POV KillianO médico ergueu as mãos, tentando acalmar o incêndio. O rosto dele misturava profissionalismo com incredulidade.— Senhores, por favor… não estamos em tribunal de família. — A voz era firme. — A paciente precisa de estabilidade. Se vocês dois se consideram responsáveis, então me acompanhem.O corredor inteiro congelou. Sabrina bufou, Beatriz riu com sarcasmo, Leo suspirou. Dominic lançou um último olhar desafiador antes de seguir o médico. Eu respirei fundo, mas fui também. A sala médica era fria, o cheiro de papel e café velho impregnado. O médico se ajeitou atrás da mesa e abriu o prontuário.— A situação é delicada. A mãe bateu a cabeça ao cair e está frágil, precisa de repouso absoluto. O bebê, felizmente, está estável. Mas qualquer estresse pode mudar isso. — Os olhos dele alternavam entre nós dois. — Se querem se matar, façam isso longe dela.Aquelas palavras ficaram gravadas na pele. Dominic assentiu em silêncio, como se carregasse uma bandeira de protetor legítimo

POV AmaraMesmo tentando sorrir, o medo de que a verdade venha à tona me paralisava.O sorriso não passava de um tremor nos lábios, tão frágil que parecia prestes a se despedaçar. Era uma máscara, fina, quebradiça e que mal escondia o caos dentro de mim. Cada olhar cravado em mim parecia me arrancar pedaços. Era como se eu estivesse deitada em uma cama de hospital, mas ao mesmo tempo diante de um tribunal, prestes a ser julgada por crimes que nunca declarei.Dominic insistia em permanecer ao meu lado. Eu podia sentir a presença dele, firme, sólida, como uma sombra protetora que não se afastava. Ele não precisava dizer muito, mas quando o fazia, sua voz carregava a firmeza de quem se coloca como escudo.— Eu estou aqui. — Ele disse, com a convicção de um homem que acreditava que isso bastava. — E o filho… é meu.Aquela frase era um golpe e, ao mesmo tempo, um alívio. Porque Dominic não apenas me defendia diante de todos, mas também reforçava a farsa que, de alguma forma, me mantinha a

POV SabrinaO quarto finalmente esvaziou.Leo foi o último a sair, fechando a porta devagar, como se ainda relutasse em deixar Amara sozinha. O silêncio que ficou depois foi quase estranho, como se a energia pesada que todos carregavam ainda pairasse no ar, impregnada nas paredes brancas do hospital.Eu respirei fundo, tentando me acalmar. O peito ainda ardia de indignação, as mãos tremiam com o impulso de voltar e gritar na cara de Beatriz até ela calar a boca de uma vez por todas. Mas não adiantava. A ferida já estava aberta e, se Amara não tomasse uma atitude, eles iriam rasgá-la em pedaços.Me aproximei devagar da cama, sentando na beira, observando o rosto dela. Estava tão pálida, tão frágil, mas os olhos… os olhos ainda carregavam uma força que ninguém conseguia enxergar. Era como se ela estivesse se segurando no limite, mantendo tudo de pé sozinha, sem saber até quando conseguiria.— Amara… — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Você não pode continuar assim.Ela desviou

POV SabrinaAcordei pela segunda vez naquela manhã com a luz entrando pelas frestas da cortina, mas o corpo ainda queimava. Agora sozinha. Leo havia ido embora mais cedo.O toque de Leo ainda estava gravado em mim. A forma como as mãos dele tremeram ao me segurar, o beijo desajeitado que logo se transformou em voracidade. A inocência dele misturada com a fúria de quem finalmente soltava as correntes… tudo isso rodava dentro da minha mente como um filme sem fim.Fechei os olhos com força, enfiando o rosto no travesseiro. Queria apagar aquilo, convencer a mim mesma que tinha sido apenas um erro, um desvio momentâneo. Mas o corpo não mentia. A lembrança de cada suspiro, cada arrepio, voltava como se fosse agora.Levantei, fui direto para o chuveiro e deixei a água fria cair sobre mim, tentando acalmar a pele que ainda parecia latejar. “Foi um erro, Sabrina. Um erro.” Repeti a frase como um mantra, mas soava frágil, quase ridículo.No hospital, mais tarde, quando vi Leo no corredor, o cor

POV AmaraA manhã chegou tímida.O hospital, com seu cheiro de antisséptico e paredes brancas, já me parecia uma prisão. Mas, ao mesmo tempo, era a última barreira entre mim e o mundo de disputas que me esperava lá fora.Eu já estava de pé, ainda fraca, mas vestida com roupas simples que Sabrina havia trazido. A médica recomendara repouso, nada de estresse, nada de esforço. Senti vontade de rir. Como pedir calma em meio a uma tempestade que não dava trégua?Quando saí do quarto, vi todos lá. Dominic, de braços cruzados, a postura rígida como um guarda. Sabrina e Leo em silêncio, mas trocando olhares que não conseguiam disfarçar a tensão. E Killian…Killian estava de pé, um pouco afastado, mas cada linha do corpo dele era poder e imposição. O olhar fixo em mim, como se fosse dono do ar que eu respirava.— Está pronta. — disse, a voz grave, cortante, sem margem para debate. — Vai para a mansão comigo.Meu coração vacilou.— O quê? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta.— Não há mais