Durante todo o fim de semana, a sala do coworking virou um laboratório vivo.Post-its por toda parte.Café gelado em cima da mesa.Cadernos abertos.Slides nascendo.Rascunhos sendo refeitos.Clara digitando ideias enquanto Lívia desenhava fluxos no quadro branco.O “Modelo Andrade” — como Clara passou a chamar — estava pela metade, mas já tinha uma alma própria: humano, moderno, ousado e completamente alinhado com o jeito único de Lívia enxergar desenvolvimento humano.Às três da tarde de domingo, ela sentou no chão, cruzou as pernas e respirou fundo.— Ok… falta pouco. — ela disse, falando mais para si mesma do que para Clara.Clara, que estava digitando sem parar, riu.— Falta pouco? Lívia, isso já está mais robusto do que muito livro didático.Antes que Lívia respondesse, o celular vibrou com um e-mail que fez a expressão dela mudar instantaneamente.Era da Comissão do Evento.Assunto: “Revisão Prévia – Observações Importantes”Ela abriu.E o mundo ficou um pouco mais sério.“Lívi

O intervalo entre a palestra e a mesa redonda parecia curto demais para reorganizar o coração. Lívia havia descoberto dia antes que a mesa redonda seria no mesmo dia, não mais no segundo dia de evento. Lívia foi para a sala de apoio ajustar o microfone novamente, beber água e revisar mentalmente os pontos de debate. Mas, por algum motivo que ela não conseguia explicar, sentia o corpo inteiro vibrando.Não era nervosismo.Não era adrenalina da palestra.Era outra coisa…Um pressentimento fino, quase elétrico.Clara ajeitava o cabelo dela quando parou, arregalou os olhos e suspirou:— Lívia… você está… surreal.Sério. Você parece uma estrela.E ela estava mesmo. Em um macacão preto que mostrava magnitude e empoderamento.Havia algo nela que misturava força, maturidade e magnetismo.Uma energia de mulher que sabe quem é e sabe exatamente o que entrega.Clara respirou fundo.— Se isso aqui fosse um filme, você seria a protagonista absoluta.Lívia riu, ajeitando o blazer.— Não exagera.

O backstage fervilhava de pessoas indo e vindo, equipe técnica carregando equipamentos, produtores chamando nomes em rádios, fotógrafos circulando para registrar a repercussão do debate.Lívia caminhava rápido atrás da coordenadora, tentando reorganizar as próprias emoções depois da mesa redonda. O corpo estava alinhado, a postura impecável, mas o coração…O coração estava em aceleração muda, tentando acompanhar o impacto de tudo que havia acontecido minutos antes.— Lívia, querida — disse a coordenadora — você viralizou. Literalmente. Sua fala final sobre treinamentos já está rodando nos canais do evento.Lívia sorriu, mas não processou totalmente.Não enquanto ainda sentia a energia quente do reencontro ecoando por dentro.Ela agradeceu, concordou, recebeu instruções.Quando a coordenadora se afastou, Lívia respirou fundo e encostou por um instante na parede do corredor lateral, aquele cantinho estreito entre a sala técnica e a área de imprensa.Um espaço calmo o suficiente para ela

O jardim externo do centro de convenções parecia outro mundo em comparação com o burburinho do evento. Do lado de dentro, vozes, flashes, corredores lotados. Do lado de fora, um silêncio verde, quebrado só pelo som distante da cidade e pelo farfalhar leve das folhas ao vento.Lívia caminhava devagar pelo piso de pedras, sentindo o coração bater mais rápido a cada passo. O blazer off-white abraçava seus ombros, o macacão preto de alfaiataria desenhava o corpo com elegância, e os cachos soltos caíam sobre as costas como se fizessem parte da composição calculada de uma mulher que sabia quem era.Por fora, profissional impecável.Por dentro, um redemoinho.Quando virou a curva do corredor externo e entrou de vez no jardim, o viu.Rafael estava de pé perto do pergolado de madeira escura, as mãos nos bolsos, o terno grafite perfeitamente alinhado ao corpo, a camisa branca sem gravata, a barba aparada. Ele parecia mais homem do que da última vez. Mais maduro. Mais denso.Ele levantou o olha

O restaurante escolhido por Rafael era elegante, discreto e iluminado por velas — nada exagerado, nada chamativo demais. Um lugar perfeito para quem queria recomeçar com calma, mas sem perder a intensidade.Ele abriu a porta para ela, como fazia antes, mas dessa vez sem aquele ímpeto possessivo que Lívia recordava.O gesto era leve.Respeitoso.Maduro.Lívia entrou e riu baixinho.— Cuidado, hein… se você continuar assim, posso me acostumar.— Esse é o plano. — Rafael disse, com um sorriso torto que sempre mexeu com ela.Sentaram-se próximos, não frente a frente como dois desconhecidos, mas lado a lado, como dois cúmplices. A mesa tinha uma vista linda da cidade. A noite estava clara, com uma brisa discreta passando pelo vidro.O garçom trouxe vinho.Rafael serviu com naturalidade — não para impressionar, mas porque era do jeito dele.— Sério — ele disse, enquanto girava a taça devagar — hoje foi o dia mais bonito que eu já te vi viver.Você estava brilhando, Lív.— Eu estava nervosa