— Obrigado pela comida — agradeci, recostando contra a cabeceira da cama, ainda com o gosto daquele tempero suave na boca. — Que bom que gostou — disse Sophie, sorrindo enquanto recolhia os pratos da mesinha improvisada. — O Noah é mesmo um cara de sorte — comentei, evitando encará-la diretamente e focando no prato agora vazio à minha frente. — Por que acha isso? — perguntou, curiosa, virando o rosto para mim. — Porque ele pode comer essa comida gostosa quando quiser — forcei um riso, tentando disfarçar a inveja que queimava dentro de mim feito febre. Ela baixou os olhos, mexendo nos talheres como se estivesse buscando coragem em cada movimento. — Na verdade... eu nunca cozinhei pra ele — disse, com a voz mais baixa, como se aquilo fosse um segredo. — Ele é quem sempre traz algo que ele fez pra mim — continuou, agora sorrindo como se lembrasse de algo doce — Pra falar a verdade... eu nunca cozinhei pra ninguém. Ela levantou os olhos, e naquele instante, havia algo diferente ne

Lara Narrando Andávamos de braços dados pelo campus, o sol filtrava pelos galhos das árvores altas, desenhando sombras irregulares sobre os nossos passos. As vozes dos outros alunos se misturavam num zumbido distante, mas minha atenção estava completamente voltada para ele. — Me fala uma coisa, Lucas — perguntei, virando o rosto em sua direção enquanto caminhávamos lado a lado — Vocês garotos preferem as certinhas, não é? Ele arqueou uma sobrancelha, confuso. — Uai… da onde veio isso agora? — Quero saber como as garotas podem agradar os garotos — disparei, sem rodeios. Lucas riu seco e olhou para frente, chutando uma pedrinha no caminho. — E vai adiantar alguma coisa você perguntar isso justo pra mim? — disse ele com uma certa amargura no tom — Um perdedor que não teve nem relacionamento e nem interação com uma garota nos últimos vinte anos... — Ah, cale a boca! — resmunguei, já sem paciência — Ontem você disse que ia me ajudar, então leva isso a sério, por favor! Ele parou

Lucas Narrando Enquanto ela vai ajeitando a mesa, fico só observando. Não sei o que deu em mim, mas senti um aperto no peito... um aviso silencioso. Como se a vida estivesse sussurrando que eu devia aproveitar aquele momento antes que ele acabasse. E aí, tudo começou a fazer sentido... ou a desandar. Minha namorada — que, na verdade, só finge ser minha — estava toda animada por preparar uma marmita pro Noah. Justo ele. O cara que namora a Sophie... que, por ironia cruel, é a garota que eu gosto. Lara estava linda. Como sempre. Usava sapatos baixos e uma saia curta num tom roxo quase lilás que dançava ao redor das coxas. A blusa branca com detalhes do mesmo tom abraçava seu corpo como se tivesse sido feita sob medida, revelando um pouco da barriga e, bom... um decote generoso que me fazia perder o raciocínio. A voz dela me arrancou do devaneio. Lara Narrando — Beleza — digo, aliviada após terminarmos de comer. — Agora é a hora da verdade. Suspiro e giro devagar. — O

Lucas Narrando E assim… nosso namoro de mentira acabou. Por mais que eu repita pra mim mesmo que era só uma encenação, um plano maluco que nunca daria certo… não consigo enganar o que sinto agora. Essa dor no peito, esse nó na garganta que me acompanha em silêncio. Essa vontade de chorar por algo que nunca foi de verdade, mas que de alguma forma… doeu como se fosse. Meus dias voltaram a ser o que eram antes. Mais tempo pra jogar, mais tempo pra mim mesmo, mais foco… e, mesmo assim, não ganho uma partida sequer. Nada funciona. Nada distrai. Nada preenche. Droga… Não precisava acabar assim. A gente podia ter continuado só fingindo. Só levando. Mas fingir começou a parecer mais verdadeiro do que o que eu realmente sentia por qualquer outra pessoa. Sabia que não ia dar certo. Sabia. Mas por que… por que estou me sentindo um completo babaca? Noah Narrando — Então quer dizer que você cozinha? — perguntou uma garota aleatória sentada ao lado da Sophie, com um so

Já fazia uma semana desde que eu me declarei para o Lucas. Uma semana desde aquele beijo. Uma semana desde aquela noite em que pedi para ele dormir comigo... de conchinha.E eu ainda não consegui superar.A cada hora livre, cada intervalo entre as aulas, cada silêncio que pairava no meu quarto ou mesmo em meio a uma multidão, minha mente voltava para aquela cena. O calor dos braços dele me envolvendo, o jeito como ele sussurrou “tá bom” antes de me abraçar. A forma como ele parecia caber tão perfeitamente em mim. Como se fosse... o lugar certo.Mas por que eu fiz aquilo?Eu gosto do Noah, não gosto? Sempre gostei. Ele é o garoto que todo mundo quer. O mais bonito, o mais atlético, o mais popular. O pacote completo. Então por que, diabos, eu me declarei para o Lucas?Me pego mordendo o lábio inferior e balanço a cabeça, como se o movimento pudesse expulsar os pensamentos incômodos dali. Volto a prestar atenção na Mel, que falava empolgada ao meu lado, sentada na arquibancada do ginásio