Eduardo LiraQuando pousamos em Curitiba, a situação rapidamente se transformou em um pesadelo: a polícia me informou que havia um mandado contra mim por sequestro. Fui mantido por horas naquela sala, sem direito a advogado. O ódio que sinto por aquela mulher só aumentava, e a vontade de pedir ao Bruno que “sumisse” com ela parecia irresistível. Respirei fundo, contei até dez, cruzei braços e pernas, fechei os olhos e esperei.Podem ter certeza: entrarei com uma queixa contra o modo como fui mantido preso, sem qualquer explicação. Augusto, sem dúvida, estava providenciando para que finalmente me liberassem. Olhei para o relógio: já se passavam quase três horas sem qualquer justificativa. Minha paciência estava no limite.Levantei-me e fui até o espelho de duas faces. Arrumei o colarinho da camisa e forcei um sorriso de lado. Sabia que alguém do outro lado me observava, analisando minha postura. Minha esposa é psicóloga; se não aprendi nada sobre manipulação da mente humana, não teria

Eduardo LiraVer minha esposa defendendo nossa filha é maravilhoso. Não consigo entender como a Rebeca reaparece depois de tantos anos e acha que basta dizer que quer pedir a guarda da Helena.Todas às vezes que conversamos, ela deixou claro que não tem paciência. Diferente da Bia, que fala com a Helena com carinho de mãe e é assim que nossa filha a respeita. Duvido que qualquer juiz ignore o vínculo entre as duas.Depois de tudo, Helena quis ir com a Bia no carro. Eu segui atrás, já que passaríamos somente no consultório para pegar as coisas que ela deixou quando correu para a escola. Depois, iríamos para casa.Estaciono ao lado do carro da minha esposa e saio para ficar com a Helena, que continua na cadeirinha. Ela mexe distraída na barra do uniforme, pensamentos distantes. Sei que está apavorada com tudo o que está acontecendo.— Meu amor, está tudo bem? — pergunto.Ela levanta o olhar triste. Sua cabecinha deve estar confusa, se sentindo vulnerável.— Papai… sou obrigada a ficar c

Eduardo LiraTer nossos amigos em casa é maravilhoso, amo todos eles, mas hoje estou tão cansado que a única coisa que quero é deitar. Descansar parece impossível por causa da cobra da minha ex-esposa. Pelo menos por agora, mas vou dar um jeito nela, nem que para isso eu acabe preso.Ajudo minha linda esposa loirinha a arrumar a bagunça. As meninas já tinham feito a maior parte, mas, como tenho TOC de organização, a Bia sempre deixa tudo perfeito antes de irmos para a cama. Seguimos para o quarto. Começo a tirar a roupa enquanto ela vai para o banheiro.Me deito, exausto, tirando apenas a cueca para relaxar. Penso em tomar banho depois que ela voltar, mas o cansaço me vence. Durmo abraçado ao travesseiro, sentindo apenas o cheiro dela atrás de mim.Sonho com a época da faculdade. Meu professor de Direito Civil falava sobre abandono do lar, segurando a Helena no colo. Ele pediu para usar meu exemplo, e aceitei.— No caso da nossa pequena Helena, a genitora saiu de casa sem se preocupar

Eduardo LiraEntramos no fórum de mãos dadas. Helena está receosa, o que não é comum para ela. Normalmente é corajosa e muito curiosa com tudo ao seu redor, mas hoje segura firme a minha mão. Estou orgulhoso de vê-la agarrada à sua mãe. Hoje é o início para concretizar a maternidade da nossa filha. Já temos tudo planejado, e expliquei à Bia o que deve fazer.Meu professor se aproxima da nossa família e entrega a Augusto um arquivo. Fico curioso para saber o que é.— Não posso falar agora. Espero não precisar usar, pode ser demais para ela. O material serviria para que ela fosse presa, e não sei se é isso que vocês desejam — Jess se mete na conversa.— Que ela seja presa? — Bia se afasta para que Helena não ouça. — Essa mulher sequestrou nossas filhas, senhor.Por mim, ela estaria morta, jogada para apodrecer em algum lugar.— Jess, cuidado com o que fala. Se ficar nervosa, peço que o Tom nem a deixe participar da audiência. Tivemos sorte que será feita no tribunal do júri por falta de

Helena LiraMamãe me arrumou hoje para ficar ainda mais bonita que o normal. Ela me disse que era um dia muito importante e que eu não podia ficar com medo.— Bia, ela não tomará nossa filha, não se preocupe. Aquela cobra não tem a mínima chance de ganhar a guarda da nossa menina. — Papai me tranquilizou.Era dia de escola, mas eles tinham que me levar para que aquela bruxa não ficasse comigo. Mamãe voltou ao quarto para me chamar para o café e percebeu minha tristeza.— Você ouviu, não é? — Balanço a cabeça, concordando.— Faremos de tudo para que você não saia do nosso lado, minha princesinha. Mamãe, só fica com medo porque você é muito novinha para passar por tudo isso. Você devia se preocupar apenas em brincar e ser feliz. — Desço da cama e abraço minha mãe, que está ajoelhada de frente para mim.— Aquela bruxa não destruirá nossa família, mamãe. Demorou muito para que o papai do céu me desse uma família, e tenho certeza de que ele não iria me tirar você agora. — Meu coração fica