“A mentira tem pernas curtas, mas um alcance enorme. Só a verdade consegue sobreviver ao tempo.” — Machado de Assis🎵 Trilha Sonora Sugerida: “Apesar de Você” (Chico Buarque)Enquanto a família Bellucci desfrutava de um momento raro de alegria, Victoria se isolou em sua cobertura — um espaço que mais parecia um caldeirão fervente de tensão.O silêncio que reinava ali não trazia conforto algum.Não, não era silêncio; era um zumbido constante, o tipo de som que emerge de uma mente à beira do colapso. Era denso, como uma névoa tóxica, carregado da paranoia de quem já perdeu tudo e agora vê inimigos até na dança das sombras.Um silêncio que carregava consigo o peso de alguém que havia atravessado as fronteiras da razão, mergulhando em um desejo insaciável de vingança, onde a destruição do outro se tornara prioridade, eclipsando até mesmo a vontade de se salvar.Sobre a mesa, uma bagunça que espelhava seu turbilhão interno: recortes de jornais amontoados, impressões de matérias digitais,

“Quem combate monstros deve cuidar para que não se torne um deles. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha de volta para você.” — Friedrich Nietzsche🎵 Trilha Sonora Sugerida: “Cálice” (Chico Buarque & Gilberto Gil)O crepúsculo envolvia a mansão em uma serenidade quase inquietante, como se o tempo hesitasse em avançar.Na sala, as crianças se perdiam em risadas e brincadeiras, suas vozes ecoando como um bálsamo para a tensão que Dayse mal conseguia perceber, mas que estava prestes a se instalar.Com a barriga já arredondada pela gravidez avançada, ela afastava as preocupações por alguns momentos, aproveitando aqueles instantes preciosos de calmaria para dar uma olhada nos relatórios que precisaria apresentar no tribunal na manhã seguinte.Mas, de repente, essa harmonia foi interrompida. Primeiro, foi uma sensação inexplicável, como se o ar estivesse carregado de algo inquietante. Então, um detalhe inusitado desviou sua atenção: uma sombra projetada no portão.U

“A verdade pode ser abafada por um tempo, mas jamais se cala para sempre.” — Mahatma GandhiO tribunal estava lotado de expectativa. Embora o processo corresse sob segredo de justiça, a presença da imprensa diante do fórum era avassaladora. Do lado de dentro, apenas advogados, o juíz e as partes envolvidas. Mas do lado de fora, a multidão clamava por cada fragmento de verdade.Na sala, Victoria entrou apoiada no andador. O vestido claro, o semblante de fragilidade, o olhar ensaiado como se vítima fosse.Dayse não desviou os olhos: observava cada gesto, cada minúcia, sabendo que logo as máscaras cairiam.Enzo estava ao lado dela, sóbrio e firme, mas no íntimo sentia as memórias de anos de manipulação latejando como feridas abertas. Theo e os irmãos ficaram em uma sala separada, sob proteção. Esse não era um lugar para eles — não ainda.O juiz abriu a audiência. Documentos foram organizados, os autos lidos. E então um nome foi chamado:— Senhora Luna Vasquez, favor se aproximar.O silên

“Não há maior agonia do que carregar dentro de si uma história não contada.” — Maya AngelouThiago desligou a televisão com as mãos trêmulas.O nome “Dayse” ecoava pelos canais de notícias, e cada reportagem era como um soco em seu estômago. Ela estava viva. Mais que isso — estava lutando.Durante todos aqueles anos, ele carregara uma culpa que o corroía por dentro. A lembrança de uma mulher de olhar inocente que desaparecera da mansão sem deixar rastros, enquanto ele se mostrara impotente, dividido entre protegê-la e não trair a própria irmã.Agora, descobria que Dayse não apenas sobrevivera, mas enfrentava Victoria em uma batalha pública pela guarda do filho.E pior: sua irmã voltava a assumir o papel de vítima, manipulando a opinião pública com a mesma maestria de sempre.Thiago conhecia a verdade. Sabia do que Victoria era capaz.O acidente de treze anos atrás não fora acaso — fora uma trama arquitetada por Victoria e pela família. Ele ouvira conversas, presenciara reuniões, vira

“As máscaras caem não quando o mundo exige, mas quando já não suportam o peso do próprio rosto.” — Fernando PessoaO salão do tribunal parecia um anfiteatro da verdade. As paredes altas e a luz fria dos lustres refletiam um silêncio que pesava sobre cada respiração. O caso que chegara ao julgamento não era mais apenas sobre manipulações ou difamações. Era sobre sangue. Sobre a vida que se perdera naquela noite diante da mansão Bellucci.Victoria entrou ladeada por policiais. Não havia mais andador, não havia cadeira de rodas. Apenas ela, andando com passos tensos, o salto ecoando no piso de mármore como se desafiasse os olhares que a atravessavam. Vestia preto — luto calculado, teatral.Na primeira fila, Dayse estava sentada ao lado de Enzo, as mãos entrelaçadas em silêncio. Theo e os irmãos ficaram em casa, protegidos da cena que marcaria para sempre os jornais. Mas Lorenzo, mesmo fragilizado, insistiu em estar presente, sua bengala apoiada firme contra o chão como um estandarte de fe