Brody
— Brody? — Grace disse, enfiando metade do corpo dentro do meu camarim. Eu sentei no sofá de couro preto e ajeitei o roupão. — Me encontre em quinze minutos no Steelaway. — Eu disse. — Posso pagar um café e dar a multa de trânsito que recebeu. Ela berrou: — Idiota! Eu ri, e Chelsea desligou. — Está bem? — Grace disse. Eu encarei o celular de Chelsea e fiz que sim. — Preciso conversar com você. — Eu voltei a atenção para ela e me esforcei para não revirar os olhos. Grace entrou, encostou a porta e andou até uma poltrona. Ela sentou e me encarou. — Kevin me disse que estava pensando em reinscindir o contrato. — Eu suspirei audivelmente. — Sim, estou. Grace era a dona da Shyne Girl, e há quatro anos eu trabalhava para ela como um de seus atores. Graças a jornais e revistas de fofoca, meu nome ascendeu e hoje sou um dos maiores astros pornôs e, consequentemente, a galinha de ovos de ouro dela. — Eu… tento entender — ela disparou. — Você não era nada sem mim, e agora, quando finalmente chegou onde queria estar, vai desistir? — Seus olhos me encaravam, e eu levei a mão à testa, como se involuntariamente percebesse que uma dor de cabeça me atingiria em cheio. — Brody, eu e você sabemos o quão difícil é. Todos os dias, quando você vem para o set, eu imagino o quão difícil é. Como uma amiga e sua chefe, eu tenho que dizer que além de arriscado, é ridículo. Você é amado e idolatrado por inúmeras pessoas. Ganha muito dinheiro e é agraciado por ter uma família linda. Ela se inclinou na minha direção. — O que aconteceria se você quebrasse o contrato e desistisse de tudo? O que aconteceria se você simplesmente não se importasse mais? Você perdeu muita coisa para estar aqui, e agora vai jogar tudo para o alto? Minha respiração se tornou lenta. — Matty e Trixie precisam de mim. Precisam de mim mais do que nunca, e eu não posso arriscar… eu não posso ser isso — eu disse. Grace assentiu. Ela levantou, pousou as mãos nos quadris e desviou os olhos de mim. — Eu sei que é inevitável e que hora ou outra vão descobrir de alguma maneira, mas acontece que eu não quero que saibam dessa forma. Trixie tem apenas oito anos! Ela não conseguiria entender. A mãe dela acabou de morrer e ela ainda está muito frágil. Ela precisa de mim. Precisa mais do que nunca de mim. — Eu entendo. Entendo, claro, mas você também precisa entender que vou destruí-lo se me largar agora. Não me desaponte, Brody. Eu confiei em você quando precisou de mim. Agora eu preciso de você. Eu engoli em seco. — Não prometi nada. Ela ergueu uma sobrancelha e assentiu lentamente. — Pense um pouco. A clareza chegará à sua mente quando pensar mais. Quem sabe se eu colocá-lo num projeto novo? Ava não se importaria se eu a trocasse, certo? Eu baixei a cabeça sem dizer nada. — Está bem. Por que não tira o dia de folga? Não terá nada para gravar hoje. Eu assenti. Quinze minutos depois, eu já estava vestido e esperando por Chelsea no Steelaway, um café no coração de Manhattan. Vestia uma jaqueta de couro, calça jeans e camisa preta, além de óculos escuros e rolex. Ela estava atrasada. Três minutos depois, ela explodiu no café, vindo na minha direção. — Oi, docinho. — Eu disse, erguendo as sobrancelhas. Chelsea não tinha mais que um metro e sessenta e cinco. Comparados aos meus quase um metro e noventa, ela era uma pequena criança. Eu arrastei a bolsa divertida dela por cima da mesa e sorri. Ela puxou a cadeira e sentou. — É bom vê-la novamente. — Eu disse. Eu peguei o café e levei-o até meus lábios. — Achei que não fosse vir, mas pelo jeito, estava enganado. — Ela me encarou. Chelsea tinha cabelos castanhos lindos, um rosto pequeno e angelical e um corpo delicado. Vestia um vestido curto, os cabelos amarrados num coque, e as sardas que salpicavam seu rosto lhe dava um toque ainda mais belo. — É. Estava. — Ela pegou a bolsa. — O que viu, afinal? — Nada que não quisesse que eu visse. Deveria ter uma senha, docinho. Um pervertido poderia vasculhar seu celular à procura de algo. — Eu avisei. Ela revirou os olhos. Eu sorri. Eu notei que Chelsea pousou os olhos novamente em mim. — Trocou de roupa? — Sim. — Eu pousei a xícara no pires. — Não gosto de terno. Ela franziu a testa. Em quatro anos, eu já havia aprendido a gostar da nudez. Enquanto estava no set, não me incomodava com a nudez das minhas parceiras e nem mesmo com a minha. Eu odiava terno, mas precisava usá-lo. Na noite passada, eu e Ava, a atriz com quem eu contraceno, fomos convidados para um evento importante. Fazia quase doze horas que eu não via Trixie e Matty. Danna, a minha governanta, ligou mais cedo e disse que estavam bem, apesar de que Matty ainda ardia em febre. Meu coração pesava dentro do peito. Eu mal aguentava a ansiedade que me atingia como uma série de tacadas contra a minha caixa torácica. — Disse o cara de dez milhões de dólares. — Ela disse. — Iria se surpreender — eu disse. — Onde está seu carro, sr. Malas de Dinheiro? Eu sorri. Eu gostava daquilo. — Mecânico. Igual ao carro de Ellery. — Eu disse, mencionando a sua amiga. — Valerie. — Corrigiu-me. — E obrigada. — Não vai pedir nada? — Não. — Por quê? — Não costumo tomar café com estranhos. — Eu notei que ela não tirava os olhos de mim. Chelsea tinha olhos azuis lindos, tão claros quanto o azul mais puro. Eram hipnotzantes. Eu estava encantado. — E com babacas também. — Que azar o meu, então, presumo. Ela puxou a bolsa, a conferiu e tirou o celular de dentro. Verificando-o, virou a tela para mim. — O que é isso? — Meu número.— O quê? — Não quero que se mate no trânsito. — Eu disse, dando de ombros. Ela balançou a cabeça, levantou e deu as costas para mim. — Bom dia para você também, docinho! Eu ri, achando graça. Ela abriu a porta, passou e a fechou, o sininho berrando loucamente. Provavelmente nunca a veria novamente, e era justamente isso o que me fazia gostar tanto de provocá-la. Eu tirei o celular do meu bolso, procurei por seu nome e mandei mensagem: Deveríamos pular para o próximo passo. Depois de dois encontros, sexo. Essa é a regra, certo? — O Babaca do Trânsito. Surpreendentemente, ela respondeu: Deletando seu número…Babaca — Docinho.