Capitulo 2: O vampiro Ulric

(15 anos depois)

         Depois que se levantou a Era do sangue os vampiros surgiram em grande volume dominando os homens quase que facilmente, apenas os Lycans que aparecem anos depois puderam fazer frente aos exércitos Vampiros que dominou quase toda Aaron. Estes dominaram seus territórios tomando-os de vampiros ou humanos, muitos poucos países ficaram habitados somente por humanos, a maior parte das nações de Aaron foram tomadas por vampiros e lycans que governaram estes países, alguns de forma tirana, outros a favor da união, mas dois países não se dobraram as duas maiores raças da cadeia evolutiva, as nações de Carvétia e a milenar Minawar; Estes dois países se uniram e através de um pacto formaram um sólido tratado que defendia a independência dos humanos e como eram duas nações poderosas  conseguiram respeito suficiente entre as outras nações e tomaram seus lugares na nova ordem mundial imposta a  Aaron.

         Porém suas leis eram levadas à risca e era lei para eles que nenhum vampiro ou lobisomem podia entrar em nenhuma das cidades sob pena de morte imediata e para levar a punição aos infratores e também para enfrentar os países inimigos que por ventura quisessem desafiar-lhes, formaram uma ordem de guerreiros destemidos e bem treinados para combater qualquer ameaça que se levantasse contra eles, lhes deram o nome de  “A Irmandade Mortal”. O maior guerreiro deste exército foi conhecido como “O Caçador de Demônios”, ele foi o principal fundador da irmandade e o maior Matador de vampiros e lobisomens que já havia existido em Aaron, mas o tempo jogou seus dados e mudou radicalmente a vida de Ulric.

       

       

         Já havia dois dias que Xavier estava infiltrado em Minawar, viajará por três países atrás de dois ladrões que invadiram o palácio dos Hassel`s e roubaram uma antiga relíquia dos ancestrais de Constancius, a peça pertenceu ao imperador Cômodo Hassel o libertador de Hillmond e era de valor inestimável entre as relíquias dos imperadores passados, tratava-se de um bracelete confeccionado em puro ouro e adornado com diamantes que Cômodo usara no dia em que tomou o país do tirano Odroako, esta peça fora passada de geração em geração entre os imperadores Hassel`s.

         Ykarus chegara a ponto de brigar com Xavier para que este mandasse outros na missão de recuperar a peça, mas o orgulho ferido do guerreiro não o deixou dar ouvidos ao irmão imperador, então recrutou cinco guerreiros e partiu para recuperar a relíquia roubada, já havia conseguido recuperá-la e punir os ousados ladrões, tentavam retornar sem chamar a atenção, pois entraram sem permissão em Minawar e isto é praticamente um suicídio tanto para vampiros quanto para lobisomens, agora ele e seus companheiros estavam sendo perseguidos madrugada afora por uma tropa da irmandade e para maior infortúnio deles a tropa em questão era formada por alguns dos mais fortes deles e comandada pessoalmente por Ulric o mais letal caçador entre os humanos.

         Xavier estava preocupado em ser reconhecido afinal ele era uma das autoridades de Hillmond e mesmo já tendo passado a Wereck o cargo de general ainda pertencia à família imperial por isto se fosse capturado invadindo território alheio isto poderia implicar em um problema diplomático muito maior, por conta de toda esta preocupação ele quase foi abatido esta noite, apesar de os humanos serem mais fracos fisicamente eles sempre criaram artifícios que reduzia suas desvantagens e nesta noite a caça era relativamente aos vampiros, foram cercados pela tropa humana e seguiu-se um violento confronto um dos artifícios humanos provém de magos que conhecem grandes feitiços aprendidos através das antigas escrituras dos Dragonitas e outros pergaminhos de mestres da magia antepassados.

