Chegar à casa de Eva foi como cruzar um portal entre duas realidades. Por fora, eu mantinha o sorriso, a compostura, mas por dentro, tudo em mim estava ruído. O reencontro com Damian não havia apenas mexido comigo… ele havia me destroçado por dentro, camada por camada. Eu mal conseguia manter o equilíbrio da minha respiração.Eva me recebeu com os braços abertos e um sorriso caloroso, como sempre. Lian correu para os brinquedos do outro lado da sala, rindo alto com alguma brincadeira nova que Eva havia providenciado. Tão inocente, tão alheio a tudo que estava prestes a desabar dentro de mim.— Cadê o Ethan? — ela perguntou casualmente, entregando-me uma taça de suco.— Ficou para resolver algumas pendências com o sócio. Nada importante — respondi, tentando soar desinteressada. Mas minhas mãos tremiam levemente ao redor do copo.Eva franziu o cenho. Ela me conhecia bem demais para engolir aquilo.— Ayla... — disse com voz baixa, puxando-me discretamente para a cozinha, longe dos ouvido

Lian já dormia profundamente, seu corpo pequeno envolto no edredom branco da cama do hotel. Suas bochechas estavam coradas, e a respiração suave me dava algum conforto, mesmo que passageiro. Eu o beijei na testa e alisei seus cabelos macios com a ponta dos dedos, tentando acalmar a tempestade que insistia em crescer dentro de mim.Minha loba não se aquietava. Ela se revirava sob minha pele, rosnando baixo, como se pressentisse algo que minha mente racional ainda se recusava a admitir. Havia uma inquietação nela desde o reencontro com Damian, como se ela reconhecesse que algo quebrou o fluxo do destino. Ou talvez tenha apenas retomado o que nunca deveria ter sido separado.A porta se abriu lentamente. Ethan entrou sorridente, tirando o casaco e afrouxando a gravata. Seu olhar encontrou o meu e, por um instante, hesitou.— Tudo bem por aqui? — ele perguntou, se aproximando com um carinho que evitei de maneira inconsciente. Sua expressão de surpresa apenas fez com que, naquele momento, u

Alguns dias se passaram desde a nossa última discussão, mas a tensão entre mim e Ethan ainda pairava como uma nuvem carregada sobre nossas cabeças. Não tocamos mais no nome de Damian, mas era como se ele estivesse presente em cada silêncio, em cada olhar evitado. Sabíamos que a tempestade ainda não havia passado, apenas estávamos adiando o confronto inevitável.Um elegante envelope escuro, com o brasão da empresa de Damian gravado em dourado, chegou ao nosso quarto de hotel, nos convidando para um jantar exclusivo com os principais investidores e executivos. Ethan parecia animado. Eu, por outro lado, sentia um peso insuportável pressionar meu peito.Sentia como se estivesse me arrumando para a minha execução. Com um vestido preto longo, simples, mas elegante, que se moldava ao meu corpo. Olhei para o meu reflexo no espelho. Não queria chamar atenção, então evitei qualquer joia, optando por um colar limpes e brincos delicados.Lian ficaria com Eva naquela noite. Ela me abraçou forte an

O convite para o jantar de gala prometia uma noite de networking, mas Ethan e eu fomos pegos de surpresa quando a Blackthorn Enterprise cancelou o evento e remarcou uma reunião de emergência no escritório central. A justificativa? “Questões estratégicas urgentes.”Meu estômago embrulhou assim que soube que Damian estaria lá, sentado à cabeceira da mesa, com aqueles olhos âmbar que me perseguiam como um predador. Como sócia de Ethan, eu não podia me esquivar. Meu papel na empresa exigia minha presença, e fugir seria admitir fraqueza. Então, lá estava eu, no elevador de vidro subindo para o último andar, o coração batendo tão forte que sentia o pulsar nas têmporas. Minha loba rosnava, inquieta, sentindo a proximidade dele antes mesmo de eu entrar na sala.O ar condicionado gelou minha pele, mas não era o frio que fez meus dedos tremerem enquanto ajeitava o blazer cinza sobre o vestido azul-marinho. Ethan estava ao meu lado, alheio à tempestade que rugia dentro de mim, falando sobre proj

O uivo baixo e primal ainda ecoava em meus ouvidos, um som que fazia meu coração disparar e minha loba se eriçar. A floresta estava silenciosa, mas o ar pesava, carregado com aquele cheiro selvagem que me envolvera momentos antes. Meus pés descalços afundavam na terra úmida, o vento frio cortava minha pele, mas eu não recuei. Minha loba rugia, exigindo que eu avançasse, que descobrisse quem — ou o que — me observava das sombras. Cada músculo do meu corpo vibrava, alerta, enquanto meus olhos varriam a escuridão entre as árvores.— Mostre-se! — gritei novamente, minha voz rasgou a noite, mas o silêncio respondeu com uma quietude que parecia zombar de mim.Então, eu o vi. Um par de olhos dourados, brilhando como brasas, me encarava de trás de um carvalho retorcido. Um lobo negro, maior do que qualquer outro que já vir, emergiu parcialmente das sombras. Sua pelagem reluzia sob o luar, cada músculo delineado como se fosse esculpido em obsidiana. Meu peito apertou, o ar preso nos pulmões. M