Capítulo VIII - Laços e Riscos

O dia mal havia começado e eu estava cansada, meu pescoço estava dolorido, mas ainda tenho mais uma consulta antes do almoço. Estava finalizando uma consulta quando minha secretária avisa que tenho uma visita à minha espera, digo a ela que peça para a pessoa aguardar enquanto finalizo o atendimento e vou para a sala de espera, ao chegar, me surpreendo com o visitante.

"Maurício Velasquez, que surpresa encontrá-lo." – Digo enquanto dou um beijo em seu rosto.

"Estava aqui perto e pensei em convidá-la para almoçar."

"Hum! Estou realmente faminta já que pulei o café da manhã." – Estava indo pegar a minha bolsa quando Dimas apareceu.

"Olá, doutora, vim convidá-la para almoçar comigo." – Ele olhou para Maurício e depois para mim.

"Desculpa, Dimas, já tenho compromisso." – Pego a mão de Maurício e o levo até a minha sala, pegamos minha bolsa e fomos a um restaurante próximo.

Pedimos nossos pratos e enquanto aguardamos, Maurício me faz algumas perguntas sobre minha infância, o que é muito difícil de responder, mas como sou boa em mentir é isso que faço.

"Perdi meus pais muito pequena."

"Meus sentimentos." – Ele diz com pesar.

"Não sinta, faz tanto tempo que nem lembro dos seus rostos." – Uma grande mentira, lembro exatamente dos rostos deles me pedindo para não matá-los. "Fui criada pelo meu tio e não tenho o que reclamar." – Maurício pegou minha mão e franziu o cenho quando viu meu dedo mindinho esquerdo.

Rapidamente retiro minha mão da sua e sorrio para ele. Digo a ele que quebrei meu dedo mindinho jogando futebol, o que é outra mentira, já que quebrei ele doze vezes durante o treinamento.

"Hum! Você era uma boa jogadora?"

"Sou péssima, na verdade o único jogo que sou boa é nas cartas."

"Também sou bom nas cartas. Que tal marcarmos de jogar um dia desses?"

"Só aceito se você aceitar jogar segundo as minhas regras." – Estou quebrando as próprias regras que criei, mas Maurício me ganha somente com seu olhar sincero, o que é raro hoje em dia.

Nossos pedidos chegaram e começamos a comer. Após a sobremesa, Maurício me levou para o consultório.

"Já que não conseguimos sair por conta das divergências de horário, estarei livre à noite. Que tal você jantar em minha casa?"

"Na sua casa?" – Perguntei e ele confirmou. "A sua filha não vai achar estranho?"

"Já falei de você para ela, e Aninha está louca para conhecê-la."

"Se você diz, eu aceito." – Ele beijou meu rosto e saiu.

Finalizei minhas consultas e fui para a organização resolver a questão da minha nova missão, soube mais algumas informações sobre o meu alvo, o que me ajudou a criar uma personagem. Depois de tudo resolvido, finalmente vou para casa e assim que chego, me jogo em meu sofá. Vou te falar, minha vida não é nada fácil. Estava deitada no sofá quando meu celular apitou.

"Amiga, ouvi dizer que seu alvo estará aqui no clube amanhã. Parece que ele irá fechar algum negócio."

"Você é a melhor, gata. Vou me arrumar para me encontrar com Maurício."

"Hum! As coisas estão avançando rápido entre vocês. Espero que dessa vez você deixe entrar em seu coração."

"Como se a minha vida fosse tão fácil assim." – Digo a ela e a imagino revirando os olhos.

Travei meu celular e fui para meu closet escolher um look. Demorei quase cinquenta minutos para escolher uma roupa, mas finalmente escolhi uma saia preta justa e uma blusinha preta para esconder meu decote. Escolhi um salto preto da mesma cor e finalizei tudo com uma maquiagem. Depois de pronta, fui para a sala e antes que eu pudesse sentar, Maurício me ligou avisando que já estava à minha espera. Peguei um canivete e uma das minhas armas e coloquei no fundo falso da bolsa. Sempre ando armada por precaução. Quando cheguei ao elevador, Lucas, um dos meus muitos vizinhos gatos, segurou para mim, e entrei agradecendo a ele.

Quando saí do condomínio, encontrei Maurício encostado em seu carro, e nem preciso dizer como isso é sexy.

