O domingo amanheceu com um brilho diferente — o tipo de luz que parece abençoar o mundo. O céu estava límpido, o vento suave balançava as cortinas, e o riso das gêmeas invadia a cobertura com a leveza de um sonho. Luchero havia prometido um dia de descanso, sem reuniões, sem telefonemas, sem compromissos. Apenas ele, Nicola, Francesca e Antonella, no parque onde as cerejeiras floresciam perto do lago. Era o primeiro passeio das meninas ao ar livre desde que haviam completado dois anos.Nicola acordara cedo, preparando sanduíches e frutas com carinho, escolhendo cuidadosamente cada ingrediente, garantindo que tudo estivesse fresco e colorido. Colocou suco nas garrafinhas térmicas e arrumou uma pequena cesta de piquenique, assegurando que cada detalhe fosse perfeito. O coração batia calmo, feliz, enquanto a excitação pelo dia que se desenrolava florescia dentro dela. Nos últimos dias, Luchero estava mais sereno, e ela percebia nos olhos dele uma ternura que antes estava sufoc

Horas depois, no hospital, a família já estava reunida em um ambiente permeado pela tensão e pela incerteza. O cheiro de desinfetante e o som monótono dos aparelhos médicos compunham uma sinfonia inquietante que ecoava pelos corredores. A mãe de Luchero, sua face marcada pela tristeza, chorava em silêncio no corredor, seus ombros se agitando a cada soluço enquanto ela se apoiava na parede, como se estivesse tentando encontrar força nas estruturas frias do edifício. Ao seu lado, o pai de Nicola, ainda lutando para manter uma fachada de firmeza, tratava de ocultar a agonia que fazia suas mãos tremerem de maneira involuntária. Seus olhos estavam avermelhados, como se a dor tivesse consumido cada centímetro de esperança em seu ser, e ele se perguntava em desespero o que havia feito para merecer tal sofrimento. O irmão de Nicola, aflito e visivelmente inconformado, caminhava de um lado a outro, seus passos apressados refletindo uma mente assob

O hospital estava envolto em um silêncio que doía, como um peso invisível que recaía sobre os ombros de todos que se encontravam ali. As luzes pálidas refletiam nos vidros das janelas, lançando um brilho frio que parecia refletir a esperança que estava se esvaindo. O som dos monitores cardíacos preenchia o ar, um eco incessante que se tornara uma melodia angustiante, um lembrete constante de que a vida de Nicola pendia por um fio muito fino. Luchero estava ali, imóvel, como uma estátua de pedra, com os olhos fixos na sala de recuperação. Do outro lado do vidro, o corpo dela repousava sobre lençóis brancos, quase como se estivesse em um sono profundo, a pele pálida contrastando placidaamente com o turbilhão emocional que pulsava fora daquela sala. Os fios de cabelo dela, agora desordenados, se misturavam ao curativo que cobria parte da testa, como se ainda quisessem lutar contra a tristeza que a envolvia. O monitor pulsava em um ritmo compassado, cruel e

A noite caía lenta e envolta num silêncio pesado, como se o mundo ao redor estivesse retendo a respiração diante do que estava por vir. As sombras se alongaram, criando formas indistintas que dançavam nas paredes, refletindo a tensão palpável no ar. Luchero estacionou diante da imponente residência da família de Chiara, o coração latejando como se cada batida fosse um golpe de ferro. Cada pulsação era um lembrete do que estava em jogo, uma vida que poderia estar em ruínas.Ele havia passado as últimas horas revendo as imagens incontáveis vezes — o carro preto, o impacto, a fuga — até que o último ângulo revelara o inevitável: o prédio onde o veículo fora abandonado era o mesmo do antigo apartamento de Chiara. A descoberta o atingiu como uma marretada, e não havia mais dúvida. Não foi um acidente, mas sim, um crime, ato deliberado mergulhado em suas complexidades dolorosas, que ele precisava encarar.Respirou fundo, tentando reunir cor

O ateliê de Chiara resplandecia em luxo. As luzes brancas refletiam nos espelhos de moldura dourada, multiplicando sua imagem em dezenas de ângulos. O som dos cliques das câmeras e o burburinho das assistentes criavam um ritmo quase hipnótico. Vestida em um de seus modelos exclusivos — um vestido branco com cristais aplicados à mão, que representava a perfeição que ela insistia em vender ao mundo — Chiara girava lentamente diante do fotógrafo principal. “— Lindo, Chiara, maravilhoso!” exclamou o fotógrafo. “— Mais um giro, segure o olhar, isso!” Ela sorriu, confiante, reafirmando seu status de mulher que transformou seu nome em marca. Nada nem ninguém parecia capaz de abalar a imagem da estilista mais comentada do país.Então, o estalo seco da porta do ateliê quebrou o silêncio, fazendo o fotógrafo baixar a câmera. “— O que está acontecendo?” perguntou a assistente, apressando-se até a entrada. Dois policiais fardados, acompanhados de