Se Iviston fosse um animal seria uma grande aranha que armou sua teia e caiu nela mesma. Pode parece estranho estar presa na própria armadilha, mas a cidade é o único lugar seguro no inferno invernal que a cerca, assim como as incontáveis miríades de algozes e dificuldades que a rodeiam a procura de almas e carne fresca. O inverno não cessa e o pouco tempo que não neva é quando os mercenários de Falcon saem a caça. Orion e um do poucos corajosos, ou louco, que se aventura em meio a neve em busca de valiosos recursos. Mas dessa vez um encontro com uma misteriosa garota vai dificultar sua volta, transformando a jornada em uma grande odisseia de amor e ódio. Mas levar Endy à cidade é só um dos muitos desafios que irão se apresentar a Orion, que só conseguirá passar com persistência as dificuldades dessa ferrenha viagem. Pra ajudar atrair suas vítimas Iviston tem um brilho mágico aos olhos distante, exalando um ar de segurança que encantará até mesmo a família real. Mas aos seus moradores Iviston é uma cidade racista onde nobres e plebeus vivem separados não só pela riqueza, mas também pela magia. Seus desejos podem ganhar vida através dos olhos de qualquer personagem basta você decidir até onde vai ler, ou por quem vai sonhar.
Ler maisHouve uma guerra, sempre há uma, você sabe disso e eu sei, e se não houve, vai haver. Sangrenta, cruel e apagada pelo tempo. Tão arcaica que seus velhos não recordam e nem consta nos registros de história. Não como de fato aconteceu.
Era uma manhã enfadonha, caótica e casual para aqueles guerreiros de orelhas pontuadas, com os cabelos longos e o corpo esguio. Eles não pensavam que aquela seria a última guerra da raça deles. Já faziam seis meses que estavam enfrentando a horda interminável de orcs, sozinhos. A pele vermelha, os olhos negros e os caninos proeminentes, quase na metade do crânio, diziam tudo o que precisavam saber sobre eles. Eram da ilha de Burning, onde o sol causticante e a constante falta de água não permitiam que nada crescesse, se não algumas poucas ervas venenosas, sustentando uma frágil cadeia de predadores.
A terra estéril e o orgulho infindável os trouxeram ali para morrer como homens, em conquista de sua própria terra, em vez de morrer pelas mãos da fome. Mais orcs sempre são uma praga e sempre serão uma epidemia, não importando o lugar. Se eram tantos com poucos recursos, imagine em uma terra verde, banhada por numerosos rios e com fauna abundante. Eles tomariam o continente mais uma vez. Afinal, essa terra sempre foi deles.
Foram os anões que os expulsaram de suas montanhas, os elfos de suas florestas e a humanidade os despojou de suas geleiras, jogando-os mais uma vez de onde saíram, da infernal Burning.
Nos olhos dos guerreiros caídos, a vergonha, o medo e a surpresa estavam estampados em suas órbitas, incrédulos diante da própria morte. Afinal, um orc só tem força e, normalmente, suas armas não passavam de clavas, algumas de madeira, e as mais rústicas eram feitas de pedra de sua ilha natal. As defesas não podiam ser mais precárias, apenas um couro denso, mas frágil, comparado às lâminas de seus adversários, que, para seu azar, ainda eram versados em magia. Mas a eles restava a selvageria e o profundo desejo de vingança. Contra quem havia tirado tudo, até a dignidade de se considerarem um povo forte que nunca se dobraria.
Quando um orc caía, outros dois surgiam com mais bravura, abrindo caminho onde um de seus irmãos descansava, alcançando o sonho de morrer no antigo lar. Era uma guerra de atrito, de constantes combates, onde os números pouco importavam para aqueles que estavam dispostos a morrer em batalha; já estavam destinados à morte pelo machado da fome.
Os elfos recuavam, não tendo escolha senão ceder espaço aos seus inimigos. Eles não tinham como segurar tantos bárbaros sozinhos. Demorou trezentos anos para expulsá-los das florestas e apenas cinco dias de guerra para tomarem metade de volta.
