Abigail levantou com uma dor de cabeça terrível. Não conseguiu dormir e passou a noite inteira acordada. Tomou um banho tentando aliviar o cansaço no corpo, mas ao se olhar no espelho, viu o rosto inchado — resultado dos t***s de Regina e do choro intenso. Lamentou não saber se maquiar, pois talvez conseguisse esconder os hematomas. Ainda não desceu para o café, sem fome e desejando se esconder no quarto pelo máximo de tempo possível. Evitava também o celular, ciente de que haveria ligações de Sérgio — e com certeza de Alex.— Abigail — ouviu a voz de Marcos do outro lado da porta. — Sim? — Você não vai tomar café, minha filha? — Estou sem fome hoje. — Está tudo bem? — Está sim. Só perdi a noção do tempo, já estou descendo. — Estou te esperando lá embaixo.Mais alguns minutos se passaram até que ela enfim tomou coragem para descer.— Tem certeza de que está tudo bem? — Marcos perguntou ao vê-la. — Você está abatida. — Só não dormi bem. — tentou sorrir. — Então fica em casa. Sér

Abigail passou os dias seguintes trancada em casa. Marcos proibiu que ela voltasse ao escritório, e Sérgio concordou. Segundo eles, ela precisava descansar. Abigail até tentava demonstrar que estava bem, mas no fundo sabia que não estava. Alex podia sair da prisão a qualquer momento, e Regina apenas prestara depoimento e já estava solta. Por isso, todos estavam em alerta: seguranças rondavam a casa, o número do celular de Abigail foi trocado e Marcos sequer compareceu ao casamento que aconteceria naquele fim de semana, Sérgio quem foi representando o escritório.Essa paralisação da vida dos outros por causa dela a fazia se sentir ainda mais culpada. Desde que chegara, só causara problemas. E agora, além do risco de vida, seu pai estava trabalhando de casa apenas para protegê-la.— Pode entrar — Abigail disse ao ouvir batidas na porta do quarto.— Oi, filha — Marcos entrou com o rosto tenso. — Está tudo bem?— Sim — ela respondeu, forçando um sorriso.Ele se sentou ao lado dela na cama,

Após o almoço, todos seguiram juntos para a praia. Abigail, que não sabia nadar, preferiu ficar apenas na areia. Marcos, por outro lado, aproveitou para dar um mergulho.— Só assim pra ele relaxar um pouco — disse Luiza, sentada ao lado de Abigail numa espreguiçadeira.— Ele trabalha demais mesmo — respondeu Abigail com um leve sorriso.— Não é só o trabalho. Ele carrega o mundo nas costas, se preocupa com todo mundo.— E eu apareci pra ser mais uma preocupação...— Nada disso. Claro que ele se preocupa com você, mas você trouxe pra ele uma felicidade que eu não achei que ele pudesse sentir. Por mais que ele esteja sempre tenso, você é exatamente o que ele sempre quis.— Mas eu trouxe mais problemas do que soluções.— Abigail... e qual filho não traz problemas pros pais? — Luiza brincou, fazendo as duas rirem.— É verdade. E ele tem sido ótimo... Vocês têm sido.— Vocês... eu e o Marcos? Ou o Sérgio também entra na conta?— O Sérgio é legal.— Só isso? “Legal”? — Luiza riu. — Interessa

Os dias se arrastavam em um compasso lento e abafado, e Abigail tinha a sensação de que o tempo no escritório obedecia a um relógio próprio — um relógio teimoso, que se recusava a avançar. Cada minuto se alongava como se fizesse questão de lembrá-la de sua inquietação. O som dos teclados, os toques de telefone, até as vozes ao redor, tudo soava distante, como se ela estivesse presa em uma bolha onde o mundo seguia em câmera lenta.Ela mantinha os olhos fixos na tela, tentando convencer a si mesma de que estava concentrada. Mas era mentira. Sua mente estava longe dali. Presa em pensamentos que não paravam de voltar para o mesmo lugar.Para o mesmo alguém.Sérgio.Desde que disse a ele que estava disposta a tentar por eles, ele simplesmente não disse nada — e isso doía mais do que qualquer resposta. Então ela passou a observá-lo com atenção dobrada. Ele estava ali — fisicamente presente —, mas emocionalmente ausente. Cada gesto era medido, cada palavra parecia escolhida com cautela. E o

Dias depois no escritório, a tensão ainda pairava entre eles. Não havia discussões, não havia cobranças, mas o silêncio dizia mais do que qualquer briga. E Sérgio odiava isso — odiava o modo como os olhos de Abigail, normalmente tão vivos, pareciam agora observá-lo de longe. Como se tentasse decifrá-lo sem invadi-lo, como se estivesse esperando que ele se explicasse... ou se afastasse de vez.Ele a queria. Deus, como ele a queria. Mas também queria merecê-la — e naquele momento, não sentia que merecia nada além do silêncio dela.Depois do almoço, ele se trancou no escritório, fingindo revisar relatórios, mas, na verdade, apenas olhava para a tela do notebook sem foco, enquanto a imagem de Abigail sentada sobre a escrivaninha, com os olhos fechados e os lábios entreabertos, o torturava. Aquilo devia ter sido um momento leve entre eles, mas ele havia deixado se transformar em mais uma parede entre os dois.Abigail estava em sua mesa, revisando alguns relatórios, quando percebeu Marcos v