         Usando este poder com um movimento de mãos um velho mago fez dois dos vampiros caírem em chamas, Xavier e seus três companheiros restantes então usaram as trevas dos prédios baixos para se reagruparem e quando os guerreiros humanos invadiram esta área fechada houve o choque entre os inimigos; De um salto rápido e violento Xavier fez jorrar o sangue do velho mago pego de surpresa, seu corpo pendeu para o lado na cela do cavalo deixando à vista a garganta estraçalhada pelo golpe da espada, os outros atacaram, dois cavaleiros tombaram transpassados e um vampiro perdeu um braço em um golpe desajeitado contra Ulric, não teve tempo para se preocupar com o membro amputado, pois com um giro da sua espada o caçador fez sua cabeça rolar pelo chão e a luta seguiu feroz, o que os vampiros tinham em força os humanos tinham em armamentos e armaduras; Jogando-se para frente Xavier esmagou contra uma parede a cabeça de um dos caçadores mais adiantados enquanto investiu contra o próximo com brutalidade decepando-lhe ambas as pernas com um movimento rápido e certeiro não dando tempo de reação ao inimigo que rolou no chão vertendo esguichos de sangue e se debatendo devido à dor terrível causada pelo ferimento mortal, neste momento Ulric e seus companheiros atacaram impiedosamente os outros vampiros que se mostraram menos aptos a enfrentar os caçadores, com uma agilidade pouco comum aos humanos Ulric fez jorrar o sangue vampiro na escuridão dos becos brandindo sua espada levou mais um vampiro por terra ao fazer suas tripas se espalharem pelo chão com um golpe rápido e certeiro em seu abdômen, porém os outros dois não eram tão lentos quanto os anteriores e reagiram com violência os dois caçadores ao seu lado não resistiram à investida e caíram se contorcendo em poças feitas pelo seu próprio sangue; Ulric agora só, lutou bravamente decepando a mão armada de um dos agressores, porém com a chegada de Xavier que estava mais a distância sabia que não teria chance, mas não era da natureza de Ulric entregar-se então atirou-se com fúria contra os inimigos bradando frases de guerra , Xavier com um movimento rápido escapou por centímetros da lâmina que procurava seu pescoço esta por sua vez foi encontrar o crânio de outro vampiro que estava atrás dele, a lâmina estraçalhou a cabeça do inimigo espalhando pedaços de ossos e cérebro pelo chão por fim prendendo-se em uma viga de madeira Xavier encarou o caçador agora desarmado que retribuiu o olhar mostrando fúria em seus olhos o Hassel aprontou sua espada para atacar o adversário que neste momento era uma ameaça, partiu para o ataque, Ulric por sua vez não se intimidou, permaneceu no lugar e esperou, quando Xavier ergueu a espada perto o suficiente ele reagiu em um movimento rápido desviou-se do golpe com uma agilidade sobre humana e agarrou nos pulsos de Xavier torceu-os fazendo o vampiro soltar a arma, desferiu em seguida um soco no rosto dele que o fez cambalear, Xavier procurou não cair no chão, equilibrou-se com algum esforço olhou para o adversário que o encarava em posição de combate, isto afetou o orgulho do antigo general dos Hassel’s, olhou nos olhos do adversário mostrando fúria e partiu de mãos nuas para o combate, Ulric não recuou e ficou esperando o inimigo que caminhou em passos lentos de encontro a ele, ao se encararem houve um tempo de hesitação até que Ulric desferiu um soco na cara de Xavier que ao mesmo tempo desferiu outro no rosto dele, nenhum dos dois moveram-se do lugar a não ser suas cabeças que penderam para trás para voltarem depois a mesma postura, continuaram se esmurrando até que o vampiro que perdera a mão investiu furioso contra Ulric e o agarrando com força pela cintura e se jogou com ele para um canto escuro, humano e vampiro mergulharam atracados em uma pequena ruela de ladeira, na luta o vampiro estraçalhou a garganta do caçador que retribuiu com sua adaga de prata no coração dele, estava terminada a caçada com perdas para ambos os lados.

         Xavier o único sobrevivente do combate se preparava para retornar a Hillmond, mas uma idéia lhe atormentava, cinco bons soldados mortos por um bracelete mesmo sendo uma relíquia de valor impagável para os Hassel`s não sentia conforto algum pela perda dos seus homens, mesmo sabendo que o maior orgulho para um soldado Hillmondiano era perecer em combate já que desde as primeiras gerações deles sempre foram guerreiros, não havia maior honra para eles. Diziam os estrangeiros que os Hillmondianos eram os legítimos filhos de Azrael o Deus Guerreiro, e que eram enviados por este para viver pela espada e morrer pela guerra!