As flechas pareciam ricochetear na pele grossa, acostumada aos duros espinhos e às feras de sua terra natal. As espadas, com dificuldade, atravessavam a segunda camada do couro, adaptadas contra as garras de predadores tão ferozes quanto eles. Esses eram novos orcs oriundos da ilha dos sobreviventes, onde a reclusão os tornou mais fortes e selvagens.
Não demorou para que os anões entrassem na luta, ainda ressentidos por sofrer com o costumeiro terror orcânico pairando sobre suas cabeças. E, para variar, os humanos foram os últimos a tomar partido na guerra, se sentindo seguros quase no fim do continente, mas sua ajuda não veio de graça; afinal, eles vagamente encontraram um verdadeiro exército orcânico. Acostumados a espantar e a flagelar crianças do tamanho de seus adultos.
A guerra se estendeu por dois anos: intensa, brutal e fatídica. As pequenas vitórias das três nações aos poucos foram virando a maré para o seu lado e, pouco a pouco, o inimigo imbatível recuava de volta a Burning. Mas mal eles sabiam que vencer nunca foi o objetivo deles, apenas ganhar mais tempo.
Eles venceram, porém, sem ter para onde recuar, os elfos... todos morreram. Foi a ajuda tardia da humanidade que concedeu a vitória. Caso contrário, só haveria mais corpos nas florestas e nas montanhas, condenando a todos à completa extinção. Os anões sobreviveram por pouco, se refugiando nas cidades humanas com o custo de trabalhos forçados, enquanto seus guerreiros de armaduras pesadas marchavam em direção ao massacre.
Não demorou muito para que as cidades élficas e enamicas fossem tomadas por um novo exército, desta vez por um novo rival, surgindo nas entranhas de seus aliados.
Os humanos tomaram Duargom, a capital anã, e Sariston, do antigo conglomerado élfico, passando a ter o domínio sobre as outras raças, argumentando que iriam protegê-las em vez de tomá-las.
Não era apenas raiva que envolvia a respiração bufante, estava frustrada e envolvida por um arrependimento intrínseco. Uma parte dela queria culpá-lo, ainda desejava ferí-lo de alguma forma mais não podia, sabia e tinha ciência que apenas a magia nunca seria o suficiente contra o primo. Precisava aprender a lutar, a jogar sujo e a usar tudo ao seu redor, como ele e de alguma maneira o superar. Porém sabia que isso era impossível, ao menos agora, e uma parte de si, a maior parte ,sabia que a culpa era sua e não dele, que Orion estava apenas se defendendo, mostrando quem de fato tinha garras em vez de unhas, presas em vez de dentes bem desenhados. O combate rápido e decisivo só deixou claro qual dois estava melhor preparado, quem sabia lidar com as desvantagens e a diferença entre um gato do mato e uma raposa ardilosa.Doeu quando se pôs de pé, quando tentou andar, como se seus músculos estivessem prestes a rasgar mais tinha que levantar. O frio já tinha embalado os ossos, sujado o vesti
Quando chegou aos fundos da casa Orion já estava lá, com os olhos fechados e dentro do circulo rúnico, que envolta dele emitia um brilho, esverdeado, opaco e então abriu os olhos, como se soubesse que ela estava o observando. - Pode ir primeiro. - Disse por fim se atendo aos pergaminhos preso entre as pernas cruzadas do primo. Estava curiosa para ver o milagroso resultado do treino imposto do tio. Uma parte dela ainda se recusava a acreditar que Raydon permitia que Orion competisse usando um único feitiço, o mais básico e inútil de todos e sem contar que nem pra ataque servia. Tudo era irreal demais para ser verdade ou um para não pertencer a um conto bardico. O truque de fazer luz era centenas de vezes mais útil que o de fazer água, essa era uma das coisas das quais Endy tinha plena certeza. Orion não se levantou, se limitou apenas em estender a mão destra pra frente do rosto, e fechou os olhos. Demorou pouco mais de um minuto e o som de estática fluía entre os dedos trazendo um
