Um grito escapa dos lábios de Vivienne, afogado pelo pavor coletivo no carro. Os outros passageiros também gritam, o som de puro terror preenche o espaço apertado. Dedos implacáveis se fecham ao redor de seu tornozelo, puxando-a com força. Seu corpo desliza pelo banco, a pele roçando no estofado, enquanto ela se debate freneticamente, chutando no ar, tentando se agarrar a qualquer coisa.O homem do lado de fora sorri. Um sorriso maléfico, sombrio, como se já soubesse que havia vencido. Com a mão livre, move-se com calma assustadora e, em um estalo seco, destranca a porta.— Não! — Vivienne grita, sua voz rasgando o caos ao seu redor. Ela se debate freneticamente, chutando, tentando se livrar do aperto feroz em seu tornozelo. Seus movimentos são desesperados, descoordenados, impulsionados pelo puro instinto de sobrevivência. Suas unhas cravam no estofado, seu corpo se contorce em desespero. A dor em seu ventre se intensifica, mas o medo a impulsiona.— Nos tire daqui! — A mulher no b
Mais dois paramédicos chegam em disparada, empurrando uma maca com urgência, enquanto o primeiro socorrista, já ao lado do carro, avalia a situação com precisão, absorvendo cada detalhe em um instante.— Senhora, consegue me ouvir? — O socorrista pergunta, sua voz firme, enquanto toca suavemente o rosto de Vivienne, tentando trazê-la de volta à consciência.Vivienne pisca, mas sua visão permanece embaçada, os contornos ao redor se dissolvendo em sombras trêmulas. Os sons chegam distantes, abafados, como se ela estivesse submersa em um oceano de inconsciência. Sua boca se entreabre, lutando para moldar palavras, mas tudo que escapa é um murmúrio fraco, perdido no vazio.— Ela está perdendo a consciência! — Alerta rapidamente, a urgência transbordando em sua voz.Mãos firmes a seguram, deslizando-a cuidadosamente para fora do carro e colocando-a na maca. Quando seu corpo se deita, uma nova onda de dor brutal a atravessa e seu ventre se contrai novamente. Um grito fraco escapa de seus láb
No silêncio do escritório, Dominic observa o relógio em seu pulso, os olhos fixos nos ponteiros que avançam lentamente. Vivienne estava, no máximo, a dez minutos dali, mas já haviam se passado quinze. Seu cenho se franze levemente. Nesse horário, o trânsito nunca é um problema. Nenhum congestionamento, nenhum motivo para atraso. A sensação incômoda de que algo está errado começa a crescer dentro dele, silenciosa, mas insistente.Ele desliza a mão pelo bolso, pronto para pegar o celular e ligar para ela, mas, antes que possa fazê-lo, o som da porta se abrindo ecoa pelo ambiente. O alívio vem primeiro, dissolvendo a tensão em seu peito, e um sorriso discreto começa a se formar em seus lábios. Ele solta uma respiração que nem havia percebido estar prendendo, enquanto seu olhar se volta instintivamente para a entrada, esperando encontrá-la ali, como sempre. Mas, no instante seguinte, o sorriso desaparece.— O que você faz aqui? — Dominic questiona, a sobrancelha ligeiramente arqueada, enqu
O suor escorre por seu rosto, misturando-se ao desespero que pulsa em cada célula de seu corpo. Seus olhos ardem, queimam como se estivessem em chamas, talvez pelo cansaço, talvez pelo estresse esmagador, ou talvez, pelas lágrimas que ele se recusa a aceitar que estão ali. Ele pisca rapidamente, apertando os olhos com força, como se pudesse controlar a maré que ameaça transbordar. Ele precisa manter o controle. Precisa acreditar que ela está bem, que tudo isso não passa de mais um erro, um mal-entendido, que chegará ao hospital e a verá segura, deitada em uma cama, cansada, mas bem. Mas essa mentira se desfaz a cada segundo. Porque algo dentro dele grita.E esse grito é insuportável. Ele sente, como uma presença invisível esmagando seu peito, como um punho fechado ao redor de seu coração, apertando, sufocando, impedindo que o ar chegue aos pulmões. O medo rasteja para dentro dele, consumindo-o por inteiro. E então, como se fosse uma sentença inevitável, a memória do dia em que quase
