POV Amara— Dominic… — alguém murmurou, citando o nome dele no meio da confusão.O impacto foi imediato. Meu corpo gelou.Eu me lembrei dele, do jeito como me defendeu, do jeito como me olhou com ternura mesmo quando eu não tinha nada além de caos para oferecer.Se eu explodisse ali, se arrastasse todos para a lama, Dominic também seria arrastado comigo. Ele seria o “homem que protegeu a escandalosa”, o “irmão que se deixou enganar”.Minha respiração falhou. A raiva queimarava, mas a lucidez voltou como água fria.Baixei o olhar, ajustei o vestido com as mãos trêmulas e soltei:— Não vale a pena. — murmurei, mais para mim mesma. — Vocês já estão condenados pelos próprios segredos.E então me calei.Miranda sorriu, achando que tinha vencido. Mas só eu sabia a verdade: se não fosse por Dominic, eu teria acabado com todos.Caminhei até uma das mesas, ignorando Miranda e os cochichos que se espalhavam como um rastro de pólvora. Dominic não estava ao meu lado naquele momento, ele havia sid

POV AmaraO salão estava repleto de flores brancas e douradas, delicadamente dispostas como se cada pétala tivesse sido escolhida para me ferir.Os convidados sussurravam, as luzes refletiam nos cristais suspensos, e tudo parecia perfeito demais, perfeito demais para ser real. Mas era. Eu estava ali, sentada, vivendo o que parecia um pesadelo.Killian, de pé no altar, era a imagem da imponência. O terno escuro o deixava ainda mais inatingível, e cada detalhe dele, a postura, o queixo erguido, o olhar firme, era como um golpe contra mim.Quando o mestre de cerimônias anunciou os votos, o salão inteiro prendeu a respiração. E então, Killian começou a falar.— Beatriz — ele disse, com a voz baixa e carregada de uma solenidade que não mostrava falhas. — Quando te conheci, não esperava que o destino fosse me colocar diante de alguém como você. Mas, aos poucos, a vida me mostrou que, ao seu lado, eu poderia construir algo sólido, firme, capaz de resistir às tempestades.Ele respirou fundo,

POV KillianO carro avançava pela estrada, mas para mim parecia que o tempo tinha parado. Eu estava no banco de trás, com Amara deitada nos meus braços, e cada segundo era um golpe, uma tortura que me arrancava pedaços.O motorista acelerava o máximo que podia, buzinas ecoavam ao longe, mas o som que dominava meus ouvidos era outro: o respirar fraco dela, irregular, quase inexistente.— Amara… fica comigo, por favor — sussurrei, apertando sua mão fria contra meu peito, como se meu coração pudesse emprestar força ao dela.Os olhos dela se abriam e fechavam devagar, enevoados. O rosto estava pálido, pálido demais. E então, num fio de voz, ela murmurou:— Nosso filho… não… por favor, Killian… nosso filho…A frase atravessou meu corpo como uma bala. Quase perdi o ar.Nosso filho. Não era apenas ela em perigo. Senti a direção do carro balançar quando quase me joguei para frente, desesperado. O motorista manteve o controle com firmeza, mas minha voz explodiu:— Mais rápido! Pise nessa merd

POV AmaraMeu nome ressoou no ambiente como uma sentença. Amara Castellari. O som era como uma lâmina gelada que atravessava o pouco de ar que ainda ocupava meus pulmões.Congelei.Tentei reagir, mas minha voz se prendeu na garganta, falhando no mesmo compasso do corpo ainda frágil, pesado pelo desmaio e pelo susto. Eu queria negar, inventar qualquer desculpa, mas tudo em mim gritava que a máscara tinha caído.Killian se inclinou, aproximando-se com a imponência de quem não deixava espaço para fuga. A voz dele veio grave, carregada de amargura.— Você mentiu pra mim… todo esse tempo.Não havia escapatória no tom dele.Os olhos me queimavam, oscilando entre dor e raiva, mas também havia algo escondido ali, um fundo de alívio cruel. Como se finalmente a verdade que o atormentava tivesse sido arrancada de mim, mesmo contra a minha vontade.Desviei o olhar, incapaz de sustentar a fúria dele. O coração parecia em frangalhos, batendo em um ritmo descompassado, consciente de que não havia ma

POV Beatriz ArgentoO silêncio da casa parecia zombar de mim.Cada canto ecoava como um lembrete cruel: eu havia sido abandonada, exposta, transformada em espetáculo diante de todos. Sentei-me na poltrona da sala, incapaz de tirar o vestido de noiva.O tule pesado caía como correntes, manchado de maquiagem, suor e champanhe barato. Eu não me reconhecia mais. Não era a herdeira elegante, a socialite irrepreensível, a noiva perfeita.Era uma mulher ferida, humilhada, traída.Fechei os olhos e a lembrança veio como uma torrente: Amara.Desde o primeiro dia em que ela atravessou a porta da empresa de Killian, algo mudou. Eu senti. A princípio, parecia apenas uma secretária qualquer, discreta, sem graça, fácil de ignorar.Mas bastava observar por mais de um minuto para perceber que havia algo nela que incomodava, aquela postura de quem carregava segredos, aquela calma que escondia uma força insolente.E, pior: Killian a via.Lembro-me da primeira vez que notei. O olhar dele se demorou segu