Harper WardAcordei com um arrepio na pele. O quarto estava escuro, silencioso, e por alguns segundos eu não entendi o que tinha me despertado. Pisquei várias vezes, ainda sonolenta, tentando focar nos contornos ao meu redor. Nada parecia fora do lugar. Nada além do vento frio entrando pela janela aberta.Eu tinha certeza de que havia fechado antes de deitar. Ou pelo menos pensei ter fechado. Com a dor no tornozelo, eu não estava prestando atenção em nada além de me arrastar até a cama e apagar.Revirei os olhos, resmungando comigo mesma, e empurrei as cobertas para o lado. O tornozelo latejou no mesmo instante em que apoiei o pé no chão. Não quebrado, mas dolorido o bastante para me lembrar da queda idiota toda vez que tentava andar.Arrastei o corpo até a janela, segurando no que dava para não desmoronar no meio do caminho. Meus dedos já estavam na moldura quando o ouvi.— Volte para a cama.O coração disparou. Senti o sangue sumir do rosto. A mão congelou no ar, e levei alguns segu

Harper WardHavia algo na forma como reagi quando minha mãe disse: “É preferível se machucar, a ser machucado”, que ainda me incomodava. O odiava quando ela estava certa. Especialmente por que, aquele ainda era um dos poucos conselhos que havia guardado por anos. E se isso não bastasse, entendi que ela estava errada, por que magoar alguém implicava em machucar a mim mesma também.Será que foi assim para ela?O quarto ainda cheirava a ele. Pele, suor, fôlego. Eu odiava como meu corpo reagia, odiava ainda mais saber que não conseguiria apagar o que tínhamos acabado de fazer. Não era só sexo, nunca era só isso. Chase era como uma maldição grudada na minha pele, e eu me odiava por não conseguir cortar o fio que me prendia a ele.Ainda deitada, respirei fundo e puxei o lençol até o peito. Ele estava sentado na beira da cama, o corpo ainda nu, o peito largo se movendo devagar enquanto recuperava o ar.— Pode se vestir. — Minha voz soou firme, mesmo que por dentro tudo doesse.Ele virou o ro

Chase HarrisonOlhei no relógio, por, provavelmente, a quinta vez. Não por ansiedade, longe disso.Acabar com a noite o mais rápido possível e pular uma janela para ter a conversa mais difícil do dia fora o motivo a me manter, não apenas aéreo, como ansioso para dar o que o velho Harrison queria, e encerrar a noite.O ponteiro marcava cada segundo como um tapa na cara. Sessenta minutos de atraso. Uma hora exata. Para um homem como eu, que vivia em torno de horários, agendas e compromissos inadiáveis, aquilo era uma provocação.— Ansioso pela moça? — ouvi a voz do meu avô, grave, arrastada. Interpretando errado o meu estado de impaciência, por ele, e por toda a merda ao redor.Virei o rosto lentamente, encontrando o olhar dele, que brilhava com aquele humor maldito, quase zombeteiro.— Ansioso? — repeti. — Não. Estou indignado. Uma hora exata de atraso, fodidos sessenta minutos, até agora.Ele ergueu uma sobrancelha, pronto para disparar algum discurso sobre paciência, posição ou as vi

Chase HarrisonEu a vi dormir antes de entrar. Harper parecia tranquila demais para alguém que tinha se permitido ser humilhada naquela mesa, ajoelhada como se tivesse nascido para isso. Eu devia deixá-la em paz. Mas não sou esse tipo de homem. Nunca fui.Estava na poltrona quando ela abriu os olhos. O susto dela me fez quase rir, mas engoli. Não vim aqui para brincar.— O que você está fazendo aqui? — a voz dela, ainda rouca de sono, me acertou como uma bofetada.Cruzei os braços, frio. — O de sempre.Ela franziu o cenho, irritada. — Você não cansa de invadir quartos?— Não. — O som saiu cortante. Eu mesmo não sabia se estava mais irritado com ela por ter me rejeitado antes, ou por ter aceitado se ajoelhar diante da ordem de um velho de noventa anos. Isso me corroía por dentro, queimando como ácido.Harper empinou o queixo. Tentava parecer firme, mas eu já sabia o quanto aquela mulher tremia por dentro. — Não é novidade. Já fui submissa de pessoas ricas antes. Isso não é nada para mi

Harper WardO sol filtrava-se entre as árvores, lançando sombras preguiçosas sobre o gramado verde do rancho. Um cenário perfeito para fotógrafos e colunas sociais, se não fosse pela presença da maldita Margareth, sentada a poucos metros de mim, como se tivesse algum direito sobre este espaço. Não fora ideia minha trazê-la para o piquenique, mas Harper não quis ouvir explicações. Virou o rosto no café da manhã, frieza nos olhos, e agora evitava até mesmo ficar perto.Aquela teimosia dela me consumia. Sempre consumia. Mas também funcionava como um maldito combustível para, inevitavelmente, fode-la cada vez mais duro a noite. Descontando não apenas saúde, mas frustração pura e lasciva.Grace e Graham pediram para ir até o lago. Harper, como a boa babá dedicada que era, se ofereceu para acompanhá-los. Eu não tive voz. Só fiquei observando o vestido leve balançar conforme ela caminhava, afastando-se mais a cada passo, como se fosse uma afronta pessoal.— Ela parece bem frágil, não? Uma vi