Annanda
Ela passa despercebida sob as luzes pálidas do dia, protegida por livros e silêncios cuidadosamente empilhados.
À noite, porém, o mundo conhece apenas Afrodite, uma miragem de lábios entreabertos, voz que arrepia a pele e um rosto parcialmente velado que ninguém jamais tocou. Para seus milhares de assinantes, ela é fantasia e fuga, para Irina, é a única maneira de pagar as contas e de se proteger dos fantasmas que a perseguem.
Evan Médici não acredita em limites. Aos trinta e poucos anos, comprou palácios, ruas, até bancos inteiros, mas jamais sentiu algo que o dinheiro não pudesse domar. Quando esbarra na transmissão de Afrodite, a lógica desaba. Ele quer mais que a imagem pixelada: quer possuir o enigma por trás da máscara. Quer comprar tempo, exclusividade, até o silêncio dela. Porém falha em todas as tentativas.
Porque Irina não se vende.
Ela negocia.
E, nesse território, ela dita as regras.
Quanto mais Evan tenta decifrar Afrodite, mais descobre que o verdadeiro tesouro não é a pele que ela esconde, mas as cicatrizes que ela guarda. Ao passo que o desejo vira obsessão, a obsessão vira necessidade, e a necessidade, uma perigosa rendição, Evan se vê travando a única guerra que jamais planejou: conquistar a confiança de alguém que aprendeu a sobreviver sozinha.
Numa trama em que luxúria e poder se enroscam como serpentes, cada toque é risco, cada palavra, um fio de faca. Se Irina ceder, perderá a armadura que a mantém viva, se Evan insistir, talvez descubra que certas vitórias cobram o preço do próprio coração.
E então surge a pergunta que nenhum deles ousa responder:
o que acontece quando o homem que tem tudo se apaixona pela mulher que se recusa a ser comprada?