A luz fria do presídio cortava as grades da janela como lâminas finas e silenciosas. Daniel se encontrava sentado em uma cadeira desconfortável, encarando o próprio reflexo num pedaço de metal polido na parede — o mais próximo que ele teria de um espelho nos próximos meses. Estava mais magro, a barba por fazer escondia parte das olheiras, mas os olhos… os olhos ainda ardiam com a mesma chama de antes. Uma chama que misturava frustração, raiva e uma sede silenciosa por vingança.O barulho da tranca girando o tirou de seus pensamentos. Quando a porta se abriu, ele viu entrar uma figura que lhe era ao mesmo tempo familiar e ameaçadora: seu pai, Henrique Monteiro, um dos criminalistas mais respeitados do estado de São Paulo. Alto, de terno alinhado, cabelo bem aparado, mas com um semblante carregado de decepção.— Você se superou, Daniel — disse Henrique, cruzando os braços e se recusando a cumprimentá-lo. — Manchou meu nome, destruiu sua carreira e ainda teve a audácia de agir como se fo

Narrado por GabrielEla não precisava dizer nada.Quando entrou em casa naquela tarde, depois de saber da liberdade de Daniel, o olhar dela já contava tudo. Camila sempre foi forte, sempre enfrentou tudo com uma coragem admirável, mas naquele momento… era como se uma sombra tivesse se infiltrado na luz que ela tanto carregava.Fiquei observando-a enquanto ela deixava a bolsa sobre o aparador, tirava os sapatos devagar, e forçava um sorriso quando me viu.Abracei-a.Forte.Como se meus braços pudessem protegê-la do mundo. E, se eu pudesse, eu faria isso.— Ele está solto — ela sussurrou, com a cabeça contra meu peito.Fechei os olhos. Engoli a raiva.— Eu sei, amor. E eu também estou aqui. Com você. Sempre.Passei o resto do dia observando seus gestos, a forma como ela tentava parecer bem, enquanto os olhos entregavam o medo.Não. Eu não deixaria isso crescer dentro dela.Não depois de tudo o que enfrentamos.Ela precisava se lembrar de quem ela é — e de quem eu sou com ela.Foi então

Eduardo nunca foi de se deixar abalar facilmente. Era prático, direto, daqueles que mantêm a vida sob controle… até cruzar com a vizinha do apartamento 403. Desde aquele primeiro dia em que ela esbarrou nele no elevador e derrubou café em sua camisa — com um "ops" irônico e um sorriso provocante —, Eduardo soube que Lorena era diferente. E perigosa.Naquela tarde, ele voltava do mercado com algumas sacolas quando a viu novamente. Ela estava parada na porta do prédio, mexendo no celular, com um short jeans desfiado e uma camiseta solta, e quando o viu, sorriu daquele jeito insolente que desafiava qualquer homem com amor-próprio.— Achei que fosse me evitar depois do incidente do café — ela disse, sem tirar os olhos dele.— Evitar? Logo você? — ele respondeu, segurando o riso. — Tô só esperando a próxima tragédia.Ela deu de ombros, como quem diz “problema seu”, e estendeu a mão para uma das sacolas.— Vai precisar de ajuda com isso aí?Eduardo hesitou, surpreso com a atitude, mas acabo

Narrado por LorenaA luz da manhã entrava preguiçosa pelas frestas da cortina, tingindo o quarto com um tom dourado e suave. O calor do corpo de Eduardo ainda estava presente ao meu lado, sua respiração calma, o braço jogado displicentemente sobre minha cintura. Sorri, sentindo uma paz gostosa se espalhar pelo peito.A noite anterior havia sido intensa — em todos os sentidos. Ele tinha sido carinhoso, gentil, selvagem na medida certa. Não era apenas atração física. Tinha algo a mais. Algo que fazia meu coração acelerar de um jeito novo, diferente. Um misto de medo e desejo, como se estivesse pisando em solo desconhecido.Estava quase voltando a cochilar, aninhada no peito dele, quando a porta do apartamento se abriu.— Lorena? — ouvi uma voz masculina chamar do lado de fora.Arregalei os olhos.— Merda! — sussurrei, me sentando na cama num pulo. Eduardo despertou assustado, erguendo o tronco.— Que foi?Antes que eu pudesse responder, a porta do quarto se escancarou.— Lorena, você tá

O sol mal havia nascido, mas Camila já estava de pé. O coração batia acelerado no peito, como se quisesse escapar dali tamanha a ansiedade que ela sentia. Hoje era o grande dia. O lançamento oficial do seu livro. Aquela história que havia nascido da dor, da superação e do amor, e que agora estava prestes a ser entregue ao mundo. Gabriel entrou no quarto, sorrindo ao vê-la se arrumando em frente ao espelho. Apoiou-se na porta e a observou por um instante, encantado. — Nervosa? — perguntou, se aproximando e a abraçando por trás. — Nervosa é pouco... estou surtando por dentro! — Camila respondeu, tentando rir, mas seu nervosismo era evidente. — Vai ser perfeito. Você é incrível, Cami. Esse livro vai tocar muita gente. E você merece cada aplauso que vai receber hoje. Ela se virou e o beijou com ternura, encontrando nos olhos dele a segurança que precisava para enfrentar o dia. Mais tarde, o local escolhido para o lançamento estava impecável. Um espaço moderno, amplo, com uma decoraç