         Pronto para partir verificou se o bracelete estava no seu lugar em uma bolsa de couro pendurada às costas, arrumou a espada na bainha e começou a caminhar para procurar refúgio na noite, mas passando pelo local da batalha notou que a vida ainda não tinha abandonado o caçador Ulric, este por sua vez o impressionara muito, mas agora já estava infectado pelas presas do outro vampiro, para se transformar precisaria beber do sangue vampirizado ou se transformaria em um zumbi sem alma, Xavier parou por um tempo observando o guerreiro, lembrou-se da bravura dele e decidiu então que não devia deixá-lo perecer, afinal poucos guerreiros lutavam com tanto afinco e coragem ao se jogar para a frente mesmo contra inimigos por sua vez mais fortes e em maior número sem exitar ou mostrar medo nos olhos, não isto era para poucos vira muitas vezes guerreiros humanos, vampiros ou lobisomens  fugir, se esconder ou implorar por clemência nas condições dele, mas ele não, era superior  aos demais e tal guerreiro não podia ter um fim assim  em um beco sujo, mas seu corpo humano estava muito danificado, decidiu então doar seu sangue fazendo-o um vampiro como ele.

         Já se passaram três horas desde que Xavier vampirizara Ulric e ambos estavam escondidos no fundo de um celeiro, precisariam de mais um tempo, pois o recém transformado não consegue se mover com facilidade antes da primeira dose de sangue e até se completar a transformação que pode levar até duas noites, mas novamente Ulric surpreendeu Xavier, recuperou rapidamente a consciência e deparou-se com algo que ele jamais sonhara acontecer, chocou-se com seu novo estado, ele era agora um vampiro, uma criatura da qual tinha dedicado a vida para destruir, perplexo com sua atual condição atracou-se com Xavier, mas ainda estava fraco para subjugar o adversário que por sua vez tentou acalmá-lo, mas Ulric desvencilhou-se dele e fugiu noite adentro de volta a sua fortaleza.

         Xavier achou melhor não tentar impedi-lo, ele teria que aceitar sua nova condição por si só.

         Já era o final da madrugada quando alcançou sua fortaleza, deparou-se em frente aos grandes portões da poderosa estrutura, estava coberto de barro e sangue acabou por assustar os guardas e o mago que esperavam o retorno de seu grupo de caçadores, logo que o mago o avistou observou a terrível ferida em seu pescoço e de imediato teve a certeza de que este havia sido infectado, isto era uma verdadeira tragédia para eles afinal Ulric já era um guerreiro imbatível e de poder incomum para os padrões humanos, agora como vampiro o mago via uma criatura ameaçadora a sua frente que se voltada contra eles poderia representar um perigo extremo para a Irmandade, sem demora deu comando para que os guardas atacassem, não tinha como saber se a vampirização estava completa, mas não podia arriscar seu antigo aliado agora era um deles e representava uma ameaça grande demais, aos gritos os soldados jogaram-se contra o enfraquecido e atordoado Ulric que conseguiu evitar o ataque se desvencilhando das espadas por pura sorte, mas não tinha forças para escapar da próxima investida, cambaleou para a frente tomado por uma forte exaustão, as palavras do mago que aos gritos pedia sua cabeça a qualquer custo embaralhar sua mente não o deixando pensar.

         Neste momento da escuridão ouviram barulhos de cascos de cavalos e logo viram Xavier montado em um corcel num galope frenético em direção a eles, tal foi a surpresa que os guardas ficaram sem ação e só puderam assistir o vampiro agarrar Ulric e sumir na escuridão sem sequer olhar para trás.

         Uma hora depois os dois adentravam os campos nos arredores de Carvétia, Xavier havia mandado um mensageiro avisar para Ykarus assim que localizou os ladrões, como tinha certeza da captura dos gatunos e a recuperação da relíquia marcou para encontrar-se com ele na taberna do negociador no tempo estimado, então até poderia atrasar alguns dias, pois se caso fosse preciso o imperador se hospedaria na casa do amigo, Hillmond não era tão longe de Carvétia suas matas e bosques se fundiam em certas partes, se viajasse em linha reta pelas florestas do país dos humanos sairia em pouco tempo nas matas ao oeste de seu país, ainda teria que explicar o novo vampiro que neste momento estava inconsciente na garupa do cavalo, e explicar isto não seria fácil, afinal à pessoa em questão era nada mais que o maior caçador de vampiros que já existirá em Aaron, implacável e impiedoso pouco foram os vampiros e lycans que cruzaram seu caminho e viram outro dia. Além disso tinha que ser cauteloso, pois se a Irmandade Mortal os tivesse seguido e os encontrassem estaria em uma situação difícil, da mesma forma poderia por infortúnio encontrar uma brigada qualquer de lycans vindo de algum saque e isto da mesma forma seria fatal.

