CAPÍTULO 62 Narrativa do Autor  Lavínia olhava pela janela do seu quarto e via como as coisas mudaram desde que se casou com RB. Sua vida deu uma reviravolta monstro. Agora ela podia mexer no seu dinheiro sem medo de ser roubada, porque quem estava ao seu lado era alguém que a aceitava como ela era: uma pessoa humilde, que gostava de dividir as coisas boas com quem precisava.  Agora, na Serrinha, tinha escola profissionalizante, tinha aula de dança pra quem gostava.  Mas nem todo mundo estava de acordo com sua bondade. O advogado, aquele que pensou que teria alguma chance com Lavínia, estava à espreita, vigiando de longe, com maldade. Para quem pensava que ele só era advogado, se enganou: ele era simplesmente um mafioso quebrado, que viveu como advogado ao lado do tio, que estava fazendo a cabeça dele para tentar ficar com Lavínia e pegar a fortuna que ela herdaria do pai.  Ele só não contava que o outro advogado, que ele matou, deixou a cartada final em um cofre no Rio. Não tin

CAPÍTULO 64Narrativa do autorA noite caiu firme sobre a Serrinha com um vento que tirava o cheiro de fumaça das lajes e espalhava pro morro um frescor que ninguém esperava. A festa ainda ecoava em pontos, mas a maioria já tinha ido pra casa satisfeito, com o peito cheio de orgulho e a cabeça leve por causa do uísque. Lavínia e RB foram embora cedo, mais por cansaço do que por medo — o morro era deles naquela hora; ninguém ousaria perturbar a paz do chefe.Dentinho ficou mais um tempo na janela do barraco onde dormia, observando a pista e o vai e vem. O moleque gostava daquela visão de cima — via tudo: quem chegava, quem puxava o cantinho pra cochichar, quem atravessava com pressa. Tinha um faro que o deixava em alerta fácil; aprendera com RB a não dormir com olho dos outros.Ele já tinha visto o mendigo antes. “Pedro”, como o homem dissera, tinha sotaque estranho, falas tortas e um interesse incomum por certas pessoas do morro. Preferia ficar para baixo, olhando pra cima, e sempre f

CAPÍTULO 66 Narrativa de RB  Acordei e já estava quente, mesmo com o ar-condicionado ligado. O negócio estava fervendo. Olhei pro meu lado: minha gata dormia, com aqueles cabelos vermelhos lindos espalhados pelo travesseiro. Coisa linda. Hoje o tempo estava bom pra ficar em casa, curtindo minha mulher e a barriguinha dela com meu moleque. Não vejo a hora do meu filho nascer pra eu ensinar várias paradas pra ele. Vai ser show.  Saí dos pensamentos com o toque do telefone. Olhei na tela e já fiquei cabreiro: era da máfia Fênix. Atendi na hora. Ligação on — Alô, quem fala? — Sou eu, senhor, o capo da Fênix, Luiz Benedicto. O senhor vai ter que comparecer aqui na cerimônia de posse do novo Dom da Cosa Nostra. — Eu não vou poder comparecer porque minha mulher está sofrendo ameaças. Estou quase pegando o safado, e ela está grávida de sete meses. Nesse momento não posso deixar ela aqui, até porque não confio em ninguém. — Vamos fazer de tudo pra conversar e dispensar sua presença, o

Capítulo 68 Narrativa de RB A tela ainda queimava na retina quando apaguei o projetor. Vi cada detalhe mais vez — a bandeja, o pescoço aberto, o sangue que escorria como se fosse aviso escrito em vermelho. Eu não estava lá, mas foi como estivesse. Fiquei do outro lado do mundo, no meu escritório, com a mão no telefone e a ordem na boca. Matei o Pablo com minhas próprias mãos? Sim. Dei a ordem, fechei o nó. O resto veio como resposta. Depois, a coisa maior: o tio do Pablo foi exposto lá na Itália, e o conselho fez justiça. Eu assisti tudo pela transmissão, com um copo de café na mão. Não precisava provar mais nada. Minha mulher estava sentada na porta do quarto quando voltei. Os olhos dela pareciam olhos de sapo de tão inchados,de tanto que chorou. Ela me olhou como quem busca um culpado e uma salvação ao mesmo tempo. Perguntou se era verdade, se o homem que ela chamava de pai tinha sido arrancado daquele jeito. Respirei fundo e contei o que sabia: o sobrinho já estava morto antes

Capítulo 70 Narrativa do Autor Um mês havia se passado desde a conversa entre Lavínia e RB. O barrigão dela crescia firme, e mesmo com as recomendações médicas pra pegar leve, ela não parava. Tinha fogo nos olhos e propósito no peito. O morro inteiro sentia essa energia diferente — como se uma nova era estivesse começando ali, no mesmo chão onde o sangue um dia correu, agora brotava esperança. Lavínia sempre acreditou que o poder não vinha só das armas, mas das ideias. E foi assim que nasceu o projeto que ela batizou de Fênix do Morro — um símbolo de renascimento, de superação, de recomeço. A logomarca estampava uma fênix dourada emergindo das chamas, desenhada por um dos jovens do próprio morro, aluno de grafite e arte urbana. A sede da ONG ficava num antigo galpão reformado, bem no coração da comunidade. Paredes pintadas, chão de cimento queimado, e um mural gigante com o nome: “FÊNIX — Renascer é Resistir” Ali dentro, ela montou tudo do zero. Uma escola técnica oferecendo c