(Blanka Bianchi)
Eu estava bem, apesar de ter inalado um bom tanto de fumaça. O medico disse que seria bom eu passar o dia todo no hospital, mas eu não faria isso.
Eu precisava cuidar do enterro do meu pai, pois fui informada pelo delegado Gilmar, que o meu pai havia morrido carbonizado.
Na hora eu chorei, eu chorei muito. Agora eu não tinha mais ninguém para chamar de minha família.
Tanto o meu pai, como a minha mãe, eram filhos únicos. E os pais dos dois também já tinham morrido, ou seja, eu estava completamente só.
Órfão de pai e mãe, órfã de tudo!
Eu só tinha Zeus. E naquele momento, eu não sabia onde o meu cachorro poderia estar. O medo de perdê-lo também, me fez pular o mais rápido possível daquela cama.
Então eu me lembrei de que não tinha para onde ir, eu não tinha uma casa para morar. Tudo o que eu tinha havia se queimado na casa.
Eu não tinha nem roupa para usar.
Quando eu dei alguns passos para chegar até a porta, esta se abriu e uma mulher entrou.
Seu perfume enjoativo se espalhou pelos quatro cantos do quarto.
No começo, eu não a reconheci, depois, antes dela, dizer quem era, eu já sabia.
-- Sabe quem eu sou, mocinha?
-- Madame Carrero.
-- Muito bem. – Ela sorriu.
Mas vi que não era um sorriso amigável.
-- Antes, quero dizer, que sinto muito pela morte do seu pai.
Eu sabia que era mentira. Ela não sentia nada. Nem ela, nem os habitantes daquela cidade.
-- Sabe que o seu pai, me deixou um grande prejuízo, não sabe? Pelo que tudo indica, ele dormiu fumando, por isso aconteceu o incêndio. E eu não posso ficar no prejuízo.
-- E eu sinto muito por isso. – Disse eu com um nó na garganta. – Mas eu não tenho como ajuda-la. Eu nem sei para onde ir, eu não tenho casa, eu não tenho nada.
-- Tem sim!
Eu não sei por que, mas quando ela disse aquilo, eu senti repulsa. Senti um frio na espinha, sem sequer imaginar o que aquela desprezível mulher tinha em mente.
-- Você tem o seu corpo!
Paralisei, ali perto da cama.
Gelei quando ela tocou o meu rosto.
-- Você é linda. É uma verdadeira deusa. Qualquer homem pagaria o que fosse preciso para se deitar com você.
Pulei pra trás. Foi como levar um choque com aquelas últimas palavras.
-- Você é virgem, não é?
Eu não respondi. Não era da conta dela, se eu era virgem ou não era. Mas eu era.
-- Não precisa responder, eu sei que é. – Ela sorriu. – Os homens adoram mocinhas inocentes como você.
-- Por favor, para! – Pedi, sentindo uma bola se formar em minha garganta.
Senti que ia vomitar! Me, dobrei ao meio, e sem ter tempo de desviar, acabei vomitando sobre os pés daquela mulher.
Eu achei que ela fosse pular em cima de mim, e cravar suas unhas enormes na minha pele.
-- Garota fresca! Deixe de ser idiota! A gente se acostuma na vida com tudo, e nem todos os homens com quem as minhas garotas deitam são desagradáveis. A maioria deles são homens belos, másculos e perfumados. Só entra macho no meu bordel de primeira linhagem, e não pessoas como seu pai, fedorentas e sem nenhum tostão.
-- Não fale do meu pai! – Gritei levantando a minha cabeça e fulminando-a com os meus olhos cor de mel.
-- Se não pagar a minha casa, que o seu pai enfiou no rabo, eu te coloco na cadeia! Ou então, em um manicômio!
-- A senhora não pode fazer isso.
-- Claro que posso! Conheço gente influente, homens poderosos, que fariam o que eu quisesse. Eu não posso ficar no prejuízo! Madame Carrero nunca fica no prejuízo. Acho que, apenas em uma noite, você pode me pagar o que me deve. Depois, deixo ir para onde você quiser.
Uma noite. Como uma noite? Eu teria que me deitar com os homens várias noites naquele bordel para pagar o valor casa.
-- Uma noite? Acha que eu sou idiota?
-- Eu te garanto que em uma noite, você arrecada o dinheiro para pagar a minha casa, e ainda lhe dou cinco por cento, para você começar a sua vida longe daqui. E apenas com um homem!
-- Como, só com um homem?
De repente, fiquei interessada. Eu não tinha para onde ir, e se eu não pagasse a casa para aquela mulher, sem sombra de dúvida, ela me mandaria para um hospício, ou prisão.
-- Quero que me confirme se realmente é virgem.
Fiquei muda por alguns segundos. Por fim, eu confirmei o que ela estúpida mulher queria saber.
-- Sim. Sou.
-- Eu sabia que era. Só queria que me confirmasse.
Ela sorriu e a minha vontade foi de estapeá-la.
Nunca acreditei que a minha vida fosse ficar pior do que já era. Agora, ouvindo a proposta daquela mulher, se bem que nem parecia uma proposta, era mais uma ordem, um convite ao pecado, á luxuria.
Prostituir para pagar uma casa, ir para a prisão, ou um hospício?
Qual seria pior?
Não seria nada agradável também, deixar um homem que você não amava tocar o seu corpo, entrar em você. Tirar a sua virgindade!
-- Nós vamos leiloar a sua virgindade. O homem que der mais, tira, a sua virgindade.