         Logo encontrou uma aldeia humana, como a aparência da aldeia era de uma tranqüila vila agrícola decidiu visitá-la de passagem para reabastecer e também talvez tomar uma caneca de vinho, porém ao sentir o pútrido cheiro de morte que se alastrava a distância logo na entrada da vila já sabia o terror que viria adiante.

         Pelo estado dos corpos a aldeia inteira devia ter sido chacinada a pelo menos uns seis ou sete dias, o cenário bizarro não contrastava com os belos campos ao redor, a aldeia era de aparência pobre formada por humildes cabanas de madeira e pedras, cobertas por tetos de palha, não aparentavam ser antigas, mas o que era para ser uma vila com humildes camponeses lavrando suas terras ou trabalhando em suas colheitas e dividindo sua safra, fora transformada em um terrível cemitério a olho nu, com corpos putrefatos espalhados em meio aos destroços e cinzas de suas cabanas.

         Xavier desmontou na entrada da vila e prendeu seu cavalo em uma cocheira parcialmente destruída, já vira muitos massacres e mortes antes afinal sempre viverá no meio de guerras, a morte tornara-se algo comum, mas ver vítimas mais frágeis estraçalhadas, como mulheres, velhos e crianças, ainda lhe revirava o estômago; Procurou um lugar para deixar Ulric, colocou-o em um canto da mesma cocheira que ainda tinha metade do seu telhado em pé, com um pouco de sorte encontraria uma ovelha ou quem sabe um boi do qual pudesse conseguir sangue  para o guerreiro que precisaria ao final da transformação, e para ele mesmo que estava desgastado depois da luta em Carvétia, apesar da batalha não teve tempo para beber, não queria perder tempo para não correr o risco de encontrar-se com outra tropa, adentrou as ruínas da aldeia o cheiro horrível dos corpos em decomposição invadiu suas narinas, a morte não o incomodava mas a cena a sua frente era desoladora, corpos dilacerados estavam espalhados por todas os lados, muitos serviam de alimento para animais selvagens que já havia devorado uma grande parte das vítimas, nada havia sido poupado, nem os animais.

         Depois de atravessar a vila e não encontrar nada vivo estava prestes a voltar quando algo chamou sua atenção, uma pilastra caída a certa distância, era feita de um material muito diferente das cabanas de barro ou madeira, era pedra bem mais sofisticada, andou na direção da peça de arquitetura e deparou-se com uma barreira feita de plantas muito alta, cortou algumas e viu que do outro lado a grama apesar de crescida era mais bem tratada, abriu caminho e saiu no que parecia ter sido um jardim, olhou para frente e viu os restos de uma construção bem diferentes das cabanas de madeira e barro, sua estrutura em grande parte destruída se assemelhava a outras construções que já vira em muitos países que visitará, adentrou o templo destruído e dirigiu-se às dependências que ainda se mantinham firmes tendo certo trabalho para pular os escombros da torre primária, que jazia demolida em frente à abóbada principal, em fim chegou até abóbada que era a dependência central  e ainda se mantinha em pé, assim que adentrou o local deparou-se com uma cena surpreendente, vestidos com grandes túnicas escuras geralmente usadas por magos haviam sete corpos presos pelos antebraços e pés em grandes moirões de madeira sobre um enorme altar central, seus pulsos estavam transpassados um sobre o outro acima da cabeça com estacas de prata assim como seus pés, a cena obviamente fora um ritual macabro, a carne de seus corpos apodrecidos escorriam de seus ossos, o chão ao redor do grande altar estava coberto com restos de pergaminhos e livros destruídos, duas coisas lhe chamou a atenção, primeiro na túnica dos mortos um símbolo formado por dois dragões  um vermelho e outro negro circulando uma jóia metade vermelha metade negra, a outra foi a escritura acima das cabeças dos magos, em cada cruz havia escrito de forma bem legível, “O primeiro dragão, das chamas ressurgirá”, aproximou-se dos corpos tentando descobrir algo mais e tardiamente ouviu o sibilar de uma flecha que transpassou seu ombro e atravessou a omoplata, instintivamente rolou no chão abrigando-se atrás de um dos moirões de sacrifício, olhou na direção de onde partira a flecha e pode distinguir um vulto furtivo em um corredor acima da sala, tentou chegar a um lugar de onde tivesse mais visão e outra seta passou por ele quase cortando sua orelha, ficou onde estava sentia-se fraco pela falta de sangue e amaldiçoou a si mesmo por não ter se alimentado depois da batalha, o inimigo era rápido e outra flecha cortou o ar cravando-se em sua perna direita rasgando músculos e esmigalhando parte do fêmur, então notou que os corredores circulavam todo o local e que ele não tinha como se proteger tornando-se um alvo fácil, estava pensando em uma forma de contra atacar mas de repente ouviu um grito, barulhos abafados de uma rápida luta então um corpo usando túnica semelhante as do outros sacrificados foi jogado de cima do corredor, já sem vida com um punhal cravado no peito e um cesto de flecha as costas, olhou para a área acima e qual não foi sua surpresa, Ulric fitava-o com um olhar de ódio e desafio, então ele perguntou ao caçador:

