Lily viu a tarde passar rapidamente. Passou a maior parte do tempo sentada, tentando entender tudo o que havia acontecido. Quem teria feito a denúncia? Onde encontraria uma solução para manter a boutique aberta? Várias peças ainda estavam sendo produzidas por encomenda, sem falar no desfile que se aproximava.Sua cabeça girava sem saber por onde começar. Mas o pior não era a confusão na mente — era a dor no coração ao perceber que Rafael não estava ao seu lado, mas sim do lado de Catarina. Como ele podia acreditar que ela faria algo assim contra a própria boutique? Ela, que levou anos para construir sua carreira, como ele duvidava do seu caráter, da sua dignidade?Sentindo-se sobrecarregada, Lily pensou em ligar para a única pessoa que poderia ajudá-la naquele momento.— Alô, Lily? — Sou eu. Você está livre hoje à noite? — Opa, estou sim, amiga. O que quer fazer? Por que essa voz triste? — Ah, muita coisa aconteceu desde ontem... Quer sair para um bar? Na verdade, já são quase seis,

— E o que aconteceu? — Ana perguntou, aflita e curiosa.— Bom, aconteceu algo que me tirou o chão dos pés... literalmente, porque eu quase desmaiei. Só me mantive firme porque a dona Paola me segurou.O Rafa estava tendo uma discussão com o Sr. Afonso, pai dele. Ele berrava, dizendo que não ia se casar comigo, que nunca nesse mundo existiria essa possibilidade, e que, se o pai insistisse, ele queimaria a igreja com todos dentro, se fosse necessário, mas que de jeito nenhum se casaria com uma “interesseira” como eu.— Haaaan, MEU DEUS DO CÉU, LILY, EU VOU MATAR ESSE CARA!— Vai nada, doida. De qualquer forma, ouvir aquilo me machucou muito. Naquele momento eu entendi que ele nunca seria meu. Ele me achava interesseira... deve ter sido por isso que ele nunca falou comigo.Eu queria sair correndo, falar pro meu tio que queria desistir do casamento. Mesmo meu lado egoísta falando que não, pois... poxa, eu gostei dele a vida inteira. Desde que eu era uma garotinha. Que mal havia em uma garo

De repente, a mesa vibrou. Rafael olhou para o celular: era Eduardo ligando. Atendeu sem muito ânimo. — Hum, diga. — Nossa, já atende de mau humor? Que bicho te mordeu agora, homem? — O que você quer, Edu? Fala logo, tô cheio de trabalho. — Estou TE OBRIGANDO a ir pro clube agora. Tem uma gatinha nova lá que eu quero conquistar, e os caras estão reclamando da ausência de um certo velho rabugento, sabe? — Não dá, tô atolado de coisa aqui. — Ah, para com isso, Rafael! Quando foi a última vez que você foi? Uns quatro meses? A gente só quer se divertir um pouco. Inclusive, vi no jornal esses dias que trabalhar demais faz mal pra saúde, viu? — Hum, sei… E esse jornal seria o quê? O "Jornal da Sua Cabeça"? — Que nada! Foi no “Jornal do Vamos Viver Porque Só se Vive Uma Vez”. Han han! Vai, bora logo! Os caras tão me enchendo o saco aqui, todo mundo quer que você vá. — Ai, tá bom, que saco! Já tô indo. — Rabugento! Vou avisar o pessoal, capaz deles soltarem fogos. Você nunca topa nad

Lily chegou em casa e sentiu um vazio percorrer seu corpo. Ela e Ana haviam dado boas risadas no caminho — Ana fez de tudo para animá-la, contou piadas e tentou, ao máximo, fazê-la esquecer o que tinha visto.Lily só sentia que precisava de um banho quente, algo gostoso para comer e uma boa noite de sono. Sem pensar muito, subiu as escadas, foi direto para o quarto, olhou para a cama e, assim que se sentou, desabou em lágrimas. Ela jamais imaginou que Rafael fosse esse tipo de homem. Do tipo que se contenta com qualquer mulher, que não tem maturidade, que se envolve em coisas sujas.Se sentia burra. Burra por ter se doado por anos a alguém que não merecia. Alguém que nunca valorizou quem ela era — ou pior, que nunca fez questão de valorizar. Ela finalmente começou a se cansar daquela situação. Decidiu que, a partir daquele momento, colocaria um ponto final nesses sentimentos. Por mais que ainda amasse Rafael com todo o coração e alma, ele não a merecia. Se era com prostitutas que ele q

Rafael acordou cedo, ainda estava escuro quando se levantou e começou a se preparar para correr e treinar. Manter a rotina de exercícios em dia era o que o ajudava a manter os pensamentos organizados e focar no que precisava ser feito ao longo do dia.Levantou-se, vestiu a roupa de treino e desceu as escadas com calma. Ao passar pela sala de estar, viu que Lily ainda dormia no sofá. Sabia que em breve ela acordaria para preparar o café, como sempre fazia. Sem querer acordá-la, saiu em silêncio.Colocou os fones de ouvido e começou a correr pelas ruas ao redor da mansão. Depois de alguns quilômetros, notou no relógio que já havia completado 10km. Voltou para casa e seguiu direto para a academia. Após cerca de duas horas de treino intenso, sentiu o corpo rígido e cansado — era o sinal de que havia dado o seu máximo.Entrou na mansão novamente, dessa vez já clareando o dia. Passou pelos cômodos em silêncio, mas ao se aproximar das escadas, foi surpreendido por um aroma irresistível: ovos