A ansiedade pelo retorno de Eduardo estava me deixando perturbada, sem conseguir prestar atenção nas aulas e sem dormir direito.Desde que vi a foto deles na internet, não mandei mensagem para ele, e ele também não falou nada — o que considerei uma confirmação de tudo. Agora ele iria chegar e eu nem sabia quando, porque estava com medo de perguntar para a Márcia.Quando Eduardo saiu para viajar, se despediu dizendo que, com sorte, chegaria cedo em casa, mas não tinha certeza. Eu não sabia como seria esse reencontro — se ele iria simplesmente me ignorar e fingir que o que aconteceu entre nós foi apenas um passatempo.Mas não precisei me torturar muito, porque a porta da cozinha se abriu e Eduardo entrou durante o café da manhã das crianças. Eu estava um caco, com olheiras, descabelada e ainda com a blusa manchada porque Alice tinha acabado de derramar achocolatado em mim.Não consegui olhar para ele, foquei nas crianças. Eu sentia vergonha e tristeza. As crianças fizeram festa ao abra

Eu precisava falar com Eduardo sobre o Davi. O Davi não queria que eu falasse com o pai, mas sabia que eu acabaria falando. A situação estava ficando estranha, porque eu precisava conversar — afinal, era meu trabalho —, mas também tinha medo de ficar sozinha com Eduardo em uma sala fechada. Por isso, não estava exatamente animada para a conversa.E ver Eduardo de bermuda, sem camisa, fazendo exercício, todo suado logo nas primeiras horas da manhã, também não ajudava. Eu nem tinha percebido que havia uma sala com equipamentos de academia na casa.Levei as crianças para a escola e decidi resolver tudo de uma vez. Optei por uma abordagem neutra e escolhi falar com Eduardo no escritório da empresa. Por isso, mandei uma mensagem para Márcia avisando que tinha um assunto a tratar e perguntando se havia um horário disponível na agenda.Estava certa de que tinha tomado a melhor decisão… até a porta do elevador se abrir e eu encontrar Beatriz no saguão do escritório.Eu era muito tapada. Como

Passar o dia com a Aninha foi ótimo para carregar as energias. Ela xingou o Eduardo, chorou quando viu uma foto da minha mãe e tentou me animar me levando ao cinema. Quando voltei ao trabalho, tudo continuava igual. Inclusive o clima estranho entre mim e Eduardo.Eu não pensava muito no fato de que Eduardo conheceu a minha mãe. Ele devia ter uns doze ou treze anos, e, mesmo frequentando a outra casa, duvidava que ele prestasse atenção na faxineira — até porque a limpeza era feita quando a casa estava vazia, funcionários eram treinados para serem invisíveis. Mas, depois da conversa com Dona Maria, quase senti o impulso de perguntar alguma coisa. Só que sabia que não era uma boa ideia, ainda mais com a raiva e a mágoa que ainda existiam entre nós.— Carmem, a festa de aniversário da Fernanda vai ser aqui em casa. Ela vai vir conversar sobre os preparativos — disse Eduardo, entrando na cozinha pela manhã, justo quando eu servia café para as crianças.— Vai ter mais convidados que da

— Me fala uma coisa curiosa. — Eduardo pediu. Tínhamos começado a conversar sobre nós, falando sobre tudo e sobre nada.— Quando eu tinha 13 anos, sonhava em aprender francês. Minha meta era conseguir cantar La Vie en Rose sem olhar a letra. Passei meses treinando, decorando, cantando baixinho no meu quarto até que consegui. Agora, já não lembro quase nada — acabei relaxando um pouco. Só o verso clássico ficou na minha cabeça: "Je vois la vie en rose."— A sua pronúncia ficou perfeita. Pelo menos eu achei. O que significa?— "Eu vejo a vida em rosa."— Acho que combina com você.Sorri, meio sem graça, mas meu coração bateu mais forte.— E você? Aposto que sabe falar umas línguas. — perguntei.— Sei inglês, espanhol e um pouco de italiano, que na verdade só aprendi pra pedir vinho e elogiar comida. O que, na minha opinião, é o essencial. — Ele riu, descontraído, tomando um gole de vinho. — Tentei alemão por insistência do meu pai.— E aí, como foi?— Um desastre completo. Três meses d

Eu queria que Eduardo tivesse falado alguma coisa.Mas nem atrás de mim ele veio. Claro que, se isso acontecesse, seria o mesmo que assumir para todo mundo naquela sala que havia algo entre nós. E eu sabia que não estava pronta para isso, muito menos o Eduardo. Mesmo assim, eu queria que ele tivesse dito alguma coisa. Qualquer coisa. Na cozinha, ouvindo todos conversarem e rirem enquanto ajudava Carmen e a outra cozinheira, senti um gosto amargo na boca.Mais uma vez, a realidade de quem eu era batia à minha porta. Como Beatriz havia dito, eu era apenas a babá. Não importava se dormia com meu chefe ou se ele me levava para jantares românticos em lugares caros. Eu continuava sendo só a babá que tinha um caso com o patrão.Não queria, mas senti vergonha de mim mesma.— Quer levar o prato das crianças? Eu levo o resto — perguntou Carmen, mostrando o prato com a comida deles.Eu não queria aparecer de novo na frente deles, mas não tinha como fugir. Afinal, era a babá.Eles já haviam saí