         --Vai terminar o serviço pessoalmente?

         --Não acabarei com você assim indefeso! Quero ver o quanto é bom com uma lâmina nas mãos, só assim arrancarei sua cabeça! Mas lembre-se que estamos quites agora, pois se eu não o salvasse este arqueiro iria te fazer de peneira!

         Falou isto e depois virou as costas, então Xavier perguntou.

         --Desde quando você está aí?

         --Desde quando me deixou na cocheira.

         Ulric sumiu na escuridão da área acima, Xavier quebrou a flecha que atravessou seu ombro jogou fora a parte traseira da seta e arrancou a ponta que atravessou a omoplata, fez o mesmo com a da perna, mas a ponta desta não atravessou ficando presa nos músculos de trás do fêmur, levantou mancando e ia se dirigir ao estábulo, mas parou por um momento pois lhe chamou a atenção um pequeno medalhão que estava pendurado no pescoço do homem morto por Ulric, aproximou-se e observou a peça, era pequeno e circular, tinha em alto relevo um dragão rodeando uma jóia negra reluzente sem saber por que decidiu guardar o estranho medalhão. Saiu das ruínas pensando não mais encontrar seu cavalo ou Ulric que na certa deveria ter partido com o animal e largado ele para os abutres, errou de novo, encontrou Ulric atrelando o cavalo a uma pequena carroça de carga ao velo Ulric falou:

         --Você demorou pensei que tinha perecido com apenas duas flechas, não me parece tão forte!

         --Obrigado pelo elogio, mas não sou tão fácil de se livrar! O que você vai fazer agora que está do meu lado da balança?

         --Você já tirou a minha humanidade agora não tenho mais nada entre os meus!

         --Bem, venha comigo para Hillmond, eu tenho bastante influência perante o imperador, quem sabe te arranjo algo no exército um guerreiro sempre é bem vindo na terra do Deus Guerreiro!

         --Na minha nova condição qualquer oferta é uma perspectiva de futuro, mas não se esqueça que um dia me vingarei de você por ter me transformado em um monstro, lembre-se vampiro, enquanto meus braços puderem levantar uma espada pode esperar minha vingança!

         --É, vejo que nos daremos muito bem!

         Sem dar ouvidos ao sarcasmo de Xavier, Ulric sentou no banco de condutor da carroça, pegou as rédeas e fez menção para ele subir, Xavier caminhou na direção dela mancando e deitou na parte traseira, então Ulric falou.

         --Indique o caminho e se cure para que não tenha desculpas quando eu esmagar seu crânio!

         Saíram do campo e entraram na primeira província de Hillmond algum tempo depois, era quase o final da madrugada quando chegaram à taberna do negociador onde Xavier iria se encontrar com Ykarus e Amud,

         Goldar era conhecido como o negociador pois não havia em todo o país homem que não conseguisse qualquer apetrecho, mercadoria, armas, negociatas, acordos e o que mais desejasse dele, bastava ter ouro suficiente para a encomenda e conhecer algum amigo dele, que o contratante teria o que desejasse, independente da raça.

          Certa vez Ykarus lhe salvará o filho e deste dia em diante Goldar assumiu uma dívida de honra com o imperador Hassel que cumpria a risca, desta forma tudo o que o imperador queria Goldar atendia e até ficava ofendido se por ventura Ykarus não o procurasse num momento de precisão.

         Pararam a carroça e desceram em frente à taberna de onde saia um barulho ensurdecedor de música mesclada a gritos de mulheres e homens, Xavier, ainda mancando olhou para Ulric e falou.

