Capítulo 3
Sorri. Um sorriso tão sereno que ninguém seria capaz de notar qualquer emoção.

Mas, por dentro, meu coração sangrava.

Sam pareceu perceber algo estranho em mim. Ficou paralisado por um instante e, tentando agradar, sugeriu:

— Que tal irmos embora agora? Procurar um lugar tranquilo, arejar a cabeça?

Levantei o rosto para ele e forcei um sorriso amargo:

— Vamos de iate. Um passeio noturno... E amanhã cedo, vemos o nascer do sol.

No caminho, ele começou a falar sobre os planos para o dia seguinte:

— Já preparei a surpresa de aniversário há dias. Depois que tudo se acalmar... Vamos começar a tentar um filhote, pode ser?

Fiquei em silêncio, olhando pela janela as luzes da cidade passando depressa.

Assim que chegamos à praia, o celular de Sam tocou. Ele atendeu imediatamente, a voz gentil, com um toque de alegria. Mas, em seguida, franziu a testa e seu tom vacilou um pouco.

Virei o rosto na direção dele, o coração tão anestesiado de dor que já não doía.

— Pode ir resolver, se for urgente. — Disse, com voz baixa.

Ele hesitou.

— Any, eu...

— Vai. — Interrompi suavemente. — Eu te espero no iate.

Não precisava ver o nome na tela. Eu já sabia: era Lily quem ligava. A única capaz de provocar aquela mudança no rosto dele.

Sozinha, subi no iate e tirei o celular do bolso. Abri o perfil da Lily na rede social.

A foto mais recente apareceu imediatamente. A legenda dizia:

[Viu só? Quem me ama, vem até mim a qualquer hora, em qualquer lugar. Hoje à noite, foi ele quem preparou carne de cervo grelhada pra mim!]

A seção de comentários transbordava inveja:

[Seu companheiro Alfa é perfeito! Cozinhar pra você à noite, isso é amor!]

[Vocês dois são o casal modelo da nossa alcateia!]

Mas o que me prendeu o olhar foi o pulso do homem na foto. Ali estava a pulseira de presas de lobo, aquela mesma onde descobri o segredo gravado, a que Sam nunca tirava.

Liguei para o número dele.

Quem atendeu foi Lily.

— O que você quer, Any? Está procurando o Sam? — Disse ela, com a voz carregada de escárnio e provocação. — Não precisa mais procurar. O Sam não vai voltar pra você. Você é só uma pobre coitada que ninguém quer! Mesmo que eu o jogasse nu na sua cama, você ainda assim não conseguiria o coração dele! — A voz de Lily era afiada como lâmina. — Você não conseguiu segurar seu antigo namorado, e agora... Nem seu companheiro você consegue manter por perto.

Não respondi. Desliguei a chamada em silêncio e pedi ao tripulante a chave do iate.

— Deseja que eu conduza a embarcação? — Perguntou o piloto.

Recusei com suavidade:

— Não é necessário. Eu mesma consigo.

Tomei o controle e conduzi sozinha o iate em direção ao mar aberto.

O vento gelado soprava contra meu rosto. Mas ainda assim... Não era mais frio que o que eu sentia por dentro.

Sentei-me sozinha no convés, vendo a lua descer lentamente no céu.

E ele... No fim das contas, não veio.

Fiquei ali, encarando o oceano infinito com o olhar vazio.

As lembranças dos últimos cinco anos vinham em ondas violentas, como marés contra a mente.

O carinho, a presença constante, as promessas sussurradas... Tudo se dissolvera com o vento, como poeira.

Cada gesto de afeto, cada palavra doce... Tudo era mentira.

E eu, no centro de tudo isso, não passava de uma tola.

Ao amanhecer, peguei o celular e disquei o número dele pela última vez.

Dessa vez, o aparelho estava desligado.

Fiquei olhando para a tela por um momento. Depois, programei o envio automático de dois arquivos.

Um era uma gravação de voz, minha despedida, dita com minha própria voz.

O outro, um vídeo que documentava todo o processo da criação da poção antídoto contra a raiz do veneno de lobo, com datas, registros e provas de que fui eu quem a desenvolveu sozinha.

Ao concluir tudo, o sol finalmente começou a nascer diante de mim.

Então apaguei cada número, foto e mensagem do celular.

Eliminei tudo.

Esses falsos cuidados, esse amor encenado... Eu não precisava mais de nada disso.

Do outro lado, Sam se afastava às pressas de Lily.

— Preciso ir. Hoje é o aniversário da Any... Prometi que veria o nascer do sol com ela. Estou atrasado.

Lily se colocou à frente dele, contrariada:

— Sam... Eu também preciso de você agora...

Mas ele balançou a cabeça e disse:

— Assim que eu resolver tudo, volto pra você.

Antes mesmo de conseguir partir, seu beta o chamou com urgência através do elo mental:

— Alfa! Any... Algo aconteceu! Ela saiu sozinha com o iate e... Foi pega por um tsunami!
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