas, despedindo-se. Era bom que não houvesse muitas pessoas na rua, pois Mady ficava constrangida com os olhares infundados que recebia por ser próxima de Christopher.

— Vai chegar em casa bem? — Perguntou ela para o loiro, enquanto abria a porta para saírem. A noite estava um pouco fria. Esperava que ele não inventasse de pilotar depois de ter consumido tanto álcool.

— Vou. Não se preocupe. Está de carro, Thomas? — Perguntou Christopher para o amigo, que vinha logo atrás dele.

— Não, vamos de táxi — O moreno aproximou-se do amigo para um abraço de despedida. — Espero que tenha gostado da festinha.

— Melhor do que eu poderia imaginar. Obrigado. - Christopher olhou para Sarah. - Soube que estava envolvida também. Obrigado.

— Foi um prazer. - Respondeu a garota. Ela acenou para Madelaine e Christopher . - Até mais.

Thomas e Sarah foram para em direção à um táxi, que já estava esperando o casal. Além do carro de Brandon, outros 2 veículos, dos seguranças de Christopher, estavam estacionados.

— Também já vou indo. - Disse Madelaine para o loiro. Ela o abraçou meio de lado, mas Christopher passou os braços pela sua cintura e a segurou. — Foi pra te fazer feliz. Espero que tenha dado certo. - Disse ela, referindo-se a comemoração. Christopher não a soltou.

— Seu objetivo foi mais do que alcançado — Ele riu, soltando a moça e ficando de frente pra ela. — Boa noite.

— Bem, eu já vou. Boa noite. - Disse Madelaine . Quando virou-se, Christopher puxou seu pulso delicadamente, impedido-a de ir. Os grandes olhos perolados os encaravam sem entender. - O que foi?

Christopher mordeu o lábio.

- Você ficou com o Taylor?

Os lábios de Madelaine abriram-se um pouco, num pequeno 'o’.

Esse era Christopher , direto como uma bala.

— Por que está perguntando isso?

— O que foi fazer com ele, quando vocês saíram? — Perguntou ele, em um tom de voz que Madelaine não estava conseguindo entender. — Taylor é bacana, mas não sei se ele é o cara certo para você e …

— Não é como se eu te devesse satisfação. - Replicou ela. - O que quer dizer com isso?

Christopher também não sabia, mas agora já tinha começado.

— Ele ficou olhando pra você e Tina como se fossem pedaços de carne enquanto estavam no karaokê. Se não acredita em mim, pergunte ao Brandon. Ele viu também.

Foi a vez de Madelaine recuar um passo.

— Está falando sério? - Ela estava se referindo tanto à aquela acusação quanto aquele interrogatório.

— Você sabe que sim.

Madelaine esfregou os olhos, querendo muito se segurar para não dizer uns palavrões.

— Não aconteceu nada, beleza?

— Está falando sério? — Ele repetiu a pergunta dela, só diferenciando o tom de incredulidade de Mady para um profundo sarcasmo.

— Não é como se a minha boca fosse de fácil acesso para qualquer cara que aparecesse Christopher — explicou ela, apertando a alça de sua bolsa com as mãos, quase soltando fogo pelas ventas. — E ainda não vi como isso possa ser da sua conta.

— Desculpe. Não foi o que eu quis insinuar. Na verdade, esqueça isso, pode ser? É melhor eu ir. Boa noite e obrigado outra vez — Chris foi inteligente para desconversar rápido, caminhando até seu carro, onde um dos seguranças abriu a porta para que Christopher entrasse. Antes de entrar, ele olhou Madelaine, para quem lançou um meio sorriso.

Ela apenas o olhou ir embora, com os olhos estreitos na direção dele.

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