Parte 31... Valentina — Não tente me enganar, Valentina. Sua fuga foi rápida e mal feita, suas coisas ficariam abandonadas mesmo. Tanto faz para quem vai ficar. - Matteo rebateu, com a mesma calma fria que me deixava ainda mais nervosa.Suspirei, baixando os olhos. Tive coragem de levantar a voz só um pouco.— E meus amigos? Eu quero falar com eles.O olhar dele se estreitou, mas não havia raiva. Apenas cálculo.— Vai falar, eu já disse - disse, depois de alguns segundos. — Mas antes, vai falar com o seu pai.Meu estômago se revirou.— Com o papai?Ele assentiu.— Exato. Otto precisa ouvir de você mesma que está bem.Arregalei os olhos, o coração disparando.— Não, não… Eu não quero! - falei rápido demais, quase infantil. &

Parte 33... Valentina — Você retirou dinheiro do cofre da diretoria. – ele disse com uma cara de reprovação. — Não lhe pertencia. Isso é roubo.— Não é – ergui o queixo e cruzei os braços como uma proteção — Eu não peguei nada que não fosse meu realmente. O meu pai envia o pagamento todos os meses e não é pouco.— Ousada – Tizziano riu e Matteo olhou pra ele de cara fechada.— Obrigada – agradeci de propósito — E se é meu, você tem que me devolver.— E se eu não quiser devolver? – ele tomou outro gole me encarando — O que vai fazer?Eu sei que fiquei vermelha porque sinto meu rosto quente. Isso me dá uma raiva. Engoli seco.— Eu quero o dinheiro, Matteo... Por favor – completei

Parte 35... Matteo Roma fervia ao meio-dia, o sol refletindo nas pedras antigas da praça. Gosto desse bairro e a fome me trouxe até aqui.Parei o carro em frente a uma trattoria discreta, do tipo que parece simples, mas serve melhor que qualquer restaurante estrelado. Valentina ajeitou as sacolas no banco de trás e me olhou como se quisesse protestar.— Vamos almoçar. - abri a porta. — Deixe as sacolas aí. A loja irá enviar o resto para casa.— Mas aqui? - ela franziu a testa.— Prefere voltar com fome?— Não é um bairro perigoso?— Comigo não tem perigo.Ela bufou e desceu. Caminhamos até a varanda da trattoria. Pedi a mesa do canto, de onde eu podia observar a rua inteira. Sempre. São velhos hábitos.O garçom entregou o cardápio. Valentina o abriu de im

Parte 37... Matteo Ela saiu do quarto alguns minutos depois que bati na porta, e por um instante, perdi o ar. Vestia um dos vestidos que havíamos escolhido mais cedo, simples, azul-marinho, mas que realçava os olhos dela. Os cabelos caíam soltos, com aquele ar de descuido que parecia proposital. Não era uma mulher que sabia jogar com a própria beleza, e justamente por isso, me chamava tanta atenção.— Está pronta? - perguntei, fingindo naturalidade, mesmo que meu olhar demorasse um segundo a mais do que deveria.Ela assentiu em silêncio, sem ousar perguntar o destino. Apenas me seguiu pelo corredor, de cabeça erguida, mas com a respiração denunciando a ansiedade.No carro, mantive-me em silêncio, observando a cidade mudar à medida que nos afastávamos do centro. Ela, inquieta, mordia o lábio inferior, um ges

Parte 39... Matteo O coreto estava silencioso depois que Valentina saiu. A noite já havia tomado conta do jardim, e o vento leve balançava as lanternas presas às colunas de ferro. Apoiei os cotovelos no encosto do banco e fechei os olhos por um instante. O dia tinha sido longo, mas de alguma forma, diferente de todos os outros.Eu não podia negar. A presença de Valentina tinha mexido comigo de um jeito inesperado. A timidez dela, o jeito de se encolher quando está ansiosa ou nervosa.Suspirei fundo, empurrando os pensamentos para longe. Eu não podia me perder em coisas que não controlava. Ainda não.Levantei-me e comecei a andar de volta para dentro. A cada passo, o silêncio da casa me envolvia mais. No corredor principal, encontrei meu pai. Ele estava encostado na parede, braços cruzados, como se soubesse que eu passaria por ali.—