AliceCinco anos depoisO vento suave atravessa a cortina branca, dançando pela sala e me alcançando enquanto estou parada diante da imensa janela de vidro. Do outro lado, o jardim se estende como uma pintura viva, com uma fonte clássica ao centro e canteiros floridos que exibem rosas de todas as cores imagináveis. Os raios dourados do sol tocam as folhas, fazendo-as brilhar como se o próprio tempo tivesse pausado ali.Estou serena, envolta num silêncio íntimo, acompanhando com o olhar minha filha, Maria, de cinco anos, correndo alegremente com a babá pelos caminhos de pedra do jardim. Ela ri com a leveza que só a infância conhece, e por um instante, parece que tudo está em paz.Cinco anos se passaram desde que minha vida deu uma reviravolta. Descobri verdades dolorosas sobre o meu passado, sobre a história sangrenta da minha família... e sobre Giovanni. Descobri os segredos que ele carregava como correntes, pesadas, sufocantes. E mesmo que aquilo tudo tenha despedaçado minha alma na

GiovanniHoje foi um daqueles dias que fazem você questionar o próprio propósito de existir. Os fantasmas do passado, o peso esmagador dos últimos cinco anos, tudo parecia cair sobre mim como uma âncora arrastando meu corpo para as profundezas de um oceano escuro e sem fim. Eu precisava respirar. Precisava esquecer. Por isso, ali estava eu - sentado naquele velho bar anexo ao restaurante que costumo frequentar, o copo de uísque quase vazio entre meus dedos. Achei que talvez uma ou duas doses bastassem para silenciar a dor latejante em minha cabeça. Mas eu sabia que não.Luca ainda estava vivo. Escondido em algum buraco, cercado pelos meus homens, esperando pela hora certa. A cada novo amanhecer com ele respirando, minha preocupação com Alice crescia. Eu não fazia ideia de onde ela estava, e esse desconhecido me corroía por dentro. Mesmo que eu tentasse me convencer de que ela nunca voltaria para mim, o sentimento era teimoso. Desejava-a como nunca. Amava-a mais do que deveria.Enquant

AliceA ansiedade me corroía por dentro, e minha voz tremia quando finalmente decidi revelar a verdade a Giovanni: nossa filha existia. Assim que as palavras saíram da minha boca, vi algo mudar em seu rosto. A expressão dele se fechou de forma quase imperceptível, e então veio o silêncio. Um silêncio denso, sufocante, como se ele tivesse se retirado para dentro de si mesmo, mergulhando em pensamentos distantes. A única coisa que ele conseguiu perguntar foi:- Onde ela está?Era noite, e Maria provavelmente já dormia profundamente, alheia ao turbilhão que se formava entre seus pais. Mas Giovanni parecia tomado por uma necessidade urgente de entender, de reconstruir mentalmente cada instante perdido. Ele queria saber tudo: onde estivemos, como vivemos, por que eu sumi da sua vida sem deixar rastros.Tomei fôlego e me aproximei dele, sentindo que precisava falar de uma vez, antes que o medo me calasse outra vez.- Giovanni... eu nunca quis te afastar da nossa filha. - minha voz vacilava,

AliceHoje foi um daqueles dias que aquecem o coração e renovam a esperança. Um dia que por tanto tempo sonhei, mas por vezes temi que nunca se tornasse realidade. Desde o momento em que Maria nasceu, algo em mim mudou para sempre. Eu estava sozinha, abandonada na Grécia, com o coração partido e a alma marcada pelas lembranças de Giovanni. Acreditei que nosso passado - ou melhor, o passado do meu pai - fosse um abismo intransponível entre nós. Fui mantida afastada de toda a história de ódio entre os Giordano e os Mancini. E, ironicamente, talvez tenha sido esse distanciamento que me aproximou de Giovanni... e, ao mesmo tempo, o que acabou nos afastando.Mas Maria se tornou minha luz. Minha força. Ela foi como os primeiros raios do sol depois de uma noite longa e fria. Sempre me fazia sorrir, mesmo nos dias mais difíceis. E, apesar de sua pouca idade, havia nos olhos dela algo familiar, algo que lembrava o brilho intenso do pai.Hoje, ao vê-la nos braços de Giovanni, meus olhos se ench

Diante do espelho, ajustei com cuidado cada detalhe do meu visual. Era impossível conter o sorriso que insistia em permanecer no meu rosto. Meus olhos brilhavam, as bochechas estavam coradas, e eu mal conseguia acreditar que, depois de tudo, Giovanni e eu estávamos recomeçando. Relembrava os últimos anos - as dores, a distância, os silêncios. Tudo aquilo parecia pertencer a outra vida. Agora, de volta a Londres, com Maria segura e Giovanni transformado, eu só queria recuperar cada minuto perdido.Cinco anos atrás, nossa história tinha começado com mentiras e estratégias, parte de um plano de vingança que, com o tempo, se transformou em algo real. Giovanni me levou à Grécia para me afastar do perigo, mas eu fugi, grávida, assustada, acreditando que um dia teria coragem de voltar. E esse dia, enfim, havia chegado.Usei um vestido que abraçava meu corpo com elegância e me fazia sentir confiante. Sabia que Giovanni notaria - ele sempre notava. Antes de sair do quarto, lancei um último olh