O silêncio entre nós após aquele momento era quase palpável. Maya estava ainda deitada no sofá, seu corpo ainda desacelerando após tudo o que havíamos compartilhado.Eu a observava com atenção, percebendo o brilho satisfeito em seus olhos, mas também a hesitação sutil que tentava esconder. Algo a incomodava. Algo que não era cansaço ou mesmo preocupação pela confusão em que nossas vidas haviam se tornado. E eu deduzia o que poderia ser.Durante o ápice do nosso momento íntimo, ela havia sussurrado algo. Três palavras carregadas de emoção e verdade. Palavras que ela talvez não tivesse planejado dizer, mas que haviam escapado em meio à intensidade do que ela estava sentindo.Eu ouvi. Cada sílaba. Cada batida acelerada do coração dela que as acompanhou. Aquilo foi tão inesperado para mim que eu fiquei chocado no momento e não disse nada.Ela se moveu ao meu lado, começando a se vestir em silêncio, seus gestos levemente apressados. Havia um receio ali, algo que eu não estava gostando de v

Será que foi por isso que ele não respondeu no mesmo momento em que eu disse que o amava? Caminhei até o banheiro, tirando minhas roupas e entrando no chuveiro. Ele nunca me disse que eu tinha a opção de me transformar em uma dele. Por que ele nunca me deu essa opção?Estava tão perdida em meus pensamentos que não percebi que ele havia entrado naquele boxe comigo ali. Quando suas mãos alisaram meus braços, meu corpo inteiro estremeceu.— O que tanto está te incomodando, pequena? Conversa comigo. Posso esclarecer qualquer dúvida sua. É frustrante não saber o que você está pensando. Me deixa angustiado te ver assim.— Por que você nunca me falou dessa Catarine?— Isso já faz um século, Maya.— Você a amou, Mathias?— Você está se preocupando à toa com alguém que não existe mais. — Ele disse, mas não respondeu minha pergunta. Eu o encarei.— Ela pode não existir mais, porém parece que deixou um grande buraco em você… — Disse dando as costas e saindo do chuveiro. — Eu não sou tapa buraco,

Havia escutado histórias sobre o quanto o rei lycan era impiedoso, muitos de nossa raça, que eu havia conhecido, o temia. Diziam que ele não parava para escutar e que inclusive havia feito algumas execuções em praça pública.— Mathias, nossa raça fala demais, mentem demais, isso faz parte daqueles que querem somente tirar vantagens para si. Ele não seria soberano se não fosse justo.— Muitos reis cujas histórias tenho conhecimento, Alaíde, não possuíram piedade em suas qualidades. Não vou arriscar levar Maya até lá sem qualquer certeza de que ela sairia ilesa.— Risco por risco, estou correndo aqui, Mathias. Se essa pessoa que vocês dizem ser rei pode acabar com essa caçada a nós, prefiro arriscar. — Maya se impôs.— Não, Maya. Não jogarei com sua vida.— Não estou pedindo para você jogar com minha vida, Mathias. Como você mesmo disse, é minha vida. Eu faço dela o que bem-quiser, e se precisarei ir até lá para que nenhum mal também aconteça a você, estou disposta a ir. — Ela disse, ol

O som do interfone ecoou pela casa, quebrando o silêncio. Meu corpo enrijeceu e um arrepio gelado percorreu minha espinha. Durante todos os dias em que estive aqui, isso nunca aconteceu. Meu coração martelava contra o peito, e uma onda de apreensão tomou conta de mim.De repente, o som não era mais do interfone, alguém batia a porta. Engoli em seco e me dirigir até a sala, meus passos hesitantes. A ansiedade se espalhava pelo meu corpo como um veneno corrosivo, cada batida soando como um aviso.Eu não sabia quem estava do outro lado, mas algo dentro de mim sussurrava que aquela visita inesperada não trazia boas notícias. A batida soou mais alta agora, diria até que impaciente.— Eu sei que você está aí dentro. Consigo escutar as batidas de seu coração humano, como um bate de asas de um beija-flor, acelerado. Por que você não abre a porta? — Aquela voz era de uma mulher, mas não de uma que eu conheça.— Quem é você? — Perguntei, hesitante.— Uma grande conhecida do Mathias. — Ela respo

No mínimo, todos conseguiam enxergar a minha preocupação com Maya e essa preocupação não era de alguém que simplesmente trabalhava junto. Ela havia pedido que mantivéssemos aquilo em segredo e sabia o que isso significava para ela.O constrangimento em seu olhar era evidente, um rubor discreto coloriu seu rosto pálido e ela desviou o olhar, tentando evitar os cochichos abafados ao redor.— Relaxa, pequena. — Murmurei, me aproximando. — Eles que falem o que quiserem. Você só precisa se concentrar em ficar bem.Ela me lançou um olhar rápido, algo entre gratidão e desconforto. Fomos conduzidos para uma sala que continha todos os equipamentos de que eu precisava.— Precisa de alguma outra ajuda, Dr. Dante? — A enfermeira perguntou sem saber como agir. Afinal, não era meu plantão, outros médicos estavam atendendo ali.— Se você puder me ajudar, eu agradeço. — Ela assentiu, corando. — Maya prefere fazer isso acordada ou dormindo?— Não se atreva a me colocar para dormir, Mathias. — Ela diss