Cap 5

Cecília Darse 

Levo um momento para que as minhas vistas se acostumem com o ambiente mais escuro, totalmente diferente do lado de fora.

E, quando o faço, consigo ver com nitidez o homem sentado do outro lado da mesa a alguns metros de mim.

Ele está de costas e mesmo assim é possível perceber o quanto sua presença é intimidadora, do tipo que impõe respeito.

. . ._ Senhorita Darse, não é?

Ele diz ao se virar e ficar de frente para mim, mas ainda sem me olhar.

Ao que parece, está com meu currículo nas mãos.

Cecilia_ Sim, mas pode me chamar só de Cecí.

Droga, por que eu disse isso? É claro que ele não vai me chamar assim. Pelo amor de Deus, isso é uma entrevista de emprego.

Ele ergue o seu olhar em minha direção pela primeira vez, e eu quase me esqueço de respirar, o homem é lindo, tipo muito lindo.

Seus cabelos são castanhos escuros e os olhos azuis, os mais azuis que eu já vi, sua barba é bem aparada e sua pele clara, mas o que mais me chama atenção é a covinha no queixo.

. . ._ Se aproxime, senhorita Darse.

Ele pede, claramente, ignorando a minha sugestão de me chamar de Cecí.

Quando chego perto o suficiente, posso ver com nitidez os seus olhos azuis que, apesar de impactantes, parecem carregar uma tristeza profunda.

Imagino que seja pela morte recente dos seus pais.

Ao perceber que o estou encarando e que ele também faz o mesmo, desvio o olhar sem graça, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha.

Ainda assim, ele continua me observando, como se estivesse me avaliando, ou, de alguma forma, gravando cada traço do meu rosto.

. . . Sou Antony Willians, mas a senhorita já deve saber disso, sente-se, por favor.

Indica a cadeira à minha frente.

Cecilia_ Na verdade, não, quer dizer, eu imaginei que fosse, mas não tinha certeza, eu nunca tinha visto o senhor pessoalmente e. . . Droga, eu estou falando demais, sempre faço isso quando fico nervosa.

Antony_ Por acaso eu te deixo nervosa, senhorita Darse?

Ai, minha nossa! Agora estou ofendendo o homem, desse jeito não vou ser escolhida mesmo.

Cecilia_ Não senhor, é só que quero muito trabalhar aqui, amo crianças e ensinar é a minha vocação.

Antony _ Estou vendo no seu currículo, a senhorita acabou de se formar em educação infantil e pedagogia, embora seja a candidata com menos experiência é a que tem a melhor formação, mas será se não seria o caso de dar aula em uma escola?

Cecília _ Meu propósito é ensinar, não importa se para trinta crianças ou apenas uma, sempre vou dar o meu melhor, e ser mais que uma professora, mas alguém em quem eles confiem.

Ele me escuta com atenção e assente quando termino de falar.

Antony_ É bom saber disso, pois preciso de uma profissional realmente dedicada. Como a senhora Jones, minha governanta, já deve ter adiantado, meu irmão tem alguns problemas que serão melhor esclarecidos caso a senhorita fique com a vaga, mas já adiantando, além de não falar, ele tem muita dificuldade em se aproximar das pessoas e principalmente de confiar.

Cecilia_ Entendo, e posso dizer que estou preparada para lidar com qualquer dificuldade que possa surgir até que eu consiga ganhar a confiança dele.

Antony_ A senhorita é muito jovem, e como disse não tem experiência nenhuma, porque acha que devo contrata-la?

Cecilia_ Porque sinto que realmente posso fazer a diferença na vida do seu irmãozinho, imagino que todas as candidatas que passaram aqui disseram que crianças precisam de disciplina e mais um monte de baboseiras nesse sentido, eu já acho que antes de tudo, criança precisa antes de acolhimento, de ser ouvida e de poder se expressar da forma que se sentir mais confortável.

Antony_ Mas isso não às deixaria  indisciplinadas e sem limites?

Cecília_ Claro que não, carinho e amor nunca poderiam abrir uma porta para o mal comportamento, basta deixar claro os limites e mostrar que confia nelas.

Antony_ A senhorita tem namorado?

A pergunta totalmente fora de contexto me pega desprevinida.

Cecília _ Desculpe, o que disse?

Pergunto acreditando ter ouvido errado.

