Stella Hayes Quando acordei e me deparei com Dominic, foi impossível não me sentir envergonhada ao lembrar do que fiz noite passada. Ainda demorei alguns segundos para lembrar onde estava. E mais alguns para encarar o que aquilo significava. A cama. A coberta. O travesseiro que ainda cheirava ao perfume dele. A vergonha me atingiu com força. E, pior, ele havia acordado antes de mim. Tinha me visto ali. Dormindo ao lado dele como se fôssemos íntimos, como se aquilo fosse normal. Que droga. Meu coração acelerou e fui tomada pela sensação de ter sido flagrada em algo errado. Na verdade, fui. Eu não deveria ter feito o que fiz. Agora o quarto estava vazio, silencioso, após a saída dele. Acho que ele saiu para me dar privacidade, pensando que eu usaria seu banheiro para tomar banho. Mas não, eu não podia fazer isso. Tudo o que mais queria era sair dali o mais rápido possível. E de preferência, esquecer que aquilo aconteceu. Suspirei, levantando com pressa e corri para o meu quarto.

Stella Hayes E chegou o grande dia. Jamais imaginei que um dia estaria me casando em uma manhã nublada, usando um vestido bege-claro e com os pés apertados num salto que não combinava comigo. Era tudo demais. Excessivo. Não imaginava não porque não acreditasse que poderia me casar um dia, mas porque jamais imaginaria que seria assim. Um casamento de fachada. Um acordo. Uma encenação para proteger uma empresa. No caso, a empresa do meu pai. Mas ali estava eu. No saguão do cartório, segurando um pequeno buquê improvisado, que uma das empregadas do Dominic fez questão de me entregar como “toque simbólico”. Meu estômago parecia um nó apertado, e minhas mãos estavam frias. Brandon estava ao meu lado, elegante demais num terno escuro, com aquele ar sempre controlado e um pouco distante. Ele não me olhava há alguns minutos. Dominic havia chegado minutos antes, mas não trocamos mais do que um “bom dia” e um aceno discreto. Eu queria não sentir nada, mas meu corpo ainda se lembrava de duas

Stella Hayes O sabor do risoto ainda estava na minha boca, mas não por prazer — e sim, porque meu estômago travou desde que entrei naquela casa, após sairmos do cartório acompanhados por Irina e Nolan. Cada minuto naquele ambiente me fazia sentir como um objeto cuidadosamente posicionado para compor um cenário de conveniência. Fui treinada para sorrir e dizer as palavras certas. E eu as disse. No cartório. Na sala de jantar. Até mesmo ao ouvir a voz venenosa de Irina alfinetando com o mesmo sorriso que ela usava para brindar. “Mesmo sem muita prática, não é, querida?” Filha da puta! Não respondi. Não reagi. Era exatamente isso o que ela queria: me ver desmoronar, perder o controle. Ela se alimentava do meu incômodo. Sempre foi assim. E Jackson, como de costume, permaneceu inerte, afundado em sua própria ausência emocional. Era ridículo. Como se sua querida esposa agisse e ele apenas seguisse. Assim que o almoço terminou, Brandon sugeriu que fôssemos descansar no quarto dele por

Dominic Willians Eu não devia ter bebido o primeiro copo de uísque. Foi só um. Depois dois. Depois quatro. Agora eu já não sabia mais o número exato. O gosto amargo na boca já não importava. O fogo que descia pela garganta parecia o único capaz de me manter consciente, de alguma forma, me impedindo de gritar, de quebrar alguma coisa, de ir até aquele hotel maldito e arrancar Stella de lá. Mas eu não fiz nada disso. Fiquei aqui. No sofá. De camisa meio desabotoada, com a garrafa aberta sobre a mesa de centro, o celular jogado longe e o peito... o peito doendo como se tivessem enfiado uma barra de ferro quente entre as costelas. Ela se casou. Casou-se com meu filho. Mesmo depois de tudo, depois da forma como ela me olhou, depois do jeito como deitou ao meu lado naquela noite, depois da ligação que fiz ao pai dela, achando que isso significaria alguma coisa. Ilusão minha. Talvez eu tenha lido errado. Ou talvez... talvez ela estivesse apenas tentando ser forte, resistir. Pelo pou

Brandon Willians Eu sempre fui bom com pessoas. Desde garoto, aprendi a decifrar rostos, ler gestos, perceber o que não era dito. Era um talento que herdei da minha mãe — não só o charme e a fala envolvente, mas essa habilidade quase intuitiva de entender quando alguém mentia. Ou escondia alguma coisa. Nos negócios, sabia que isso me ajudaria. Mas nunca imaginei que um dia usaria esse instinto para observar minha própria esposa. E meu pai. Stella. Meu pai. Os dois nomes martelavam minha cabeça há dias. E, quanto mais eu tentava ignorar o incômodo, mais ele crescia. Como uma rachadura se alastrando lentamente por dentro, prestes a romper tudo. Eu tentei não ver nada. Tentei não sentir. Mas hoje... foi impossível. (...) Tudo começou com aquele maldito momento no escritório do meu pai, na empresa. Eu havia saído por dez minutos, talvez menos, talvez mais, para tentar resolver um problema na área de projetos. Quando voltei, encontrei os dois estranhos. Rígidos. Silenciosos. S