         --Espere um minuto, os outros não sabem ainda sobre você, e não vai ser nada fácil explicar!

         Ulric olhou-o e permaneceu quieto, pegou nas rédeas do cavalo e conduziu-o a uma cocheira próxima.

         Xavier adentrou o local e avistou seu irmão e Amud sentados em uma mesa escondida a um canto pouco iluminado, ambos usavam túnicas com grandes capuzes para disfarçar o semblante, pois não seria bom que pessoas inoportunas reconhecerem o imperador em tal local, inclusive por que o negociador era um tipo de vantagem secreta de Ykarus e apesar de todos os presentes saber de sua presença ninguém ali ousaria desmascará-lo!

         Xavier andou na direção deles, Ykarus ao vê lo levantou e o abraçou em seguida perguntou.

         --Onde estão os outros?

         --Tivemos contratempos em Minawar, recuperamos o Bracelete, mas tivemos que enfrentar a Irmandade Mortal, apenas eu sobrevivi do combate eles estão cada vez mais fortes!

         --Eu avisei a você para tomar cautela com eles, veja no que deu, cinco bons soldados mortos por um bracelete e você ainda está ferido, quando vai deixar de ser tão cabeça dura?

         --Nossos guerreiros morreram bravamente da forma que escolheram morrer, morreram livres afinal qual seria a morte apropriada para um guerreiro? Deitado em uma cama? Velho é inválido? Ou cuspindo no olho da morte? E não concordo com seu desprezo a relíquia deixada por Cômodo para suas gerações que o procederam, se começam a roubar nossa história e nós deixamos, daqui a pouco estão roubando nossos filhos e mulheres e até nossas roupas!

          Ykarus sacudiu a cabeça, pois sabia que não adiantava tentar conversar com Xavier quando este não queria ouvir, decidiu deixar como estava, afinal seus guerreiros realmente morreram da forma que escolheram, lutando!

         --Está bem Xavier, prefiro não discutir isto com você vamos embora!

         --Espere não estou sozinho!

         --Pelos Deuses! Espero que não tenha adotado nenhum cachorro abandonado!

         --Mais ou menos!

          Xavier não precisou chamar neste momento Ulric entrava no local que silenciou com a presença inoportuna do guerreiro trajando a armadura da Irmandade, a terrível armadura branca adornada por uma cruz vermelha no peitoral, mesmo sem o elmo fechado que era peça fundamental para inspirar medo, mas esta tática de persuasão pode neste momento ser substituída pela ferida no pescoço de onde grande quantidade de sangue banhou sua armadura o deixando ainda mais sinistro do que já era antes, o que mais chamou a atenção de todos os presentes era o fato de que ele era o maior caçador humano, tendo fama em quase todos os países ao redor de Carvétia e Minawar, por conta disso era também temido ao mesmo tempo que odiado, e ao tentar se dirigir ao grupo na mesa foi interceptado por um enorme homem muito corpulento, careca e que tinha uma grande cicatriz no rosto que descia pela testa e acabava no queixo. O indivíduo falou para ele:

         --Volte para a Carvétia enquanto tem pernas verme, não gostamos de caçadores aqui! Começou a sorrir copiosamente mostrando seus dentes amarelados.

         Ulric sem ao menos olhar para o interlocutor agarrou-o pelo pescoço com a mão direita e girou-o no ar em uma manobra inacreditável, estourou a cabeça do infeliz em um banco ao lado da mesa onde estavam os vampiros, pedaços do cérebro se espalharam pelo chão e automaticamente todos no local levantaram-se de armas em punho já encontrando a de Ulric fora da bainha pronta para ser usada, antes que uma luta começasse no local Ykarus interveio, e com um aceno de mão dele todos no bar guardaram suas armas e voltaram para suas distrações.

          Ulric se aproximou da mesa ainda de espada em punho, Xavier levantou-se de imediato com a sua espada a mostra, os dois encararam-se mostrando que agora estavam dispostos a travarem a luta adiada, mas Ykarus também se levantou e encostou a mão direita no peito de Xavier colocou-se entre os dois, encarou Ulric que destilava ódio em chispas quase palpáveis, então falou.

         --Então você é o grande caçador Ulric? Ouvi falarem muito de você em meu país!

         --Se me conhece sabe que sua morte está próxima!