Antony_ Perguntei se a senhorita tem namorado. 

Ele repete e quando percebe meu semblante confuso, completa.

Antony _ É só que esse trabalho demanda muito tempo, então. . .

Cecília_ A sim, entendi, não, eu não tenho namorado, senhor.

Antony_ Tem certeza? A senhorita é uma moça jovem e. . .

Cecília _ Tenho.

Respondo rapidamente, mas aí penso que a minha resposta pareceu uma confirmação de que tenho alguém então me apreso a corrigir.

Cecília_ Tenho certeza, não tenho namorado, nunca namorei, não me apaixonei e. . . Droga, informação demais, é melhor eu me calar.

Acredito que outra pessoa no lugar dele teria rido da minha fala sem freio, mas esse homem, parece nunca sorri, na verdade seu rosto não mudou de expressão nem uma única vez desde que estamos conversando e mesmo sério assim, ele continua bonito.O problema é que preciso ficar me policiando para não ficar encarando aquela covinha perfeita em seu queixo.

Antony_ É bom saber disso.

É tudo que ele diz.

Antony _ Tem outro assunto que precisamos conversar, diz aqui no seu currículo que a senhorita nasceu nos Estados Unidos não é isso?

Faço que sim com a cabeça.

Antony_ Mas como é prima do Harry, meu motorista acredito que tenha nacionalidade britânica também.

Cecília_ Sim, meu pai é inglês.

Antony _ Então devo deduzir que sua documentação no país está em dias.

Cecília_ Sim senhor.

Anthony _ Só mais uma coisa, a Senhorita usa sempre roupas tão. . . Coloridas assim?

Cecília_ Isso seria um problema? 

Pergunto com sinceridade, porque gosto muito do meu estilo e acredito que o nosso estilo reflete a nossa personalidade.

Anthony _ Talvez.

Ele respondo e não sei porque sinto um certo tom de divertimento nas suas palavras, mesmo que em seu rosto não haja nem sinal de um sorriso.

Cecília _ Sobre isso, é a única coisa que não estou disposta a abrir mão, posso até usar um uniforme em horário de serviço, mas nas minhas folgas e horas livres estarei com minhas roupas coloridas 

Anthony _  É só isso senhorita Darse, está dispensada e por favor feche a porta quando sair.

Fala friamente e vira de costas novamente, voltando a posição que estava quando entrei aqui.

Cecilia_ Tchau para o senhor também.

Murmuro aborrecida com a sua frieza e saio do seu escritório.

Encontro a governanta me esperando do lado de fora e quase morro de susto, a mulher parece uma sombra.

Senhora Jones_ Sua entrevista foi rápida, mas já era de se esperar, alguém como a senhorita não se encaixaria nessa casa.

Cecília _ Alguém como eu?

Pergunto sem entender aonde ela quer chegar.

Senhora Jones_ Sim, alguém vulgar e despreparada, na verdade só foi chamada para essa entrevista porque o motorista entregou o seu currículo pessoalmente para o Lorde William, e como ele tem muito apresso pelos funcionários decidiu te dar uma chance. O que obviamente se arrependeu de fazer quando te viu.

Ok, outra pessoa em meu lugar teria respondido a altura, e colocado essa mulher amarga em seu lugar, mas eu não, na verdade não esperava por essa enxurrada de ofenças, a minha vida toda estive cercada de pessoas amorosas e gentis, então ao me depara com alguém assim eu simplesmente fico em choque e não consigo reagir.

Então eu só segurei as minhas lágrimas e continuei caminhado ao lado dela, até chegar no que parece ser uma espécie de sala de espera onde as outras três candidatas já estavam aguardando.

Assim que me vêem eles começam a cochichar, com certeza também notaram que a minha entrevista foi mais rápida.

Desaminada e me sentindo humilhada pela governanta, eu me sento em uma poltrona mais afastada.

Senhora Jones_ Peço que tenham paciência e aguardem mais um pouco, logo retornarei com o nome da candidata que Lorde Willian escolher.

Ela fala e sai, sem dar tempo de qualquer uma de nós perguntar alguma coisa.

Até cogito ir embora dali antes do anúncio, com a certeza de não serei escolhida, mas como esse lugar parece um labirinto e eu com certeza me perderia, descido que esperar pela governanta maligna é a melhor opção. . .

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