Parte 21...Valentina A madrugada tinha um silêncio estranho. Era diferente do silêncio do colégio. Eu não consegui dormir. Fiquei esperando a queda da primeira porta, o estampido de um tiro ou o grito sufocado de alguém que não vai ver o dia nascer. Minha mente ficou cheia de confusão, não conseguia parar de pensar.Eu estava encostada na parede da sala, o coração batendo mais alto que o barulho dos passos na rua. Eles ainda estavam lá. Eu podia sentir.Pensei em ligar para meu pai e pedir que me deixasse em paz, mas fiquei com medo do que ele iria me dizer. Se eu tivesse minha mãe comigo, teria tido coragem de pedir, mas ela se foi há muito tempo. E eu nem tive tempo de me recuperar da sua falta, porque meu pai já me enviou para o colégio.Silas caminhava de um lado para o outro, como uma fera presa. Os punhos cerrados, a mand&iacu

Parte 23... Matteo A rua lateral era estreita, mal iluminada, com postes apagados e fachadas descascadas. Perfeita para encurralar.Eu a vi primeiro. O rosto dela ergueu-se por um instante, e os olhos se encontraram com os meus na penumbra. O choque foi imediato, Valentina congelou. Silas puxou o braço dela, tentando acelerar o passo, mas já era tarde.— Valentina! - chamei, minha voz pesada como ferro.Ela se assustou, quase tropeçando, e então correu.— Atrás dela! – gritei para os homens.Meu corpo inteiro pulsava. A cada passo, a cada segundo que ela se afastava, algo dentro de mim se partia e se incendiava ao mesmo tempo. Ela corria como se eu fosse um monstro. Como se não fosse o homem a quem estava prometida desde a infância. Como se não fosse o homem que tinha o direito de levá-la de volta.Corri atrás, ouv

Parte 25... Valentina A porta do quarto se fechou atrás da enfermeira e o silêncio caiu como um peso em cima de mim. Eu ainda sentia o frio da maca na pele, mesmo coberta pela colcha fina.Matteo estava de pé, encostado no batente, os braços cruzados, os olhos fixos em mim como se eu fosse uma criminosa em julgamento.E meu Deus, que rosto tem esse homem, essa boca. Até engoli em seco. Eu não deveria estar achando ele tão bonito. Se bem que Silas tinha me avisado de que ele era muito atraente.O som do celular vibrou. Ele atendeu de imediato.— Otto. - sua voz saiu firme, como se o nome fosse uma ordem.Meu coração parou por um segundo. Meu pai. O que eu faço agora? Ele deve estar possesso de raiva porque eu fugi.Matteo deu alguns passos para dentro, a mão no bolso, o celular no ouvido.— Já encontr

Parte 27... Matteo Caminhei até a saída. Um dos meus homens abriu o portão. O motor do carro ronronava baixo. Entrei no banco traseiro. Segurei a lembrança. Silas, com o queixo levantado, pedindo por ela. Jacques, encolhido, carregando mais culpa do que coragem.— Hospital - eu disse ao motorista.A cidade passava em borrões de luz e sombra. Eu via o reflexo do meu rosto no vidro. Cansado e ao mesmo tempo curioso. Toquei no bolso e senti o celular. Otto ia querer um relatório. Eu daria. Mas não agora.No hospital, o cheiro de antisséptico me recebeu de novo. Subi dois lances de escada sem esperar o elevador. Quando virei no corredor, a enfermeira que tinha me barrado mais cedo recuou um passo, só pelo meu olhar. Entrei no quarto sem bater.Ela estava acordada, deitada de lado, o braço enfaixado para fora da coberta, o rosto virado para a j

Parte 29... Valentina O sol já brilhava quando o carro atravessou os portões altos de ferro. A mansão apareceu diante de mim, clara, iluminada, como se não tivesse nada a esconder. Mas eu sabia que era apenas aparência. Meu estômago se contorceu.Matteo não largava minha mão. Não era carinho, era pra mostrar domínio. Ainda assim, meu corpo reagia diferente, como se houvesse um calor ali que não fazia sentido. Respirei fundo, tentando ignorar.Os degraus da entrada foram vencidos rápido demais. A porta já estava aberta, e dois rostos nos esperavam no hall.O homem, de terno claro, cabelos grisalhos bem penteados, tinha um ar calmo, quase acolhedor. Seus olhos pararam em mim, e ele sorriu de verdade.— Bem-vindos. – disse com a voz forte, porém cheia de calor. — Então esta é Valentina. &nda