Andrews SmithO e-mail chegou às 08h57 da manhã.Na tela, a logo discreta da VIP Rooms. Fundo negro, texto branco, assunto direto:Atualização sobre o Evento: Performance Afrodite – Leilão CanceladoPor um segundo, fiquei em silêncio. A fumaça do meu café ainda serpenteava sob a luz artificial do escritório. Mas aquilo… aquilo cortou o ar como uma navalha no ventre.Meus olhos varreram o conteúdo da mensagem. Frio, objetivo, corporativo.Prezado Sr. Smith,Informamos que, por violação contratual e descumprimento das diretrizes impostas pelo código de ética da plataforma, a performance intitulada Afrodite teve seu leilão suspenso de forma irrevogável.Um dos participantes violou cláusulas fundamentais, comprometendo a segurança emocional e psicológica da performer.O perfil foi banido, e a performer solicitou desligamento imediato.Agradecemos sua compreensão.Atenciosamente,Equipe VIP RoomsSoltei uma risada, seca, quase gutural. Revirei a cadeira, empurrei a caneca com força, o café

Local: Pub “Black Widow”, BostonPouco depois da saída de Evan da VIP RoomsA noite havia engolido Boston com seu hálito frio e cortante. As luzes do distrito de Seaport piscavam como olhos bêbados e inquietos. O pub era uma mistura de cheiros fortes, cerveja derramada, couro desgastado dos estofados antigos, fumaça de cigarro e perfume barato. O som de uma banda tocando jazz moderno reverbera em suas costelas. Gritos, risadas, o tilintar de copos. Mas nada parecia alcançar Evan de verdade.Ele estava ali, sentado no canto mais escuro do pub, com um copo de uísque firme na mão, ele encarava o líquido como se pudesse encontrar respostas ali. Era o terceiro, ou talvez o quarto e ele sequer sentia mais o gosto. O terno ainda impecável denunciava que tinha vindo direto de um lugar que exigia postura. Mas naquele momento, o olhar baixo, a barba por fazer e os olhos vermelhos contavam outra história. Sentia apenas o vazio, a névoa densa dos pensamentos que não cessavam de sussurrar o nome

 Local: Garagem subterrânea da cobertura de Evan | Horário: 2h32 da madrugadaAs luzes da garagem acenderam em sequência conforme o carro preto importado de Evan Médici deslizou pelo piso de concreto, em marcha lenta e silenciosa. Um vulto, um reflexo de metal e sombras.Mas o que Evan não esperava ver, o que o fez pisar no freio com violência, o som dos pneus ecoando no vazio, foi a figura de uma mulher sozinha, parada ao lado do elevador privativo. Envolta em um casaco de lã cinza, o rosto pálido sob a luz artificial e fria. As mãos apertadas uma contra a outra. E os olhos… grandes, aflitos, como se aguardassem por um fantasma.Emma. Sua mãe.Ele apertou os olhos. O álcool ain

 Local: Cobertura de Evan Médici | Horário: 6h42 da manhãO quarto ainda estava escuro, as cortinas pesadas bloqueiam a entrada da luz da manhã, mas nem era preciso claridade para sentir o caos que ali reinava. O cheiro de uísque e suor impregnava o ar como um lembrete da noite mal dormida, ou melhor, da noite inexistente.Evan abriu os olhos devagar, como se cada movimento dos músculos do rosto denunciasse a dor que pulsava em seu crânio. A cabeça latejava, um tambor insuportável ecoava atrás dos olhos. Levou a mão à têmpora e logo sentiu a dor aumentar. Seu lábio inferior ainda estava cortado, e o rosto inchado denunciava a violência da noite anter

 O espelho refletia uma mulher que tentava parecer inteira. O vestido de seda creme abraçava seu corpo como se também tentasse protegê-la. Os fios dourados caíam em ondas sobre os ombros, e os lábios recém-retocados com gloss tremiam quase imperceptivelmente. Irina respirou fundo.— Pronta? — murmurou para si mesma, encarando o reflexo.Mas a resposta não veio.O apartamento estava silencioso, exceto pelo som suave da trilha instrumental que Nicole colocara ao fundo para “acalmá-las”. As duas estavam na sala, folheando o catálogo da nova coleção de lingeries da plataforma, enquanto Natália finalizava a maquiagem de Irina no quarto.— Fica paradinh