         --Não creio! Pelo que vejo agora não é mais o caçador, e tem muitos inimigos entre os monstros, sabe quanto vale a sua cabeça entre os lycans ou os vampiros?

         --Teriam que pagar muito mais do que pensam, muito mais do que podem pagar!

         --Mesmo assim morreria, dedicou sua vida para defender uma causa e agora quer perdê-la por uns poucos inimigos! Seja coerente você pode ter mais que estes aqui, não é o momento para se sacrificar, ou acha que pode me desafiar sozinho em meu território?

         --A você e a todos esses seus lacaios!

         Xavier ao ouvir estas palavras gritou furioso.

         --NÃO SOU LACAIO DE NINGUÉM, e já me enchi de você se quer uma luta então em nome de todos os demônios do inferno você terá uma luta, em guarda e é melhor sua espada cortar tanto quanto sua língua!

         Xavier havia se afastado do exército por conta de um problema, sem nenhuma explicação começara a ter certos ataques de fúria que o deixava à beira do descontrole, geralmente isso acontecia quando ele ainda não havia tomado sangue suficiente para aplacar a sede, estava afastado do seu cargo exatamente para tentar controlar esta situação que geralmente acabava com locais destruídos e inimigos exterminados e para infortúnio de Uric ainda não havia encontrado nada que ajudasse.

         Amud ao ver que Xavier estava descontrolado tentou segurá-lo, mas foi arremessado de encontro ao balcão, Xavier erguendo sua espada atirou-se contra Ulric que ergueu sua arma e defendeu o golpe desviando a espada do adversário, mas Xavier mostrou-se mais rápido e desequilibrou Ulric jogando o peso do seu corpo contra a espada  dele em seguida levantou novamente a espada e desferiu um golpe tão forte que partiu ao meio a espada de Ulric, com a força do impacto, Ulric recuou para trás tropeçou em um banco e caiu de costas, fitou Xavier e no rosto dele pode ver uma fúria que jamais tinha enfrentado, o rosto do vampiro estava paralisado em um sorriso louco que destilava ódio descontrolado misto de loucura e sede de sangue, seus olhos estavam vermelhos e vítreos no alvo como se destruí-lo fosse a única forma de aplacar tal fúria, ergueu a espada visando atingir a cabeça de Ulric más antes de desferir o golpe fatal Ykarus segurou em seu pulso e tomou a espada e em troca levou um soco no peito que o jogou no chão

         --NÃO SE META NISTO!

         Gritou Xavier ainda com o semblante da loucura estampado no rosto, quando se virou novamente para o adversário Ulric já estava em cima dele, cravou o toco da espada em seu peito, mas não conseguiu afundar a arma danificada graças à armadura, agarrado pelo pulso foi arremessado contra a parede com violência, Xavier pulou logo em seguida na direção dele agarrou-o com a mão direita e o levantou pelo pescoço seus pés ficarem pendurados e ele pela primeira vez viu a fúria de um vampiro de forma tão agressiva, viu as presas do vampiro aproximando-se de sua garganta, mas antes que ele pudesse abocanhar a jugular do caçador levou um golpe na nuca, cambaleou, tentou se recuperar mas outro golpe tirou seus sentidos, Ulric ergueu as vistas e viu Ykarus com uma clava na mão, ele falou:

         --Ainda bem que ele está fraco! Escute, Xavier é um bom vampiro, peço que desculpe o descontrole dele, está viajando há quinze dias atrás de um artefato que foi roubado de nós, a peça em questão é de grande valia para nossa história, o descontrole dele se deve ao desgaste e ao cansaço!

         --Bela forma de aliviar o cansaço!

         --Bem, vamos deixar o tempo dar um jeito nele certo! Vejo que sua transformação está quase completa, isto é realmente incrível, normalmente o tempo é de aproximadamente três dias!

         --Isto não me deixa tão empolgado!

         --Por que você não nos acompanha até a cidade capital, será bem vindo em nossa fortaleza, depois de conhecer Hillmond você decide o que fazer, pode ficar ou partir!

         --Vou pensar na proposta, mas se as discussões entre vocês forem sempre assim eu ficarei só para me divertir!

         --Esta certo, então viajaremos durante o dia, Goldar já nos forneceu duas carruagens de viagem com dois condutores, de forma que não teremos nem um transtorno no caminho e poderemos descansar durante o trajeto! Ykarus virou-se para Amud e falou:

         --Peça ajuda para Goldar e leve Xavier para a carruagem, cuide dele e me avise quando despertar!

