Capítulo 32 Fênix Souza Assim que chegamos ao templo, Akira foi direto abrir a porta. Eu segui para a cozinha, levando os frangos que havíamos trazido para o almoço. Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele foi mais rápido. — Senta aí, querida — disse ele, com um sorriso travesso, enquanto abria a caixa de chocolates. Pegou um bombom e me entregou com delicadeza. — O que está fazendo? Eu que deveria preparar o almoço — protestei, surpresa. — Esses são bombons de chocolate. Coma. Hoje é minha vez de cuidar de você — respondeu ele, já vestindo o avental e colocando os frangos na água. Fiquei ali, observando, com o coração aquecido. Era raro vê-lo assim, tão doméstico, tão à vontade. — Eu não sabia que você sabia cozinhar... — confessei, corando. Ele olhou por cima do ombro, com um sorriso misterioso. — Tem muitas coisas que você ainda vai descobrir sobre mim. Minha mãe entrou pela porta dos fundos com o rosto iluminado pelo sol e um sorriso tranquilo. — Filha! Ah,

Capítulo 34 A mulher terminou de ler a carta com as mãos trêmulas. O silêncio que se seguiu foi pesado, como se o ar tivesse sido arrancado da sala. Ela olhou para Maria, depois para o envelope, como se esperasse que as palavras desaparecessem dali. — Ela... foi embora? — murmurou, mais para si mesma do que para a empregada. Maria apenas assentiu, com o olhar baixo. A mulher se levantou da mesa, deixando o prato intacto. Caminhou até o corredor, como quem procura algo que não está mais ali. Abriu a porta do quarto de Dalila, olhou para a cama arrumada, o armário entreaberto, e sentiu um vazio que não sabia nomear. — Ela não pode ter ido longe... — disse, tentando se convencer. Mas, no fundo, sabia. Sabia que Dalila não era mais a menina obediente que aceitava tudo em silêncio. Sabia que aquela carta era um grito — e que ela mesma havia ignorado os sussurros por tempo demais. No canto da sala, o pai de Dalila apareceu, lendo a carta com o cenho franzido. Não disse nada. Apenas s

Capítulo 36 Fênix Souza Antes de ir jantar, tomei um banho caprichado com folhas de hortelã e lavanda. A mistura deixou minha pele fresca e perfumada, como se cada gota de água levasse consigo um pouco da ansiedade que eu estava sentindo. Mesmo assim, meu coração insistia em acelerar. No dia seguinte, pegaríamos a estrada cedo — e só de pensar nisso, um frio percorria minha barriga. Eu nunca tinha saído do templo. Minha vida inteira foi vivida entre aqueles muros, sob a sombra das árvores antigas, sob o silêncio das orações e dos rituais. O mundo lá fora era um mistério para mim. Mas, pela primeira vez, não me sentia sozinha diante do desconhecido. Akira estaria comigo, e só isso já me bastava. Outra parte do meu coração se acalmava ao saber que minha mãe ficaria bem. Dalila, José e João permaneceriam no templo, garantindo companhia e segurança para ela. Assim, eu poderia viajar sem preocupações, sem a culpa de deixá-la desamparada. Durante o jantar, mal consegui saborear

Capítulo 38 Na capital, o clima era de inquietação. Os policiais circulavam pelas ruas, becos e avenidas, enquanto o detetive responsável pelo caso vasculhava cada canto em busca de Dalila. A jovem parecia ter desaparecido sem deixar rastros, e a pressão sobre Marcos Souza começava a crescer. Ele estava cada vez mais preocupado. Não apenas pela ausência de Dalila, mas pela insistência da atual mulher, que não lhe dava um minuto de paz. Ela falava constantemente sobre casamento, como se isso fosse resolver todos os problemas. Não demonstrava qualquer preocupação com a filha — como se Dalila fosse apenas um detalhe inconveniente em sua vida. — Você precisa oficializar logo nosso casamento, Marcos. Já passou da hora — dizia ela, com voz firme e impaciente. Marcos, por outro lado, mal conseguia dormir. A culpa o corroía por dentro. Sabia que havia negligenciado Dalila em muitos momentos e, agora, com seu desaparecimento, tudo parecia desmoronar. A mulher ao seu lado não compreen

Capítulo 40 Fênix Souza Muniz O abraço de Akira me acalmou, mas não apagou o fogo que crescia dentro de mim. Sou sacerdotisa do fogo, e quando algo ameaça o que é meu, minha alma responde. Akira é meu. Meu esposo. Meu destino. O almoço chegou em silêncio, como ele havia pedido. As arrumadeiras entraram com cuidado, sem olhar demais, sem falar nada. A energia da casa estava tensa, como se todos soubessem que uma tempestade de fogo poderia cair a qualquer momento. Akira me ajudou a me acomodar, ajeitou os travesseiros atrás de mim e colocou a bandeja sobre a mesinha ao lado da cama. — Aqui está, meu amor. Comida leve, do jeito que você gosta — disse ele, com aquele sorriso que me desmonta. — Obrigada, meu bem — respondi, pegando sua mão. — Mas antes de comer, preciso fazer uma coisa. Fechei os olhos por um instante. Respirei fundo. Senti o calor subir pelas minhas mãos, pelas veias, até alcançar o peito. A energia do fogo se manifestou em mim como uma brisa quente, invisível ao