A noite na casa de Giovanni e Alice era de festa. Balões coloridos enfeitavam a sala, pendendo do teto como pequenas promessas de alegria. A mesa exibia uma variedade de quitutes cuidadosamente preparados, com o bolo de aniversário no centro - decorado com glacê rosa, confeitos brilhantes e velas acesas, prontas para o grande momento.Maria, vestida como uma pequena princesa, estava à beira do bolo, os olhos cintilando de empolgação enquanto todos cantavam "Parabéns pra você". Ela mal conseguia conter o sorriso, esperando ansiosamente o momento de fazer um pedido e soprar as velas. Mas, mesmo em meio ao coro alegre, Giovanni não conseguia sorrir com o mesmo entusiasmo. Seu olhar vagava, ausente. As palavras de Adam ecoavam em sua mente como um trovão distante, insistente. Luca havia fugido. E isso mudava tudo.Alice percebeu a mudança no semblante do companheiro. Ela o conhecia bem demais para não notar. Enquanto os convidados estavam distraídos com a aniversariante, ela atravessou a

Alice mal conseguiu dormir naquela noite. Mesmo protegida, cercada por seguranças e sistemas de vigilância, a inquietação não lhe dava trégua. Seu coração parecia preso a um nó - um peso sufocante que não desapareceria enquanto Luca ainda estivesse vivo. Sabia que a morte dele deixaria manchas em sua alma... mas já não se importava.Na manhã seguinte, o silêncio era quebrado apenas pelos barulhos suaves de uma casa acordando devagar. Maria, sentadinha à mesa com um copo de suco de laranja nas mãos, parecia tranquila. Mas, ao se virar para o pai, largando o copo com cuidado, fez a pergunta que ninguém esperava.- Pai, posso te perguntar uma coisa?Giovanni, ainda tentando manter o foco longe dos perigos que os rondavam, sorriu ao vê-la. Seus olhos brilharam ao encará-la. Ele se abaixou um pouco, cutucando o narizinho da menina, que riu com um som doce.- Claro, minha pequena. O que quer saber?- Por que vocês odeiam o meu avô?O tempo pareceu parar.Giovanni congelou. Seus olhos buscar

O ar sereno e acolhedor que reinava na cobertura blindada evaporou num segundo, substituído por uma atmosfera sufocante, densa como fumaça. A escuridão que tomava conta do ambiente parecia uma extensão da presença maligna que agora dominava o lugar. Luca estava ali. Em carne, osso - e ameaça.O sorriso torto, cruel, que se espalhava em seu rosto era a personificação do pesadelo que Giovanni e Alice pensaram ter deixado para trás. Um sorriso que não precisava de palavras. Só existia para congelar o sangue nas veias de quem o encarasse.Alice, paralisada, sentia o coração bater tão forte que parecia ecoar nos ouvidos. Seu corpo tremia, as pernas falhavam, como se o chão estivesse prestes a ceder. Era como reviver o pior momento de sua vida - aquele em que Luca a arrancara de si mesma e a jogara em um abismo sem fundo.Giovanni também não se mexia. Seu olhar vidrado, colado em Luca, carregava os fantasmas de uma dor que nunca cicatrizou. Diante dele estava o homem que lhe arrancara tudo:

Não consigo tirar da cabeça o que aconteceu naquele apartamento. Por mais que eu saiba que foi necessário, por mais que entenda que Luca jamais nos deixaria viver em paz... ainda assim, o peso do que fiz me acompanha como uma sombra. Agora, parada diante da janela, observo o jardim com outros olhos. A paisagem continua a mesma, mas algo dentro de mim mudou.Lá fora, Maria corre pelo gramado, rindo alto enquanto brinca com o cachorro que Giovanni comprou para ela. A cena, que deveria me acalmar, faz meu peito oscilar entre uma paz momentânea - por saber que meu pai nunca mais nos fará mal - e um remorso profundo por ter tirado uma vida. Por mais que eu tenha feito para proteger quem amo, matei alguém. Matei meu próprio pai. E essa é uma marca que vou carregar comigo até o fim dos meus dias.A lembrança daquele tiro ainda ecoa nos meus ouvidos. Ver Giovanni cair, ferido, pela segunda vez pelas mãos de Luca... meu coração congelou. Naquele instante, percebi que não havia mais espaço para

JuliaO homem à minha frente era tudo o que muitos considerariam ideal - pele bronzeada, cabelo impecavelmente aparado, sorriso charmoso e presença confiante. Mas, mesmo assim, minha mente era minha maior inimiga. Não importava o quanto eu tentasse, não conseguia parar de pensar em Adam.Adam era, sem dúvida, meu erro mais doloroso. Como fui cair na teia dele? Antes de conhecê-lo, eu jamais imaginaria me apaixonar por alguém tão frio, tão seguro de si, envolto naquele mistério que me atraiu como um ímã. E aqueles olhos... bastava um olhar para me desmontar.No casamento de Alice e Giovanni, lá estava eu, em meio à festa, mas perdida em pensamentos. Meus olhos vagavam pela multidão até encontrarem Adam, a poucos metros de distância. Vestia um terno escuro impecável, e embora estivesse em uma plataforma observando o salão, era nítido que seu olhar estava cravado em mim. Gélido. Furioso. Queimava mais que o sol da Itália.Tentei me concentrar no homem ao meu lado - educado, bonito, simpá