Antes que Dominic possa avançar ainda mais pelo corredor, uma mão firme agarra seu braço, interrompendo seu impulso como se o puxasse de volta à realidade. Ele se vira, os olhos ardendo em fúria, pronto para se livrar de qualquer um que tentasse impedi-lo, mas se depara com a enfermeira que lhe deu as informações. — Senhor, não é permitido entrar assim. — Adverte, segurando-o com firmeza, sua postura profissional e inabalável. — O acesso ao centro cirúrgico exige protocolos rigorosos de higienização. — Eu não dou a mínima para protocolos. — Dominic afirma, a voz cortante, carregada de uma ameaça silenciosa. — Compreendo sua urgência, senhor, mas se deseja vê-la agora, precisa me acompanhar. — Declara, sem recuar, mantendo a voz calma. — Se insistir em entrar dessa forma, não será permitido o acesso, pois a falta de higienização e paramentação adequada pode representar um risco para a paciente, devido a possíveis contaminações no ambiente cirúrgico.As palavras atingem Dominic com a
Dominic sempre acreditou que podia controlar tudo ao seu redor, que sua vontade era suficiente para moldar o mundo conforme desejasse. Sempre teve poder, sempre teve influência, sempre teve a certeza de que nada escapava de suas mãos. Mas desde que Vivienne entrou em sua vida, ele tem aprendido, das piores formas possíveis, que algumas coisas simplesmente não estão sob seu controle.E isso o destrói. Porque, por mais que tenha tentado protegê-la, por mais que tenha feito tudo ao seu alcance para mantê-la segura, não foi o suficiente. A barreira que ele construiu ao redor dela, ao redor de sua família, foi quebrada, reduzida a nada diante da realidade cruel que se desenha à sua frente. E agora, ela está ali.Mais uma vez privada de sua própria vida. Mais uma vez impedida de viver um momento que deveria ser dela, de sorrir ao ver seus filhos pela primeira vez, de segurar suas pequenas mãos, de ouvir seus primeiros choros. Tudo o que ela deveria estar sentindo, tudo o que deveria estar v
Naquele instante, parece que a respiração de Dominic se esvai com a da filha. O tempo congela, o ar some de seus pulmões, e o pavor que o toma é visceral, brutal, diferente de qualquer coisa que já sentiu antes.Porque ele pode suportar tudo, menos isso. Menos a ideia de perder um de seus filhos, menos a possibilidade de perder Vivienne. O peso dessa realidade é esmagador, cruel, impossível de aceitar. Seu corpo se recusa a reagir, sua mente luta contra a verdade que se desenha diante dele, mas nada consegue afastar o desespero que cresce.A vida não pode ser tão cruel. Não pode levá-la assim, sem dar sequer uma chance, sem permitir que ela lute, que respire, que viva. Seu peito se contrai em um aperto insuportável ao ver o pequeno corpo imóvel, frágil demais, silencioso demais. A equipe médica se move rápido, vozes trocando instruções, mãos ágeis tentando reverter a tragédia que ameaça se concretizar, mas tudo ao redor de Dominic parece distorcido, abafado, distante.Ele quer acredit
O choro fraco e entrecortado da bebê ainda ecoa pela sala, enquanto a equipe médica continua em ação, sem perder um único segundo, mas, para Dominic, aquele som frágil e hesitante é a melodia mais preciosa que já ouviu.O peso esmagador do medo continua em seu peito, mas, por um instante, aquele pequeno choro consegue acalmar a tempestade dentro dele. Ele nem percebe quando um sorriso leve se desenha em seus lábios, um reflexo involuntário, um alívio misturado às lágrimas quentes que continuam escorrendo. Ela lutou. Ela sobreviveu.E, enquanto os médicos seguem trabalhando freneticamente para estabilizá-la, preparando-a para ser levada à UTI neonatal, Dominic continua ali, incapaz de desviar o olhar, gravando cada pequeno movimento, cada som, cada segundo daquele momento. Porque, apesar de tudo, sua filha está viva.— Saturação em elevação. O ritmo cardíaco está estabilizando. — Anuncia a médica, a voz firme, mas ainda carregada de concentração, os olhos cravados no monitor, enquanto