Lucas Narrando — Pode entrar — disse, dando passagem para Sophie com um gesto cansado, e logo fechando a porta atrás de nós. — Desculpa a minha reação — completei, soltando um riso fraco e envergonhado — É que… eu realmente não esperava que você viesse aqui só para cuidar de mim. Ela sorriu daquele jeito que fazia os cantos dos olhos se curvarem suavemente. — Que isso — respondeu, levantando as sacolas que carregava com uma leve sacudida. — É que a Lara disse que tinha umas coisas para resolver e me pediu pra vir cuidar de você. Aquelas palavras me pegaram de surpresa. A Lara pediu para ela vir? Fiquei parado por um instante, tentando processar, com o coração um pouco aquecido sem saber bem o motivo. — Obrigado, Lara — pensei em silêncio, com um sorriso discreto escapando antes que eu conseguisse segurar. Sophie caminhou até a pequena mesa da cozinha americana e começou a tirar as coisas das sacolas. O som dos plásticos sendo abertos se misturava com o chiado suave da chu

Sophie Narrando Não tiro da cabeça a reação de Lucas... aquele abraço, aquele quase-beijo. Balanço a cabeça, tentando expulsar o pensamento, mas é inútil. A verdade é que... eu queria que ele tivesse me beijado.Termino de lavar a louça, seco as mãos com calma, organizo minhas coisas e me aproximo do quarto dele. A luz está apagada, mas eu precisava vê-lo mais uma vez. Só para me despedir. Só para confirmar se ele estava bem. Ou talvez... só para ver seu rosto.— Lucas, você já dormiu? — pergunto baixinho, cutucando de leve seu braço, para ter certeza.Ele não responde. O silêncio parece me dar permissão para continuar.— Você finalmente tomou uma iniciativa... — sussurro com um sorriso, me sentando na beira da cama — Uma pena que não teve coragem de ir até o final...Observo seu rosto adormecido. Ele parece calmo, sereno, até mais bonito de perto.— Quando me puxou... eu queria tanto que você me beijasse que minha mente ficou em branco. Eu não soube reagir... — minhas palavras saem

A comida ainda estava fresca, espalhando um cheiro reconfortante de temperos caseiros misturado ao leve aroma do bacon grelhado. Estávamos sentados num canto tranquilo do campus, sob a sombra de uma árvore de folhas largas, e mesmo com a brisa leve daquela tarde de quarta, o clima estava tenso — e tudo por causa de uma marmita. — Não é nada, meu amor — murmurei, tentando disfarçar a culpa que escorria pela minha voz. Forcei um sorriso fraco, mas a expressão dela permanecia firme. — Desculpa. Lara cruzou os braços devagar, encostando um dos ombros no tronco da árvore, como se o peso da dúvida também se encostasse nela. — Você tá devendo pra tá se desculpando — disse ela, o olhar estreito me analisando com desconfiança. Engoli seco, desviando o olhar para o chão, procurando por palavras como se elas estivessem escondidas entre os pedregulhos da calçada. — Não é que… — comecei, voltando a encará-la — Estávamos falando da aura, e não da Lara… Gabriel, como sempre alheio ao dra

O corredor do alojamento estava silencioso, iluminado apenas por algumas lâmpadas fracas no teto. Meus passos ecoavam levemente no chão de madeira encerada. O ar parecia mais denso, carregado por uma mistura de nervosismo e ansiedade que só aumentava conforme me aproximava do dormitório feminino. Ao chegar em frente à porta do quarto da Lara, respirei fundo uma última vez e bati. A porta se abriu devagar, e foi ela quem apareceu. O olhar cansado, vermelho. Nenhuma palavra. Ela apenas me viu, deu um passo para o lado e voltou para a cama. Sentou-se, abraçando os joelhos, e afundou o rosto entre eles. Aquela imagem… não era a Lara que eu conhecia. Fechei a porta atrás de mim com cuidado e caminhei até ela. — Não fica assim… — disse em um tom baixo, quase culpado — Na próxima você pega ele. Ela ergueu ligeiramente a cabeça, os olhos ainda escondidos pelo cabelo caído. — Então quer dizer que o Noah gosta de coisas doces… — murmurou. Não ficou claro se estava falando comigo o