POV Heitor
A mansão Montenegro sempre foi um templo de silêncio. Silêncio de mármore, de paredes altas, de segredos guardados a sete chaves. Mas naquela madrugada, o silêncio não era imponência. Era sufocante. O tipo de silêncio que vibra na pele, que faz o coração bater mais forte só para preencher o vazio.
As cortinas ainda estavam abertas na sala. A lua cheia banhava os móveis com um brilho frio, cruel, como se até o céu se divertisse em expor minha miséria. O vestido de Elena ainda pendia do braço da poltrona, branco como uma acusação, branco como um túmulo.
E eu estava lá, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado. O rosto queimava, o peito parecia querer explodir. Eu via, repetidamente, as imagens que invadiram o telão no altar: ela com Benjamin. Risadas. Mãos se tocando. Beijos roubados. O corpo dela entregue. Não a mim. Nunca a mim.
Senti o gosto de sangue na boca quando percebi que mordia o lábio com força demais.
— Heitor… — a voz dela quebrou o ar, baixa, vac