         Amud baixou a cabeça e obedeceu, Ulric observou a subserviência do outro e falou para o imperador.

         --Vocês monarcas são iguais em todos os países, adoram ter um capacho para pisar!

         --Se está falando de Amud você acertou na parte doADORA, não se engane com ele, só está pagando parte da dívida que tem conosco!

         --Por que um imperador como você se preocupa com um soldado como Xavier?

         --Xavier é meu irmão, fomos criados juntos!

         --E porque diabos um membro da corte que tem tudo nas mãos iria querer vestir uma armadura e meter-se em um campo de batalha, eu já estranhei ver você aqui sem uma guarnição de soldados como escolta e um bando de almofadinhas gordos e pomposos atrás da sua carruagem!

         --Digamos que eu não sou o estereótipo de imperador que você está acostumado, detesto almofadinhas pomposos e não preciso de escolta para andar livremente em meu país quanto a Xavier, sua decisão quanto ao campo de batalha assombrou todos nós, mas ele teve seus motivos, além de nós dois tenho também um irmão mais novo, Arthur e a minha saudosa irmã Verônica, ela e Xavier eram muito ligados quando ela morreu a muitos anos atrás ele dedicou-se ao exército e praticamente cresceu em campos de batalha chegando rapidamente ao posto máximo de general!

         --Nunca pensei que vampiros pudessem nutrir sentimentos uns pelos outros!

         --Então ficaria surpreso se soubesse o que somos capazes de fazer pelos nossos!

         --Eu matei hoje alguns dos seus!

         --Eles eram guerreiros, morrer em combate é uma honra! E você também perdeu muito, sua vida humana por exemplo!

         --Se você pudesse não lembrar da pior parte da minha noite eu agradeceria!

         --Não seja hipócrita você gosta de sangue tanto quanto eu o humano que você estourou a cabeça sem pestanejar que o diga!

         --Eu conhecia aquele bandido, ele era procurado em meu país por degolar suas vítimas, era tão assassino quanto vocês vampiros!

         --Agora somos nós!

         Ykarus tirou uma bolsa de vinho da túnica que usava e ofereceu para Ulric, este pegou e sorveu um gole mais demorado do que esperava fazer, olhou para Ykarus e falou:

         --Que bebida maravilhosa é esta, nunca havia bebido nada igual!

         --É apenas sangue que Goldar tirou do homem que você matou!

Ulric fitou-o com ódio pela peça que ele lhe pregara , devolveu a bolsa com agressividade empurrando-a contra o peito de Ykarus, que falou:

         --Eu sei que você gostou agora observe que as suas feridas vão se curar antes da luz do sol aparecer, e pode notar que já se sente mais forte!

         --Bem, tenho que admitir que me sinto muito melhor, mas a idéia de tomar o sangue de humanos não é nada boa, eu não posso atacar uma pessoa toda vez que tiver fome!

         --Quanto a isto não se preocupe, eu que sou o líder de uma nação tampouco posso atacar meus súditos! Quero que saiba Ulric que beber sangue humano é algo opcional, um vampiro pode viver muito bem do sangue bovino, pois não há muita diferença entre o sangue deste animal e o do humano que se alimenta dele, claro que o sangue humano é bem mais doce e saboroso, mas não é preciso matar uma pessoa só por causa disto e nós de Hillmond respeitamos nosso povo, nós os defendemos e jamais matamos se não for em defesa própria ou de nossa nação!

         Ulric não imaginava que vampiros pudessem viver assim, que não precisassem matar para viver, os conhecia como assassinos frios e sanguinários, mas as palavras de Ykarus lhe soavam sinceras e neste caso se realmente fosse desta forma que os vampiros vivessem em Hillmond esta era o melhor lugar para recomeçar sua nova vida ou semi-vida! Não tinha nada a perder e decidiu aceitar o convite para ir à cidade capital, de qualquer modo ainda havia um mundo inteiro para conhecer, caso não se adaptasse lá, seguiu Ykarus até a carruagem e embarcou rumo ao Coração de Hillmond,tornou-se um dos maiores guerreiros dos Hassel`s sem saber que, todo o ocorrido era apenas as peças do destino se movendo no tabuleiro, Ulric tinha que estar ali, era peça essencial no destino dos Hassel`s, de Hillmond e de Aaron!

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