"Você está linda." – Ele diz me dando um beijo no rosto.

"E você também, gato." – Maurício sorri e abre a porta para que eu entre.

Me acomodei e ele entrou, dando partida no carro. Durante o caminho, fomos conversando animadamente até que chegamos. Maurício estacionou o carro e pegou a minha mão para entrarmos. Já na entrada, encontro dois homens, e Maurício me apresenta como seus motoristas. Os dois me cumprimentam, e entramos na casa, onde conheço a governanta.

"Nossa! Sua casa é bem…"

"Essa casa era dos meus pais. Cresci aqui, junto a essas pessoas, e achei um bom lugar para poder cuidar da minha filha."

Antes que eu pudesse abrir minha boca, uma cabeleira loira apareceu correndo e se agarrou nas pernas de Maurício. Ele se abaixou e começou a conversar com ela em língua de sinais. A pequena se virou para mim e sorriu. Me abaixei e também comecei a conversar com ela em língua de sinais. Um tempo depois, fomos convidados a irmos para a mesa, e quando cheguei, me surpreendi.

"Você está dando uma festa?" – Perguntei a ele, que sorriu negando.

"Na verdade, eu não sabia o que você gostava, então pedi para preparar um pouco de cada."

"Era bem mais fácil ter me perguntado o que eu gostava."

"Senta aqui." – Ele puxa a cadeira para que eu me sentasse.

Fiz o que ele pediu. Maurício também acomodou Ana Cristina e depois sentou-se. A governanta, que se chama Juliana, nos avisou sobre tudo o que tinha, e nos pediu para escolher, e eu optei pela carne assada, enquanto Ana e Maurício optaram por pato assado. A refeição estava uma delícia, e após o jantar, fomos para a sala conversar. Um tempo depois, Ana Cristina se mostrou cansada, e Maurício a levou para seu quarto e depois retornou.

"Sua sobrinha/filha é uma graça." –  ele sorri e me agradece. "Nunca pensou em se casar, para dar uma mãe a Ana?"

"Claro que já, mas sou uma pessoa muito ocupada. Cuidar da empresa e da minha filha requer muito tempo, e ela não fica à vontade com mulheres. Não entendi como ela ficou tão bem com você."

"Nós temos uma ligação porque eu a trouxe ao mundo." Maurício concordou. "Está tarde, acho melhor eu ir."

"Por que não dorme aqui? O Rio de Janeiro é perigoso à noite." Dou um sorriso, mas na verdade gostaria de dizer que eu sou a coisa mais perigosa do Rio de Janeiro.

Ele insistiu muito, e acabei aceitando. Pensei que ele me levaria para um quarto de hóspedes, mas Maurício me levou para seu quarto. Fizemos amor a noite toda, e na manhã seguinte, acordo sendo esmagada pelos braços de Maurício. Sinceramente, não sei o que ando fazendo da minha vida. Sempre digo que me envolver com alguém é por um alvo nas costas, mas às vezes as coisas acabam meio que saindo do nosso próprio controle e é isso que está acontecendo comigo. 

"Hum! Você já acordou."  Maurício diz de forma preguiçosa, dando um beijo em meu pescoço e antes que ele começasse a esquentar as coisas me afastei.

"Assim como eu. Acho que você tem trabalho a fazer, não?"

"Hoje é sábado, eu trabalho de casa. Você vai para a clínica."  Confirmo que sim. Ele me convida para fazermos algo mais tarde, e digo a ele que já havia combinado com minha amiga.

Tomamos banho, e quando descemos, o café já estava posto para nós. Um tempo depois, Ana apareceu sorrindo e desejando bom dia.

‘Bom dia para você também.’ Digo a ela em línguas de sinais, que sorriu. ‘Oi, tia, você dormiu aqui?’ Ela perguntou de sobrancelha erguida. Mauricio ralhou com ela, e eu disse que estava tudo bem. ‘Dormi sim, minha linda, tem algum problema?’ – Perguntei, e ela negou com a cabecinha. ‘Gosto de você, tia.’  Ela disse sorrindo e me abraçou.

Conversei com ela um pouco mais, depois me despedi deles e fui para casa. Na verdade, não tenho expediente hoje. Só precisava ficar sozinha para pensar. Embora o jantar tenha sido maravilhoso, não posso me apegar a eles, pois só me atrapalharia.

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