No exato instante em que Helena, amada de Arthur, chegava, meu celular tocou. A voz rouca do sequestrador ecoou na linha:
— Preciso de 20 milhões! Uma hora para deixar o dinheiro debaixo da ponte central. Se chamar a polícia, vou matar os reféns na hora!
Por instinto das memórias da vida passada, ativei o viva-voz. Arthur ouviu tudo, seu rosto endurecendo como mármore.
— Tão desesperada para afastar Helena, Bruna? — Sua gargalhada cortou o ar como navalha. — Montou esse teatro com meus pais?
Dessa vez, nem lágrimas, nem súplicas. Em vez disso, respondi com uma calma que surpreendeu até a mim mesma:
— Não estou encenando nada. Seus pais estão com sequestradores. Precisamos de 20 milhões para o resgate. Vá buscar o dinheiro agora.
Arthur olhou para mim com frieza, sua expressão impenetrável.
— Por não te amar, resolveu me assaltar?
Eu conhecia cada dobra daquela alma há vinte anos. Havia salvado-o de um acidente na infância, e as famílias nos amarraram num noivado. Sabia do nojo que sentia pelas minhas origens, do coração que batia por Helena no exterior. O amei mesmo assim.
Na véspera do casamento, ofereci a saída:
— Se você não quer se casar comigo, ainda pode correr atrás de Helena. Não vou impedir.
Ele nem sequer olhou para mim, apenas respondeu com indiferença:
— Escolhi isso.
Depois do casamento, ele se tornou ainda mais distante. Ele nunca me fitava com doçura. Eu engolia a mentira de que seu gelo era natureza, não desprezo.
Até o dia em que Helena desembarcou. O sorriso que ele havia guardado por anos me esfaqueou.
Desde o princípio, ele nunca esteve ao meu lado.
Eu o encarei com uma decepção que já não podia ser ignorada. Com uma voz calma, mas firme, eu disse:
— Nunca quis seu dinheiro e jamais usaria um método tão baixo. Acredite ou não, seus pais foram sequestrados. Eu não estou encenando nada. Se você confia em mim, vamos à polícia. Se não, saia da minha frente e não me atrapalhe em salvá-los.
Se foi minha serenidade de glaciar que o chocou, ou o fato de nunca antes ter batido o pé, Arthur se transformou em estátua.
Ao empurrar Helena para passar, ela caiu com um guincho teatral.
— Ai, que dor! — Lágrimas de cristal escorriam pelo rosto de boneca. — Arthur, não fique bravo com a Bruna. Ela não fez de propósito.
A sombra de uma nuvem de ódio cobriu o rosto de Arthur. Num impulso animal, disparou em direção a Helena e a ergueu nos braços como frágil boneca de porcelana. Só então notei o fio de sangue escorrendo de sua palma.
Ele se virou para mim com um grito cheio de raiva:
— Se algo acontecer com Helena, vai pagar caro!
Ele correu como furacão para o hospital, me deixando na solidão daquele quarto enorme.