Liam
A garrafa estava vazia antes de eu perceber. Não que importasse — havia outras. Eu precisava abafar o ruído dentro do meu crânio: as imagens, o nome dela piscando na tela, o rastro imundo do que Marcos fazia. Precisava de silêncio que viesse do fundo do copo.
Bebi até a garganta arder, até que a sala — o escritório grande, decorado como um altar ao meu poder — começou a se inclinar. A luz amarela das luminárias criou sombras longas pelas prateleiras de livros. E no centro, como um ponto de atenção que me deixava mais louco, vinha o pensamento dela: Kyra. Isabelle. Dois nomes, duas existências. Uma mentira, talvez, a outra a realidade negra que eu teimei em esconder.
Quando a porta se abriu e ela entrou sem pedir licença, eu a vi pela primeira vez daquela noite com clareza absoluta: postura curvada, olhos fundos, uma bandeja de chá nas mãos. Parecia deslocada. Frágil demais para pertencer àquele mundo. Frágil demais para ser a imagem de submissão que eu tinha guardada nos pixels q