P.D.V de Ethan O vitral sobre o altar projetava cores suaves no chão de pedra, como se a luz do céu tentasse tocar a terra ali dentro. A capela estava quase vazia. Só eu, sentado num dos bancos ao fundo, e Madre Margaret Callahan, ajoelhada em oração. Esperei em silêncio. Não queria interromper. Eu sabia que precisava falar com ela, mas também sabia que o momento exigia reverência. Quando ela se levantou, notou minha presença. Caminhou até mim com aquele mesmo sorriso discreto de sempre — firme, sereno, quase maternal. — Que bom que você veio e na hora certa — disse ela. Assenti com a cabeça e me levantei, o coração apertado no peito. — Achei que era hora de agradecer — respondi. — E também de pedir permissão. Ela arqueou uma das sobrancelhas, curiosa. — Permissão? Estendi a pasta de couro que trouxe comigo. Estava um pouco suada nas mãos. Quando ela a abriu, encontrou os projetos que venho trabalhando há semanas. Desenhos, algumas descrições. No topo de tudo, estava o títul

P.D.V de Kaiden Passei as últimas duas semanas imerso na minha alcatéia, organizando tudo. Meu treinamento como Alfa já estava concluído — comecei aos 17 e terminei aos 18. É um curso básico, com duração de um ano. Ensinam a teoria: nossa cultura, costumes, leis, rituais. Mas o que realmente importa... isso não se aprende. Está no sangue. A força, a liderança, a presença — essas coisas nascem com a gente. John Madison também se adaptou. Trocou as vestimentas tradicionais, com seu estilo tribal marcante, por roupas mais sóbrias, urbanas. Vindo de onde veio, ele estava claramente se esforçando para se encaixar no novo ambiente. E, devo dizer, estava conseguindo. O momento mais desconfortável dessas duas semanas, sem dúvida, foi meu primeiro encontro com Stella. Já faz quase uma semana, mas a cena ainda ressoa na minha mente. Perses, meu lobo, esteve na superfície durante toda a interação. Ele a rondava em silêncio, como se ela fosse nossa companheira. Mas não era só isso. Ele sentia

P.D.V de Íris Já faz semanas desde que Kayla partiu. E o idiota do Dr. James? Sumiu por quase duas semanas. Disse que estava “caçando”, como ele gosta de chamar. Mas eu sei muito bem o que ele andava fazendo: procurando mulheres com genética promissora para os experimentos grotescos daquele circo dos horrores que ele chama de laboratório. Só alguém tão perturbado quanto ele poderia ver essas monstruosidades como uma forma de evolução. Ele adora se vangloriar por achar que foi o primeiro a descobrir o método para uma gestação simulada. Mas ele está errado. A verdade é que foi a entidade que me acolheu e me refez, quem me mostrou esse caminho. Algo dentro de mim diz que isso já aconteceu antes. A analogia da uva vem à mente: uma fruta que cai de uma árvore que nem era dela. Como se dissesse que a fruta não cai longe do pé — mas, nesse caso, ela nem pertencia àquela árvore. Será que Stella não é filha de Vivienne? Preciso de testes. Já fiz alguns rituais para tentar sondar, James ta

P.D.V de James Morrison Eu acabo perdendo o sono, e estou frustrado por tudo que acabei de lembrar. Preciso extravasar, ainda bem que eu tenho um brinquedo ao meu lado para usar.Amarrei suas mãos na cabeceira da cama, usando os lençóis sujos da nossa föda mais cedo. Depois, a vendi. Acordei-a com tapas, a garota, cujo nome eu ainda não me importava em memorizar, despertando assustada. Mas elas sempre sabem entrar no jogo, sempre.Ela estava nüa, revelando sua pele pálida e um corpo esguio. O lenço de seda escüra cobria seus olhos, intensificando a escuridão ao seu redor.Ela estremeceu, um arrepio percorrendo seu corpo, mas não se moveu. Era uma resposta silenciosa de reconhecimento e submissão."Você sabe o que acontece quando não se obedece, não sabe?" Minha voz era baixa, controlada, mas carregada de autoridade. Senti a cabeça dela balançar em um assentimento quase imperceptível.Deslizei a mão para o ombro dela, apertando de leve, sentindo a tensão em seus músculos. A outra mão

P.D.V de Kayla Faz quase dois meses que cheguei ao território da alcateia Uivo Nëgro, e ainda me impressiono com o modo como este lugar equilibra tradição e modernidade. Não é só uma alcateia — parece uma pequena cidade, onde a vida selvagem convive em harmonia com a organização urbana e o respeito pela natureza. As ruas são asfaltadas e bem cuidadas, ladeadas por casas de tijolo e prédios com telhados cobertos por placas solares. À noite, postes de LED iluminam as calçadas sombreadas por árvores antigas. Em cada esquina, lixeiras coloridas incentivam a reciclagem — orgânico, plástico, vidro. Sistemas de captação de chuva irrigam os jardins, e as torneiras com sensores nas áreas comuns evitam o desperdício. Tudo aqui é pensado com consciência. A comunidade pulsa como um organismo vivo. Com cerca de dois mil lobos, a alcateia pulsa como uma cidade bem planejada. Há escolas equipadas com laboratórios de tecnologia de ponta para filhotes e adolescentes, clínicas que integram medicina