É um prédio de classe baixa no centro da cidade, com dezenas de apartamentos de um quarto. Esperto. Isso dificulta quaisquer atentados discretos. Ninguém vai querer lidar com a burocracia de invadir ou explodir um prédio cheio de gente só para matar um único padre sentinela. Ou ex-padre. Draven me entrega um sorriso de canto de boca quando abre a porta. Não de felicidade, óbvio, de ironia mesmo. — Eu não esperava sua visita depois que saí da Ordem. — Ele diz, abrindo espaço para que eu passe. — Depois que foi expulso, você diz — corrijo, neutro.— Semântica.Ele vai até um pequeno móvel de bar, serve duas doses de whisky e me entrega uma.O apartamento faz o mesmo estilo minimalista dos conventos: Um sofá com almofadas soltas e finas, uma mesa de jantar de dois lugares e uma mesinha de centro minúscula. Nada de TV. Posso apostar que no quarto só tem uma cama estreita e um armário. A ordem é bilionária. Os Sentinelas não. Enquanto nós, nephilins e anjos caídos, vivemos dos excessos

O zumbido das conversas do bar atravessa a vedação do escritório do Exilium como um mosquito insistente. Eliahz b**e duas vezes e empurra a porta só o suficiente para enfiar a cabeça de cabelos loiros.— Chegou. Já sei quem é, a visita ilustre que enviou um emissário mais cedo, pedindo um encontro.— Deixe entrar.O rosto magro e ossudo atravessa a porta como uma caveira santa. Tem aparência de um homem na casa dos cinquenta anos, com seus cabelos grisalhos, mas deve ter três vezes isso. O "bendito" elixir permite que eles durem tanto.Está todo em preto, como todos eles sempre se vestem, mas a faixa cor de vinho, amarrada à cintura, substitui o cinto e mostra a autoridade — acima daqueles com os colarinhos brancos.Aponto a cadeira na minha frente e ele entra. — Vamos poupar tempo, filho de Lúcifer — menciona meu pai como se fosse um xingamento, mas a voz é calma. — Nós queremos a garota.Sorrio, mas ele nem pisca.— Não confundam a nossa tolerância com medo — Volkov continua, e c

Abro a porta anexa ao estoque de bebidas, como Zara me mandou fazer, e tudo que encontro é uma escada sem iluminação. A Lexi de antes jamais desceria estes degraus, mas a mulher na qual eu me transformei — e que anda tão entediada nos dias em que a Nox não abre — simplesmente precisa saber o que tem lá embaixo.A lanterna do celular ilumina meus passos no piso incrivelmente limpo, e a cada segundo, minha curiosidade aumenta exponencialmente. Um único lance de escada que vira para a esquerda, e eu encontro outra porta. Abro a porta e, ao invés de caixas ou encanamentos expostos, encontro um apartamento. A surpresa me faz parar no batente por alguns segundos. A luz é morna e muito baixa, mas nada que me impeça de ver os detalhes. O espaço é pequeno, mas parece completo. A sala é a primeira coisa que vejo, com um sofá escuro encostado na parede da direita, voltado para uma TV imensa, presa diretamente no concreto. Há uma mesa baixa de madeira trabalhada, sem enfeites.Mais ao fundo, u

— Vou tomar do seu pescoço — digo, com firmeza.Cael me encara, surpreso pelo pedido. Então sorri de um jeito maldoso e corta a própria pele logo abaixo da clavícula. Um rasgo minúsculo, mas é suficiente para mim.Minha lingua encontra a ferida primeiro, e eu lambo com força. Ele geme, e o sangue escorre morno, embriagando cada célula do meu corpo. A sensação é tão intensa que eu passo os dois braços pelo pescoco dele para não cair. Mas meus olhos continuam presos nos de Samiel. Cheios de raiva.Já bebi demais demais. Mas não consigo parar.O mundo todo parece balançar. Minha respiração falha. Cael tenta se desvencilhar dos meus braços:— Lexi, chega.Ignoro. Fecho os olhos mais uma vez e me aperto mais a ele. Bebo até o corpo inteiro vibrar com uma energia que eu não sei controlar.E de repente, um puxão nas minhas costas me afasta do pescoço de Cael. Braços diferentes passam por baixo da minha perna e me levantam. O corpo é outro. O cheiro agora é ainda mais perfeito. Samiel.Ele at

MAIS CEDO NAQUELE DIA.— As quatro luas com a victus são minhas por direito — ele sorri para mim e Cael. É incrível como algumas vozes têm a capacidade de soltar as rédeas do que há de pior em mim. A de Azrion é uma delas.Meu punho fecha e o ombro trava, e então a raiva acorda inteira, sem disfarce nenhum. Eu mantenho os braços cruzados, como se estivessem amarrados. Para não quebrar nada, nem ninguém.O lugar escolhido para a reunião do conselho hoje é um galpão abandonado no meio do nada, cheio de amontoados de peças e carcaças de carros em decomposição. Provavelmente alguma atividade ilegal. Deveria ter cheiro de mofo e ferrugem, mas o maldito incenso natural dos anjos mascara a realidade.Na minha frente, sete tronos com figuras sem rosto. A luz desce de lugar nenhum, branca, sufocante, iluminando só o espaço entre nós e eles — os anjos.— Fundamento? — Gabriel pergunta, a voz metálica que eu odeio.Azrion sorri como um louco descontrolado.— Meus homens confirmaram a origem da g