Parte 101...MiraFoi até antes do que eu pensei. No meio da tarde, ouvi o barulho. Um grito abafado, o som de algo batendo. Corri pro corredor e vi a enfermeira desesperada.— Ela caiu! - gritou.Subi rápido. No meio da escada, Valentina estava sentada no chão, tremendo, segurando o tornozelo. O rosto pálido, o cabelo caindo sobre o rosto.— O que aconteceu? - perguntei, fingindo susto.— Eu… Escorreguei - ela disse, ofegante.— Sozinha?— Eu estava segurando o corrimão, mas… - respirou fundo. — Acho que perdi o equilíbrio.Matteo apareceu segundos depois.— O que foi isso?! - gritou, vindo correndo.Ele se ajoelhou na frente dela, as mãos firmes nos seus ombros.— Você está bem?Ela tentou sorrir.— Só torci o pé.— Por que estava andando sozinha? Eu falei pra esperar alguém.— Eu… Só queria pegar um livro.Ele olhou em volta e viu a bandeja caída, a jarra quebrada, o suco derramado nos degraus.— Alguém deixou isso aqui? - perguntou, virando-se pra mim.— Eu - respondi rápido. — Tr

Parte 103...MatteoA manhã estava clara quando saímos. O céu, limpo, tinha aquele tom que antecede o calor do dia. Valentina descia as escadas devagar, apoiando-se no corrimão, ainda cuidando do pé. Trazia o cabelo solto, uma camisa leve sobre a saia simples. Eu já a esperava perto da porta, as chaves do carro girando entre os dedos.— Pra onde vamos? - ela perguntou, semicerrando os olhos. — Eu dispensei a enfermeira.— Surpresa - respondi, abrindo um leve sorriso. — Vai ver quando chegarmos.A expressão dela foi de desconfiança, mas não insistiu. Quando chegamos ao hall, minha mãe surgiu. Estava impecável, mas a voz trazia aquele tom que eu já reconhecia.— Vocês vão sair? - perguntou, cruzando os braços. — Valentina ainda está se recuperando, Matteo. Isso não é hora de aventuras.— É só um passeio leve, mãe - falei, tentando manter o tom calmo. — O médico disse que ela pode sair, e eu vou cuidar dela.— Cuidar? - ela arqueou a sobrancelha, olhando para Valentina. — Você mal tem fi

Parte 105...Valentina— Podemos parar aqui? – apontei para uma prainha de areia bem branca — É bonito, não acha?— É sim – ele me puxou e encostei no peito dele, apoiando a cabeça em seu ombro. — Se você quiser, podemos levar uma cesta para a praia e ficamos o dia todo. Só nós dois...— Um dia só nosso? – ergui o rosto.— Isso, só pra gente – ele passou as mãos por minha cintura e beijou minha cabeça.— Eu quero – sorri olhando a prainha — Acho que vai ser bom.— Eu sei que vai – me virou de frente — Vou mandar que preparem tudo e depois pegamos o jet-ski até lá, está bem assim? – tocou meu rosto.— Está ótimo.Senti até um friozinho gostoso na barriga. A ideia me pareceu muito boa. Assim que vi a praia me deu vontade de ficar ali, nem que fosse só por algumas horas. Vai ser bom poder conversar sem ninguém por perto.Matteo saiu e foi falar com a tripulação. Eu aproveitei e desci para o quarto, para me preparar. Como ele não me disse nada para onde seria o passeio, eu não tinha nenhu

Parte 107...MiraEu precisava de pouco, só uma brecha.Valentina era idiota demais pra viver no mundo em que eu cresci. Ingênua, doce, fácil de convencer. E Matteo, cego. Achava que tinha encontrado uma joia rara, quando na verdade só trouxe uma distração pra dentro da família. Eu sei que ele acha que deve manter a palavra, mas não é assim.— Mira, você está prestando atenção ao que eu digo?— Sim, tia, estou – revirei os olhos — Eu apenas estava pensando no que me disse.— Você tem que fazer algo. Eles passaram o dia fora ontem e quando voltaram, já era noite.Ouvir isso me irritou ainda mais. Apertei o celular e soltei o ar de vez.— Tia, o que posso fazer agora?— O pai dela veio aqui, cheio de cobranças com esse maldito casamento. Agora ele quer se exibir para todos.— Mas eles já se casaram, então não tem o que fazer.— Sempre tem, Mira, sempre tem – a voz de minha tia era pesada. Dava para sentir pelo tom que ela estava muito aborrecida.— Otto marcou a igreja.Eu pensei um mom

Parte 109...Matteo— Por que você deixou aquele homem tocar em você? – já fui falando assim que entrei no quarto.Ela me olhou franzindo a testa e levantou da cadeira.— Ele não estava me tocando, Matteo. Não do modo como você está insinuando.— Eu vi nas fotos – puxei o ar fundo — E por que aquele sorriso? O que quer dizer?— Bem, talvez seja porque eu sou uma pessoa simpática e educada e gostei do que ele me disse no momento.— É mesmo? – dei um passo adiante — Você gostou do que ele disse? – ela deu um passo para trás — E o que foi de tão interessante?— Matteo... Não exagere – deu outro passo para trás.— Estou exagerando? – me inclinei pra frente.— Sim, está – olhou de lado — Mira queria me ajudar, já que meu pai insiste nesse casamento com recepção para mostrar a todos e...— E aí, que você sabe que minha mãe já tinha tudo certo.— Eu sei, mas ela ficou debilitada, você sabe – ela parou encostada na parede — Matteo...— O que? – parei em frente e coloquei uma mão ao lado da ca