༺ Amara Wild ༻Despertei com vozes que ecoavam pelo quarto, como se um trovão tivesse explodido dentro da minha cabeça. Ainda tonta de sono, arregalei os olhos ao perceber que a porta estava aberta e a discussão vinha dali.Um arrepio percorreu meu corpo quando notei a figura de uma senhora elegantemente vestida, parada à entrada, encarando tudo com um olhar pesado de julgamento.O mundo podia desabar sobre mim, mas eu não sentiria tanta vergonha quanto senti naquele instante. Se pudesse cavar um buraco no chão e me esconder, teria feito sem pensar.Meu coração batia acelerado, e a única coisa que consegui fazer foi puxar o lençol até o pescoço, como se aquele pedaço de pano fosse capaz de me salvar da fúria da matriarca.Ouvir alguém dizer que aquela senhora era a avó dos quatro foi como levar uma bofetada. O peso do olhar dela me atravessava como uma lâmina, e eu não conseguia sustentá-lo.A porta se fechou de repente, deixando o quarto em silêncio. Suspirei fundo, tentando respirar

༺ Domenico Beltron ༻Observei Amara e minha avó se encarando, e não posso deixar de sorrir por dentro. Conheço o temperamento forte da minha pequena petulante e sabia que ela não deixaria minha avó falar como quisesse com ela.Confesso que até gosto disso. Talvez, só talvez, minha avó perceba que não controla tudo como pensa. O olhar dela recai sobre Amara, medindo cada gesto e postura.— Você é audaciosa, petulante e, claro, bem ignorante quando quer ser. Sabe que não deve me tratar assim. Sou a matriarca desta família — ela fala, firme, quase cortando o ar.Amara balança a cabeça, decidida:— Tratarei a senhora conforme a senhora me tratar. Se for arrogante ou tentar me humilhar, responderei à altura. Me desculpe se não gostar do meu tom, mas sou assim.Vejo minha avó levando a mão ao queixo, analisando. Não é comum vê-la estudando assim as mulheres com quem nos envolvemos. O olhar dela é crítico, avaliando mais do que só a postura, é quase que decifrando caráter.E, de repente, ela

༺ Amara Wild ༻Os dias haviam se passado rápido demais. A mansão parecia respirar em outro ritmo, um onde os negócios dos quatro comandavam as conversas enquanto eu observava em silêncio.Estamos reunidos na mesa de café, e eu, acomodada na cadeira de canto, esperava pacientemente que a empregada trouxesse meus ovos mexidos.Domenico folheava papéis com a seriedade habitual, Luca fazia piadas enquanto untava manteiga no pão, Pietro discutia números com clareza, e Enzo, como sempre, parecia buscar qualquer detalhe para discordar. Até ali, tudo soava comum. Porém, no instante em que Enzo abriu o pote de pasta de amendoim, senti meu estômago embrulhar como se tivesse levado um soco por dentro. A ânsia subiu ardendo pela garganta, mas respirei fundo, tentando controlar.— Está tudo bem com você? — Domenico perguntou, desviando os olhos da folha que segurava.Sorri de canto, tentando disfarçar.— Sim, estou.O cheiro, entretanto, parecia invadir minhas narinas sem permissão. Quando Enzo p

༺ Amara Wild ༻Acordei devagar, meus olhos ainda pesados. Uma leve dor de cabeça latejava no fundo da minha mente, como se um tambor batesse em ritmo lento.A claridade que entrava pela fresta da cortina me obrigou a piscar várias vezes até conseguir focar no quarto.Foi nesse instante que percebi Enzo encostado na parede, braços cruzados, me observando em silêncio.O jeito dele me incomodava e confortava ao mesmo tempo. Quando notou que despertei, ele se aproximou, o olhar mais sério que de costume.— Não se preocupe — disse em tom baixo. — Tomei banho e escovei os dentes.Suspirei aliviada. De fato, o cheiro de pasta de amendoim havia sumido. Ainda assim, senti o rosto corar de vergonha.— Me desculpa — murmurei, desviando os olhos. — Não fiz por mal… aquele cheiro estava me deixando mal.Enzo arqueou a sobrancelha, inclinando-se levemente para olhar melhor meu rosto.— Eu sei. — Tocou de leve minha face, num gesto inesperadamente doce. — Mas precisamos ter certeza de que está tudo

༺ Amara Wild ༻Não demorei para sair da mansão. Peguei uma mochila pequena, enfiei dentro dela algumas calcinhas, roupas leves e o dinheiro que recebia de mesada dos quatro.O cartão de crédito também entrou na bolsa, embora eu soubesse que só o usaria em último caso. Não levarei muita coisa, apenas o necessário.Vesti um vestido solto, tênis nos pés e um casaco por cima. Prendi os cabelos em um coque rápido, respirei fundo e me encarei no espelho.— Amara… você vacilou feio. — murmurei para mim mesma, sentindo o nó na garganta. — Como foi engravidar assim? Agora você precisa proteger esse bebê. Mesmo que você não saiba se ele realmente existe.As lágrimas caíram sem que eu conseguisse segurar. Meu coração disparava tanto que parecia explodir. Eu sabia que não podia ficar ali.Se fosse mesmo verdade… se um bebê estivesse dentro de mim, jamais deixaria que eles decidissem o destino dessa criança. Ela era minha e, como toda mãe, a protegeria com a minha vida.Desci apressada, cruzei o j