Narrado por NoahEu sabia que havia alguma coisa errada no instante em que Bianca voltou do banheiro.Ela estava... tranquila demais. Queixo erguido, passos firmes, batom intacto.Mas o olhar.Aquele olhar tinha fogo.Ela se aproximou de mim como se não tivesse acabado de cometer um crime social. Pegou minha taça de vinho como se fosse dela. Bebeu com calma. Respirou fundo. E sorriu.Noah: Está tudo bem?Bianca: Claro. Só precisei jogar fora uma coisa suja.Foi o suficiente.Eu sabia o que havia acontecido. A ex estava no evento. Sempre estava. E com certeza tinha tentado mostrar que ainda tinha algum tipo de poder sobre o que era meu.Olhei para o salão. Alguns rostos cochichavam. A movimentação próxima aos banheiros já estava diferente. Uma funcionária entrou apressada. Outra saiu de lá com olhos arregalados.Eu segurei o riso. Mas não por muito tempo.Puxei Bianca pela cin

BiancaA primeira aparição pública ao lado de Noah estava marcada para aquela noite. Um baile beneficente em um dos hotéis mais luxuosos da cidade, repleto de empresários, socialites, políticos e, claro, fotógrafos sedentos por qualquer deslize.Passei o dia inteiro sendo arrumada. Cabelos ondulados com perfeição, maquiagem impecável, vestido azul-marinho com decote nas costas, salto agulha dourado. Tudo escolhido para projetar elegância, poder e submissão à imagem que a família Mancini queria exibir.Noah chegou pouco antes das oito. Estava deslumbrante em um terno feito sob medida. Parou diante de mim e por um instante não disse nada. Apenas me olhou.Noah: Se olhar demais, vou ter que cancelar o evento e te manter aqui comigo.Bianca: Nem nos meus piores dias eu aceitaria ser trancada por você de novo.Ele sorriu. Não aquele sorriso encantador. Era um sorriso cansado, como se estivesse tentando ser alguém melhor. Mas ainda er

Narrado por BiancaA luz da manhã invadiu o quarto com delicadeza. Estávamos todos em casa — pela primeira vez desde o nascimento do nosso filho, havia uma tranquilidade no ar que parecia quase absurda. Um silêncio gentil. Um respiro depois de tanto caos.O bebê estava no meu colo, enrolado numa manta azul-marinho com as iniciais dele bordadas em dourado. O pequeno Mancini. Nosso herdeiro. Minha revolução pessoal.A primeira coisa que ouvi naquele instante foi o som engasgado do próprio riso dele. Fraco. Um sopro. Mas um riso.— Meu Deus... — murmurei, apertando os olhos. — Você sorriu pra mim, meu amor?Ele respondeu com outro sorrisinho torto, como se soubesse exatamente o poder que tinha. E naquele momento, o chão saiu debaixo dos meus pés. Porque foi lindo. E foi assustador.O amor que senti por ele me arrebatou como uma onda, e junto dela veio o pânico.Porque se eu o amava tanto assim... eu tinha ainda mais a perd

Bianca Odiar é uma palavra forte. Mas tem dias que ela parece leve demais pro que eu sinto. Odiar é quando você lembra de um machucado e sente raiva. O que eu sentia era diferente. Era como se cada célula do meu corpo soubesse que eu ia ter que respirar o mesmo ar que dois canalhas escolheram pra celebrar a traição deles. Faltavam dois dias pro casamento do meu ex com a minha ex-melhor amiga. E, por alguma razão masoquista ou completamente insana, eu disse que ia. Não pra mostrar que estou bem. Porque eu não estou. Não pra fingir maturidade. Porque eu não sou santa. Eu ia pra encarar. Olhar nos olhos. Ver o desconforto. Entender o tipo de gente que eu deixei pra trás. O vestido ainda não estava escolhido. O sapato, muito menos. Mas minha vontade de fazer aquele dia doer pra eles — mesmo com um só olhar — estava intacta. Deitada na cama, com o celular nas mãos, eu encarei a mensagem: “Confirmar presença: Bianca Mancini + acompanhante.” Suspirei. Acompanhante. Que piada. Noah

Narrado por Bianca A igreja estava iluminada, imponente, lotada. Cada passo meu fazia os olhares se virarem. O salto batia seco no mármore branco, e o vestido vermelho cintilava como provocação. Não era só uma roupa. Era minha armadura. E hoje… eu era a guerra. Entrei bem na hora em que o padre começava a cerimônia. As portas se abriram num estalo, como se até Deus tivesse autorizado minha entrada triunfal. Padre: “Estamos aqui reunidos para celebrar...” Bianca: Não quero interromper. Pode continuar, padre. Eu só vim ver o final feliz que vocês tanto desejaram. O silêncio se espalhou. A noiva — Letícia — quase tropeçou ao me ver. O noivo — Gustavo — empalideceu. Os convidados cochichavam, chocados com minha ousadia. Mas eu não ligava. Eu precisava desse momento. Sentei na última fileira. De pernas cruzadas, costas retas, como se estivesse num espetáculo de teatro. E, de certa forma, estava. Eles eram os palhaços principais. E eu? O público mais cruel. Depois da cerimônia, se