Enquanto andava a pergunta dele ainda repercutia em sua cabeça, a concentrando de tal maneira que não percebia o que acontecia em sua volta, mais uma vez estava perdida em um fluxo constante de idéias, onde andar se tornava automático. As pessoas não passavam de um plano de fundo de uma paisagem caótica, as vendas improvisadas nas praças eram as nuvens dispersas, que rapidamente mudavam de forma e os prédios e casas se condensavam em uma cadeia de montanhas inconstantes. Tudo que Endy tinha na mente era a pequena indagação que, a punha em cheque e, permanecia sem uma resposta."Qual o seu sonho?"Não importava a quantidade de vezes que se perguntava ela nunca tinha uma resposta satisfatória, ou um objetivo tão ardente em seu peito que a impulsionasse a tentar varias e varias vezes. Tudo que tinha eram talentos, assim como para magia, não precisava de horas de estudos, fazer movimentos ou manter falas constantes, era simples e não precisava de esforço, só realizar o
Ela nunca esqueceria a fusa daquele gêmeos, as únicas coisas que mudavam eram o corte de cabelo Saémon, o mais baixo, mantinha os longos fios amarrados, enquanto Daemeon era maior e robusto com um corte mais curto o deixando quase arrependiados. Os olhos azuis em um tinham um tom fosco quase cinza, quando no outro eram mais escuros, vibrantes e de alguma forma sujos como a maresia repleta de espuma, o nariz firme e um tanto anguloso contrastava com os lábios finos, mais nem por isso deixava de acrescentar alguma elegância ao rosto. Mas essa beleza era manchada pela natureza perversa de ambos. Disso tinha certeza, que tipo de nobre rouba os outros? Ainda vestido roupas finas e de bom porte. Podia ser por diversão, para arrancar o tédio de suas vidas mesquinhas e ocas. Devia ser isso, não tinha outra explicação. A garota desconfiava que magia não devia ser o forte de Daemeon, algo nele dizia isso e o fato de portar uma espada só reforçava a ideia. Outra coisa que ro
A garota ajeitava a trança pela ultima vez enquanto seus olhos escorriam pelo rosto, as ires densamente verdes, a pele cheia de sardas para se perder no macacão, que aos pouco se tornava sua segunda pele. Ela estava sozinha tendo o luxo de ficar mais um pouco na cama. Seu pai já havia saído antes do sol raiar para terminar uma grande encomenda de pedras, e sua mãe não queria perder clientes abrindo a loja de tecido e costura mais cedo. Cink tinha que aproveitar a curta temporada de cheia de Iviston para conseguir quanto clientes pudesse, assim o esposo poderia ficar mais tranquilo quanto aos impostos. Até Elby já estava ajudando com parte do seu salário atrasando sua inscrição para a prova de admissão para academia de magia por duas estações. Agora era a sua vez de se esforçar pela sua familia na venda.Ela ainda entendia porque Falmmer mudava a loja em dois em dois meses e nunca parava em nem um canto da cidade. Mas agora entendia que era pra fugir dos nobres esnobes que além
O comerciante estalou os dedos emitindo uma faisca, minima, fazendo um veludo azul surgir e com o mover do dedo indicador Falmmer as ordenava sobre o tecido acolchoado, em perfeita ordem.- Quanto deu tudo? - Questionou o gnomo alisando o queixo enquanto tentava fazer as conta sem o auxílio de papel e pena.- Cento e trinta e oito peça de platina!. - gritou Elby de algum canto da loja. - Menos o valor de uma flecha, isso eu não sei quando vocês fecharam!- Cento e cento e vinte e três peças de platina ou mil e duzentas e trinta peças de ouro. - Corrigiu Orion voltando se ater ao velho.Falmmer resgatou do bolso um pequeno saco de moedas, colocou o abraço dentro do pano que não se alterou e puxou uma maleta negra da qual tirou as moedas de platina, abriu os cantis e se pôs a cheirar seus novos produtos. Enquanto Orion tirou o fundo da aljava revelando um pequeno compartimento secreto e começava a guardar suas moedas, azul esverdeadas.Um tint
Último capítulo